segunda-feira, 4 de junho de 2007

Da Capital do Império

Olá!
Sei que esta carta vos vai apanhar um pouco de surpresa mas estou de volta mais rapidamente do que o costume para vos dar uma excelente notícia: vou à reunião na Alemanha dos 8 Governadores, a que eu chamo também reunião dos 8 Gajos e que todo o mundo conhece por G 8.
Vou tentar mandar-vos de lá crónicas diárias sobre este importante acontecimento anual em que milhares de jornalistas comem e bebem à borla durante dias, milhares de beneficiários da globalização congregam-se para protestar contra a globalização e os 8 Governadores recebem tributo de dirigentes dos PPD (Países Perpetuamente em Desenvolvimento), prometendo depois mais ajuda que nunca é suficiente para o cada vez maior número de ordens missionárias, hoje conhecidas pelo nome de Organizações Não Governamentais. É bacano! Este ano disseram-me que vai lá estar também um representante do novo PEF (País Eternamente do Futuro) que agora, como vocês sabem, é a China. O anterior PEF se vocês bem se recordam era o Brasil que foi substituído pela China porque a malta das favelas chateou-se de esperar pelo futuro e está gradualmente a transformar toda a nação em EPEF (Este País É Foda).
Os que eu gosto mais nas reuniões dos 8 Governadores são os missionários e os manifestantes globalizados antiglobalização. Um tipo detecta-os logo no avião a caminho do local onde os 8 Gajos se reúnem. Os globalizados antiglobalização viajam de avião que é agora barato e comum graças à globalização, estão geralmente armados com celulares, computadores, casaco estilo militar preferivelmente verde-escuro e muitos deles, principalmente as gajas, gostam de usar à volta do pescoço aquelas toalhas de mesa encarnadas e brancas que os palestinianos usam à cabeça. É um toque “trés gauchiste” da moda bem parisiense do cachecol ao pescoço. Tenho a dizer-vos que no que diz respeito aos cachecóis os franceses globalizados antiglobalização têm o mesmo “panache” que o resto dos parisienses. Ninguém no mundo consegue pôr um cachecol à volto do pescoço como os parisienses. Tem um “je ne sais quoi” que me faz inveja porque quando eu tento pôr um cachecol parece-se sempre a corda de um gajo prestes a ser enforcado.
Tenho no entanto a assegurar-vos que eu não vou usar toalha de mesa palestiniana à volta do pescoço. Não porque não goste das toalhas de mesas dos palestinianos. Mas, não sei lá porquê cada vez que passo num aeroporto alemão sou sempre escolhido para vistoria especial. Uma vez em Frankfurt já depois de ter sido levado para um quarto especial onde só não me meteram o dedo no tal local porque – penso eu – os policias não acordaram em quem o deveria fazer, fui depois parado quando ia a pé de um terminal para outro por dois Polizei. Uma com uma metralhadora e outro com uma pistola e um lobo da Alsácia. Quiseram ver os meus “papir” e depois vistoriaram-me a mala de mão enquanto um deles falava para o microfone preso ao ombro. Eu não percebi patavina do que diziam e estava cada vez mais apreensivo à espera de ser levado ao Oberstrumfurher (ou lá como é que se diz sargento em alemão) por causa dos meus “papir” quando um dos Polizei detectou os meus travelers cheques e disse: “Ah! Kapitaliste”. Foi o degelo e ainda hoje agradeço à American Express. A Polizei que falava ao microfone repetiu qualquer coisa como “Americanshe travelers cheques” com um ar aliviado. Isto apesar do lobo de Alsácia não ter ficado convencido pois continuou sempre a olhar-me nos olhos e a puxar pela trela como que a dizer “agarrem-me ou eu rebento com este gajo”. Um amigo meu sugeriu que corte a barba afirmando que “porra com essa barba pareces um imã árabe”. Eu dei lhe uma lição sobre como nem todos os muçulmanos e/ou árabes são terroristas embora tenha que concordar que quase todos os terroristas são muçulmanos e/ou árabes.
Mas isso são outras histórias. O que eu gosto nestas conferências dos 8 Gajos é ir às conferências de imprensa das organizações missionárias e fazer perguntas estúpidas. Os Oito Gajos geralmente nunca aparecem ou se o fazem é só no fim pelo que até ao fim da conferência a malta diverte-se a rescrever “press releases”, a passear e a ir a conferências de imprensa das organizações missionárias que têm sempre montes de criticas a fazer aos chefes da brancalhada. De vez em quando eu gosto de ir ver a porrada entre os globalizados antiglobalização e a policia. Há uns anos atrás encontrei um policia com humor que estava a fumigar com “pepper spray” uns gajos com toalhas de mesa palestinianas a tapar a cara. “Pepper Spray” como vocês sabem é uma excelente invenção da humanidade pois pode ser espalhada a curta distancia estilo insecticida, directamente na cara de um globalizado antiglobalização. É uma espécie de gás lacrimogéneo mas que é feito com gás de pimenta. Quando eu perguntei o nome ao polícia que usava o spray ele respondeu-me: “Sargeant Pepper” e depois apontando para o resto dos policias acrescentou: “and that is the Lonely Hearts Club Band”. Valeu a viagem! Isto porque ao mesmo tempo um globalizado antiglobalização resolveu tirar as calças, baixar-se, virar o rabo para os polícias e gritar “Spray here, you pig”. Um policia num carro com uma mangueira deu-lhe uma chuveirada no dito cujo perante o gáudio da malta da imprensa. Depois a coisa descambou em porrada e eu fui-me embora
Mas, voltando às conferencias de imprensa. Na Escócia há dois anos atrás uma senegalesa de uma dessas organizações ia-me linchando e um dos outros missionários acusou-me de fazer “perguntas do George Bush”. Isto depois de eu ter perguntado porque é que os 8 Gajos deveriam dar mais ajuda a África se desde 1964 já foram dados 500 mil milhões de dólares. Ena pai! A missionária começou a dar-me lições sobre os males da brancalhada para o mundo e depois ia atirando-me com o microfone quando ela mencionou 50 mil milhões de dólares de ajuda e eu interrompi para dizer 500 mil milhões. “Don’t interrupt me” disse ela furiosa por eu fazer questão em sublinhar um erro de um zero. A coisa ia descambando totalmente quando eu lhe disse que não estava a interromper mas somente a corrigir. Ao fim e ao cabo 100 mil milhões aqui e cem mil milhões ali, estamos a falar de dinheiro a sério! Ena Pai! Não gostou a senegalesa. Fui acusado não só de fazer “as perguntas do George Bush” mas também de ser arrogante. Não me chamaram de racista mas ficou a pairar no ar. Mais tarde uma outra missionária mais calma informou-me em privado que as “mulheres senegalesas são um terror” e “não gostam de receber ordens de homens” e que “quem manda no Senegal são as mulheres”. Não sabia mas fiquei a saber. Não sei se terei coragem para perguntar isso ao “Inevitável Wade”, o presidente do Senegal que não perde uma oportunidade para estar em todas as grandes conferências e daí o seu primeiro nome: Inevitável. Vai lá prestar tributo aos 8 Gajos. Penso que vai lá também pedir massa. O que é que vocês acham?
Não creio que terei paciência para aturar o Wade mas espero que os missionários da Action Aid dêem uma conferência de imprensa este ano. Estive a ler o relatório deles em que afirmam que os 8 Gajos “devem” a África uma porrada de massa (!!) porque não cumpriram promessas de ajuda feitas na Escócia há dois anos atrás. Eu quero perguntar-lhe se os 8 Gajos podem – talvez na próxima reunião – pedir o perdão dessa dívida a África ou então pelo menos reescaloná-la com juros porreiros.
No lado calmo da questão estou desejoso de saber o que é que os alemães vão dar à malta da imprensa. Eh pá na Escócia o governo do Tony Bla Bla tratou-nos como reis e rainhas. (É por isso que eu cada vez mais sou mais monárquico). Comida à borla, bebida à borla e no final da conferência uma garrafa de whisky single malt do mais caro a cada jornalista. Deu confusão total porque houve malta que foi para a bicha duas e três vezes. A capacidade criativa das massas nunca deixou de me impressionar!! Quando chegou a minha vez já tinham iniciado um plano de acção para impedir a fraude carimbando a credencial de imprensa. Porra!
Livrou-me o facto de ter conhecido uma jornalista tunisina que por razões de Maomé não bebe. Meti-a na fila com a promessa de lhe pagar uma laranjada no fim. Alguém da Lusitânia acusou-me de fazer um “negócio da China” e isso fez me sentir todo orgulhoso porque como já vos disse a China é agora o novo pais do futuro o que mostra que eu estou na jogada.
Logo que lá chegar digo-vos qualquer coisa sobre o que é a Ângela nos tem para oferecer.

Abraços
Da Capital do Império

Jota Esse Erre

1 comentário:

Anónimo disse...

Eu não pago nada para
isso e se pudesse estava
do outro lado a atirar
embrulhos de mérda p'rós
"G8" (guys8) que alinham
no evento de uma forma ou
de outra! Vai... vai... e
diverte-te! Manda é as
tais crónicas, Joe!
Abraço, John S.R.!