Num comentário hoje aqui publicado, o FAR chama a atenção para a campanha anti-José Eduardo Agualusa desencadeada pela cáfila do outro José Eduardo, o Zé Du. Esse mesmo, cuja filhinha é, nem mais nem menos, uma das principais accionistas do novo banco português. Que a corrupção, a cupidez e a tirania do regime angolano não têm limites, já se sabia. Parece que só o Jerónimo de Sousa é que não sabia, e vá de tecer rasgados elogios ao regime angolano, no termo de uma recente visita a Angola. Deve andar distraído! Mas não é só ele. A esquerda portuguesa continua a investir numa postura grunhófila, com cagaço que lhe chamem neo-colonial (insulto favorito da luminária Mugabe). A intelectualidade nacional assanha-se contra o regime de Harare, sem reparar que em Luanda a situação é bem pior. E quem fala de Luanda, fala de Maputo, onde o presidente Armando Guebuza vai apertando a rosca ao garrote. Ainda há dias um relatório dos Repórteres Sem Fronteiras anunciava que Moçambique caiu dezenas de lugares no concerto das nações, em termos de liberdade de imprensa. Por cá, o relatório passou despercebido, se não ignorado. Prefere-se dar ouvidos à intelectualidade do regime, que, infelizmente, mia pouco, borboleteando nas imaginâncias em vez de chamar os bois pelos nomes. E os nomes são miséria, corrupção, nepotismo, filha da putice institucionalizada. Mete nojo ouvir falar dos “cheiros de África” em tom saudoso, porque a África de hoje cheira a cadáver e a disenteria. Mete nojo ouvir falar no camarão-tigre, enquanto lá os putos da rua vasculham os montes de lixo em busca dos restos do “banquete das hienas”. Mas, é claro, há vozes de revolta, como o rapper Azagaia. Não admira que a Procuradoria da República, em Maputo, o tenha intimado a explicar-se sobre a letra da canção “Povo no Poder”, alusiva às manifestações contra o aumento do preço dos “chapas”, em Fevereiro. Para ver se a letra continha passagens apelando à violência. Como se a revolta não fosse um dever cívico, quando a tirania se torna inenarrável. Em boa hora o Armando reproduziu aqui uma canção do Azagaia, e em boa hora o FAR apela a uma campanha contra a censura e as perseguições (a artistas e não só) nas antigas colónias. Basta de paternalismo! Ser amigo de África é denunciar sem reservas os regimes corruptos e tirânicos, e a pretensa intelectualidade que os apoia. É isso que os africanos, ingenuamente talvez, esperam da Europa. E dos portugueses em particular. Outra coisa é ser cúmplice.
José Pinto de Sá
9 comentários:
A cena da denúncia da inquietante situação política e pessoal do escritor angolano José Eduardo Agualusa começou no blogue do FJViegas, há mais de três semanas. E morreu por ali, creio. Temos que alertar e solidarizar-nos activamente com as Lutas pela Liberdade de Expressão nos PALOP. A situação é reveladora do grau de compromisso da élite intelectual lusa e brasileira para com os governos em funções, especialmente de Angola, Moçambique e Guiné-Bissau. Isso tem que ser desmascarado, ou todos perdemos a face. Razão expressa-a o Mikhael B.: " A escravatura política, o Estado,reproduz por sua vez e mantém a miséria, como uma condição da sua existência, de tal modo que, para destruir a miséria,é preciso destruir o Estado ". Liberdade ou a Morte! Grande tribuna esta do JP de Sá. FAR
Falo do que sei:
Em Moçambique, logo apóa a morte de Machel ( coincidências ) a pequena burguesia nacional decidiu deixar-se de mas mas e avançar sobre os bens disponíveis: O comércio, a pesca, a miserável agricultura, inscrever o país na Commonweath inglesa..., vender ao desbarato TODA a indústria nacional, fazer acordos de entrega de terras aos boers da A.S. e do Zimbabué,acabar de nacionalizar qq réstea de bens dos portugueses ( os mais fracos) e continuar a viver como estado pedinte: O total das dádivas internacionais continuam a ser mais de 50% do OGE !
O que fez a Europa e nomeadamente Portugal ?
Absolutamente nada.
Ao contrário, fazem de conta que aquilo é um paraíso prometido, onde se podem fazer investimentos no turismo, em resorts... ( à volta, o povo vive no século XVI ou XVII, mas os dirigentes vivem em condomínios fechados, gradeados e vigiados 24/24h, com piscinas e saunas.
Outro dia virá, e o povo desses países adiados vai ter uma palavra, seja na difusão duma outra religião , seja na definição do verdadeiro inimigo.
MFerrer
Convem não confundir alhos e bugalhos. A monstruosidade dos regimes africanos (em Angola, Moçambique, Guiné-Bissau...) não legitima a monstruosidade do colonialismo português, cujo derrube só pecou por tardio. O colonialismo portugês não era o colonialismo bom, porque isso é coisa que nunca existiu. Era, sim, um sistema racista hediondo, que não pode deixar margem à nostalgia e ao revisionismo. Nostalgia de quê? Da palmatória? Dos colares de orelhas de pretos?
José Pinto de Sá
Era bom de ver! A Frelimo já desencadeou a repressão contra os artistas e intelectuais mais despenteados, e naturalmente começou pelos músicos, os mais perigosos, porque os mais ouvidos. Primeiro a Procuradoria intimou o rapper Azagaia a explicar a letra de uma canção. Agora, anteontem, o secretário-geral da Frelimo,Filipe Paúnde, recuniu com a Associação dos Músicos Moçambicanos (AMM) para exprimir a preocupação do seu partido perante as "novas tendências" no sector, conforme relata a edição de hoje do diário on-line mediaFax. Ao que parece, Paúnde está sobretudo inquieto com a nova geração de músicos, que conciderou "pouco responsável". Embora Paúnde tenha evitado referir-se directamente a Azagaia, concentrando os seus ataques nos "conteúdos obscenos" de algumas canções, o mediaFax afirma que a reunião do sujeitinho com aquela orgaização burocrática demonstra a preocupação do poder perante a "escalada de intervencionismo explícito" que se faz sentir na música moçambicana. Falando ao diário, um músico comentou que o conciliábulo nojentóide não passou de "um aviso à nevagação". Como quem diz: ou se axandram, ou a seguir vem pau.
José Pinto de Sá
Isto não dá para todos! Logo, alguns safam-se, outros não.
Como se preconizava antigamente "uma cabeça, um voto", hoje, basta desejar "um país, um rico". Ora, África está acima da média. Há tempos Angola figurava no hit parade como o país que mais ricos produziu em menos tempo.
E os pobres? Podem fazer como nas telenovelas. Fazem filhas bonitas e honestas para casar com os ricos.
Uma revolução não resolveria nada.
Estou admirado pelo informado FAR não ter postado fotos do acontecimento do momento - o casamento de Jenna Bush. Isso sim é grandeza e o dia esteve soalheiro..
Este e o Jose Pinto de Sa que andava em engenharia civil (EDM) em 78/79?
cuca
grande título
Resposta a Cuca:
Não, o de engenharia civil talvez seja o José Luís Pinto de Sá, que esteve ligado ao IST e publicou um livro de memórias que gerou vivo debate, no PÚBLICO e não só. O José Luís é meu primo directo mas não o conheço pessoalmente, embora tenha por várias vezes comunicado com ele por telefone e e-mail. De engenheiro só tive o pai; fui jornalista durante trinta anos, agora traduzo livros. Em 1978/79 eu estava em Moçambique (a construir o Poder Popular, como dizíamos na altura), e por lá vivi até 1998.
Por falar em Pinto de Sá, aproveito para cumprir o triste dever de anunciar a morte do Francisco Pinto de Sá, antigo combatente da LUAR e pai do Carlos Pinto de Sá (presidente da Câmara de Montemor-o-Novo pela CDU). O velho Francisco morreu há dias, e foi cremado em Elvas.
José Pinto de Sá
Gostei do teu blog, primo!
É curioso ver como são sempre os que acreditaram na bondade da revolução desinteressada quem melhor denuncia a sua corrupção. Koestler, o autor do fabuloso Darkness at Noon (o Zero e o Infinito, na tradução portugesa), militara no POUM da guerra civil espanhola; e "O livro negro do comunismo" foi escrito por gente de esquerda...
Dói muito, eu sei...
E a propósito, em 78/79 eu era estudante de engenharia, de facto, mas Electrotécnica, e no IST.
Um abraço!
José Luís Pinto de Sá
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