terça-feira, 12 de junho de 2007

Status quo

As desigualdades começam quando falha o Ensino.
As gentes chegam à Escola carentes de Educação. Vêm em bruto. Os agentes do Ensino vêem-se e desejam-se para retirá-los deste limbo. Lutam contra milhentos inimigos, todos reconhecidamente muito mais poderosos.
O Estado desinvestiu claramente no ensino básico.
Mantém a fachada: paga a uns quantos educadores de infância e aos professores, decreta programas oficiais e inspecciona.
A coluna vertebral do sistema educativo do nosso país está entregue a um conjunto de boas vontades: autarquias, associações de pais e ao trabalho de cada professor. Os meninos e as meninas chegam à escola e fazem o que bem lhes apetece, ai do professor que os tente pôr na ordem. E por esta expressão quero dizer: ensinar a estar. Apenas isto. Este país anda a malbaratar os seus recursos: paga a pessoas que tentam ensinar a estar uns vinte e tantos maduros na casa dos 15 ou mais anos e que frequentam o 10º ano de escolaridade. Estes nossos concidadãos que têm agora 13, 14 e mais anos andam pelas salas de aula das escolas do ensino público a exaurir recursos que este país não tem.
Nada aprendem, nada pretendem aprender.
Vão à Escola porque são obrigados pelos pais. Ali é quase de graça, uma 'baby-sitter' cobra à hora e na hora.
Os próprios pais têm da Escola a visão que ainda retêm dos tempos em que por lá passaram: aquilo é uma chatice, depois é uma questão de 'cunhas'. Falo da nossa escola pública em meio suburbano...
E temos uma vantagem: a Escola tornou-se um serviço com direito a reclamação. Como se fosse um urinol público onde se pode reclamar pela falta de água, pela escassez de papel higiénico ou pelo que quer que seja.
Claro que nesta latrina há funcionários mais descuidados. Mas estes já são frutos do sistema. Deixaram-nos entrar.
Mas eles funcionam. Aquilo que não funciona é a visão central. Aqueles que se foram revezando no mando. Aqueles que sabiam, que encomendavam estudos (pagos à custa do erário público...) e que liam e se estiveram nas tintas. Nada mudaram. É bem melhor que estejamos assim.
Embora lá falar de taxas de abandono, embora lá discutir a sério o problema do ensino da Matemática, embora lá perceber que é pela transformação do social que podemos promover uma verdadeira transformação de mentalidades e, dessa forma, dar crédito a um sistema de ensino verdadeiramente apostado na transformação.

5 comentários:

Velho Cangalho disse...

Quando a escola apodrece, então apodrece também o futur. Cuidado com o que fazemos hoje às crianças, pois estaremos a fazê-lo aos homens de amanhã...

Velho Cangalho disse...

Há novidades no

http://idadedoferro.blogspot.com

Armando Rocheteau disse...

Fernando:
Os meus parabéns pelo post.
Como já disse em comentário anterior, o debate, que iniciaste, está aberto.
Abraço

Ana Paula Sena disse...

Olá. Agradeço a visita ao meu espaço.
Não sabia do espectáculo chamado "Einstein". Mas agradeço a divulgação. Procurarei saber mais sobre...
A questão da educação é a questão central de sempre porque dela emanam reflexos em todas as outras áreas. No entanto, pouco se debate por aí, com rigor.
Parabéns pela temática do post.

Madalena disse...

Pois... inventem-se novos modos de fazer funcionar as escolas que temos. Temos escolas. Temos professores. Temos funcionários. Até temos computadores e DVDs e televisores. Temos tudo e no entanto o "nada" é que funciona. Os professores temem que algo corra tão mal que o futuro, a carreira, a auto-estima, a própria dignidade vá um dia abaixo, sem razão ou com razão. E mais vale haver razão. Pois se não houver razão, alguém vai inventar uma tortuosa e impiedosa!
Invente-se uma vontade que não existe e que seria o único motor capaz de fazer "isto" andar.
Abraço!