terça-feira, 6 de maio de 2008

Sade, Bataille e a exaltação erótica

O erotismo de pacotilha prolifera. A blogosfera está cheia de maus exemplos. Repetem-se os mesmos erros, por ouvir dizer e recusa de ir ler. O aproximar do clímax da Primavera leva-nos a uma releitura dos males e omissões que envolvem o divino Marques e Georges Bataille, que queimaram a vida e sublimes afectos por libertação, sem cálculo nem limites.De um texto muito belo e profundo de Annie Le Brun, uma espécie de O´Connor das letras francesas, esta sequência magistral sobre o que afasta e converge nas obras dos dois monstros sagrados da Literatura e da Filosofia.
" Sei que se tornou impensável dissociar Sade de Bataille, ou mais precisamente de não adorar a imagem que Bataille nos fornece de Sade, se bem que o autor das Lágrimas de Eros não hesite a confundir as suas preocupações eróticas com as de Sade.
" Claro, Sade e Bataille encontram-se ao pôr em destaque a exaltação erótica ligada aos excrementos, a toda a espécie de degradação, mesmo ao assassinato. Um e outro parecem conceder à transgressão um mesmo poder de deflagração erótica. Apesar de tudo, a visão erótica de Sade, essencialmente ateia, não se pode ligar com a de Bataille, essencialmente mística, para não dizer religiosa.
" Retomemos a famosa formula que é o ponto de partida da reflexão de Bataille: " Do erotismo, é possível dizer que é a aprovação( garantia, experiência) da vida até à morte ". Proposição que ele se aplica de imediato a precisar, mesmo a fundar/ancorar, reclamando-se de Sade, através de duas citações do divino marquês.
" O segredo não é ,infelizmente, contestável, observa Sade, já que não existe um libertino um pouco metido no vício que não saiba quanto o assassinato exerce uma atracção sobre os sentidos…E Sade escreve ainda, refere Bataille, " Não existe melhor forma para nos familiarizarmos com a morte, que fazer tudo para a aliar a uma ideia libertina ".
" Livre-toi, Juliette, livre-toi sans crainte à l´impétuosité de tes gouts, à la savante irregularité de tes caprices, à la fougue ardente de tes désires; échauffe-moi de leurs écarts, énivre-moi de tes plaisirs; n`aie jamais qu´eux seuls pour guides et pour lois; que ta voluptueuse imagination varie nos désordres ".
In " Soudain un blocabîme, Sade", Gallimard. Folio-Essais.

FAR

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