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terça-feira, 29 de janeiro de 2008

"Um país de mal dizentes e de lambe-botas."

« "Um país de mal dizentes e de lambe-botas." Não partilho de uma visão derrotista relativamente ao Povo Português. Muito pelo contrário. Penso que o Povo Português tem um enorme bom senso e muita experiência acumulada ao longo dos quase nove séculos de história que tem atrás de si: uma cultura inata, que lhe faz escolher, normalmente bem, as opções a seguir, em especial nos momentos decisivos.

E, no entanto, há umas franjas, que às vezes se tornam muito visíveis, ainda que hiperminoritárias, de sinal contrário: os lambe-botas e os maldizentes. Os "lambe-botas" são os que estão atentos aos sinais do poder, sejam quais forem - político, económico ou cultural - para, em genuflexão, colherem umas migalhas que caiam do poder. Às vezes migalhas, outras grandes benesses, conforme o jeito e o estatuto dos artistas da genuflexão.

Por outro lado, os maldizentes profissionais, que se comprazem em dizer mal de tudo e de todos, em especial da Pátria. E dos governos, claro, sejam quais forem. Sem se importar com o que vem depois. É a política do quanto pior melhor. Por feitio, azedume, por estarem mal com a vida e com eles próprios.

Uns e outros são nefastos, naturalmente. Os lambe-botas mais do que os maldizentes. Mas deixemo-los falar, com a tolerância possível, enquanto a caravana passa
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Mário Soares. Diário de Notícias 29/01/2008

domingo, 10 de junho de 2007

Soares Todo-o-Terreno

“O neoliberalismo deu às pessoas a ideia que o mundo é uma selva e a selva é para os mais fortes, que se alimentam dos mais fracos. É o que se chama o ‘darwinismo social’. A força, aliás, não se mede pelo músculo, mas pela carteira. Cada vez há mais pobres e maiores desigualdades(...)”
(Como define a relação que existe actualmente com o dinheiro?)

“Desde que há novas normas de segurança, deixei de ir. Já tive vários convites, mas não estou disposto a estar ali horas a ser fiscalizado, a preencher papéis e a responder às perguntas, nem sempre inteligentes, que os agentes fazem na fronteira”
(Tem ido aos Estados Unidos?)

“(...) Sócrates acumulou demasiadas más vontades. Na classe média, no povo, no seu eleitorado tradicional. È tempo, julgo, de corrigir o rumo, pensando mais à esquerda. É daí, de resto, que vai soprar o vento, vindo donde menos se esperaria: da América do Norte."
(Quais os ministros que não funcionam?)

“(...)Gosto dos meus compatriotas, mulheres e homens, gosto de sentir o calor do entusiasmo popular e entendi-me particularmente bem com os jovens. Com os da minha faixa etária é que foi8 o diabo: não compreenderam a minha insistência. Achavam que devia estar, como eles, a ver televisão, com uma manta sobre os joelhos." (Quando fez a sua última campanha presidencial, sentiu o gosto de voltar a ter o contacto da rua?)

“(...)no meu sistema racional o problema de Deus não se encaixa. Acreditar que há um Deus que está algures, no universo, para recompensar e julgar as pessoas que andam cá por baixo é algo que para mim não faz sentido. Como não faz sentido a imortalidade da alma. Com o que conheço da ciência não faz sentido. Não creio na existência de um Deus, muito menos antropomorfo.(...)”
(Tem alguma nostalgia da não crença, de não acreditar em Deus?)

“(...)Digo sempre a verdade. Melhor: aquilo que penso ser a verdade. Como não tenho nada a ganhar e nada a perder, sinto-me muito solto e livre. E gosto de partilhar a ampla experiência que adquiri ao longo da vida. È uma forma de dar aos outros aquilo que recebi dos outros, que foi imenso.(...)”
(Politicamente, quer fazer outras coisas?)

Excertos da entrevista de Cândida Pinto e Clara Ferreira Alves. Única. Expresso de 9/06/2007