quarta-feira, 6 de junho de 2007

O álibi da Mundialização

Só a timidez inacreditável do nosso PR, Cavaco Silva, explica o facto de ter balbuciado algumas frases sobre o processo da Mundialização, caixa de surpresas e venenos que agita o Mundo...E que só por regulação democrática evitará o caos.

O stop and go da economia mundial e os encantos ilusórios de uma desvairada Mundialização, abertura de fronteiras e reclassificação tecnológica pela deslocalização de parte substancial do aparelho produtivo de baixa qualidade para a China e a Índia, criam embaraços a toda a gente, sobretudo em países como Portugal que abandonaram um projecto nacional de qualificação industrial. Ora, hoje a inovação afasta os países fracos e dependentes e acentua as desigualdades sociais e interterritoriais - mesmo em países enquadrados num conjunto supranacional de impacto como o é a União Europeia. Na Feira Nacional da Agricultura, Cavaco Silva frisou, no encadeamento de declarações caladas de imediato por auto-reflexo, que a Mundialização vai continuar a criar oportunidades... com vencidos e vencedores. Ele bem queria dizer isto, mas o bom senso e a responsabilidade da função ocasionaram o não dito. Quem é que ficou sossegado: ninguém, claro está; sobretudo os que se batem com os problemas da economia real: li no Público que um telefone ainda demora 6 a 7 semanas a ser instalado para unidades comerciais e industriais.

Justamente, a 24 de Maio último, o Wall Street Journal, a bíblia do capitalismo da Quarta Vaga, publicou em duas páginas um artigo/ reportagem enorme, intitulado "Resultados inesperados: a Mundialização aumentou e fez disparar as desigualdades de rendimentos "Caiu o Carmo e a Trindade e os cronistas do NY Times saíram a terreiro para se congratularem por este acesso de realismo demonstrado pelo firme defensor dos capitalistas, o WSJ. O que se passa? Será mais uma operação diabólica da famigerada dupla Bush/ Cheney e acólitos? Trata-se de atirar poeira para os olhos dos incautos e "estimular " o aceleramento da economia mundial? Adam Smith e David Ricardo foram ressuscitados para afastar a "maldade" dos bajuladores da economia de mercado sem fronteiras?

O que se passa e sabe é bem mais prosaico, claro. E os economistas do WSJ apontam: "Os pobres trabalhadores do Terceiro Mundo não são favorecidos pela mundialização. Porquê? O trabalho para que são aliciados, sem seguros e com preços irrisórios, é, num período mais ou menos breve, deslocalizado, de novo, para outros países ainda menos desenvolvidos ". E vai mais longe a análise do WSJ: "O argumento da globalização que move os seus entusiastas não colhe: a deslocalização iria forçar a mão-de-obra despojada a tentar nova formação. Isso não passa de um álibi. Custa a reconhecer que a Mundialização desencadeia um processo em que os trabalhadores com formação, os directores e os gestores de topo (isto já acontece) acabam por certificar-se que, também eles, podem ser trocados por outros ". O NY Times refere um colóquio realizado em Veneza, no passado fim-de-semana, com o intuito de incentivar a restauração dos contrapoderes e da justiça social, por forma, frisa William Pfaff, que sejam colocadas " paragens num processo que constitui a mais desestabilizadora força do Mundo desde a Segunda Guerra Mundial".


FAR

6 comentários:

Anónimo disse...

Coucou, eis-me de novo ao ataque. Vim ver a Nettheca da Uni de Stuttagrt, à sombra de Hegel, Schiller e Hölderlin, claro. E encontrei o artgo do WS Journal: peca acutilante com apoio em estudos de peritos da Uni de Yale, do famoso jornal de Econmic Literature; e também de um think tank( como o nosso JPP deve gostar...)inglês, o Overseas Development Institute. O Cavaco está mesmo na onda...e o Sócrates que se cuide ou arme para estar prevenido. Salut! FAR

Sérgio de Oliveira disse...

Armando :

Qual, então , a alternativa ?

Armando Rocheteau disse...

Caro azul dragão:

Para mim a alternativa é verde. O casal Rosenberg deixou em testamento aos filhos: "verde e alegre, alegre e verde será o mundo sobre as nossas campas". Cito não sei se o Politzer, se André Delvaux.
Permaneço fiel a essa herança que o engº Sócrates actualiza.
Neste bogue pertenço à minoria verde e socrática.
Abraço

Anónimo disse...

O Prof. Cavaco está-nos a dar já a volta para arecandidatura. Como é um corredor de fundo e da mariposa, lá anda ele com o seu fleugma e a incontroversa atitude da formiguinha laranja de alta perfomance. E nós a vê-lo citar as boas intenções dos humanistas do WSJ, das think tanks inglesas mais espectaculares... Só lhe falta preconizar o regresso ao Jovem Marx! A manobra está de grande estilo e a parecer-se com aquela intenção de que ele, ACS, é membro activo da Esquerda Moderna. Qute coisa linha agora pelo santo António!!! Esperamos um salto para a frentex do Sócrates,como é evidente !. FAR

Anónimo disse...

Que coisa linda agora... era a correcção da frase, das 6 da matina. FAR

Sérgio de Oliveira disse...

Armando :

Eu também adoro poesia.
Mas quantos, como nós , a adoram ?



Um abraço