quarta-feira, 27 de junho de 2007

RJIES

Mantendo a linha a que nos tem habituado, Sócrates decide agora atacar pela raíz o Ensino Superior. A escolha sempre astuta da época de exames é tão tradicional que não espanta, mas a mudança de base que se propõe e que vai ser imposta sem discussão é vergonhosa e perigosa.
O novo Regimento Jurídico para as Instituições do Ensino Superior (RJIES) é um atentado aqueles a quem supostamente a escola interessa: os estudantes. A lógica capitalista não perdoa, interessa é lucrar.
Assim, depois de existirem pelo menos 12(!) versões do novo RJIES (manobra suja para que não haja a mínima condição de união do movimento estudantil), as poucas coisas em comum não animam ninguém: retirada dos estudantes de todos os orgãos (pedagógico, etc) e substituição das bolsas por empréstimos (ah! O doce sabor da meritocracia! Viva a liberdade dos 400 euros por mês!) que se começam a pagar assim que se chumba. Todas as medidas valem para privatizar (e dar competitividade, flexibilidade e outros -ades fofinhos e pomposos) e escravizar o ensino à lógica da inevitabilidade do mercado, do desemprego e da precariedade.
As AE`s do PS vão fingir que refilam porque, afinal, são estudantes e até ficava mal não fazerem nada. As do PSD vão lutar contra o governo sem se lembrarem que todas estas medidas seriam aplicadas por um governo seu (desde que fornecido de orgãos genitais externos). As do PCP e do BE nunca se vão entender.
Mas amanhã, na manifestação junto à Assembleia, todas sairão com o sabor do dever hipocritamente cumprido. É urgente um Movimento Estudantil revitalizado e lutador. Que não vá às manifestações de hora marcada, como se fosse só um comic relief. O que se está a passar é grave, muito grave. É um passo perigosamente grande para colocar uma barreira definitiva no acesso igual à educação. Depois de anos e anos de cortes orçamentais, a medida é drástica e definitiva: as Universidades e os seus...clientes estão à venda. Ficaremos à disposição dos investidores e das necessidades económicas (no fundo, todos peças do grande puzzle do "a vida está difícil" de um lado e dos lucros astronómicos do outro). A saída dos orgãos de gestão diz tudo: o que pensamos não interessa. Há montes de cabeças inteligentes a pensar por nós, já dizia o José Mário Branco.
Amanhã vou lá estar na mesma. Apesar de sonhar com um Movimento Estudantil completamente diferente. (E com outro país e outro mundo também completamente diferentes)
Em 2009 há eleições. Não se esqueçam de votar neste socialista que não estudou nem deixa estudar.


Manuel Neves

1 comentário:

FernandoRebelo disse...

Agora estou a comentar.
Até podia 'postar' assim qualquer coisa de mais substancial mas o Verão está aí e eu acuso-o.
Ninguém acredita nas AE's das nossas Universidades. Confundem-nas logo com as Tunas, com as Praxes e com as Queimas e as Bençãos. Ou seja, com Fitas...
Esta coisa de AE's ou se cultiva a partir do ensino secundário ou, então, não vale a pena. E é sabido que, de há umas décadas para cá, a AE do ensino secundário é o expoente da mediocridade (salvo honrosas excepções): a campanha eleitoral inclui desfiles de moda, música a bombar e outras manifestações de carácter 'pimba', 'grunho', o que lhe entenderes chamar.
Não há ideias ou propostas concretas, é o deserto completo.
Estes alunos que dão o nome por um projecto(?) não pretendem nada para a escola que hão-de deixar atrás de si. Só lá voltam (os que voltam) para que lhes assinem as fitas...
Na Universidade continuam na senda individualista (perdoa-me a generalização...). Cada um trata da sua 'vidinha', amanha-se com a Instituição.
Não têm nada que ver com Ideias e estão cada vez mais longe das Utopias.
«We want the world and we want it.../We want the world and we want it... Now!», reclamava Jim Morrison.
Não sei, meu amigo, onde iremos parar assim.