Escreveu a profª. no Público de 19 de Junho sobre a sua satisfação grande de os alunos falarem de Pessoa no espaço da escola logo a seguir ao exame nacional de Português. Grande admiração, ó stôra! Haviam de falar do quê, logo nos cinco minutos seguintes?...
Mas, ó stôra, é um bocadinho cedo para tal crónica. Esperávamos primeiro pelos resultados e, logo, havíamos de optar...
Digo eu...
Eu, que tenho grandes, grandecíssimas, objecções quanto aos exames nacionais e a toda a filosofia que por detrás dos mesmos se encerra...
Mas isso é outro falar...
A Pessoa chegam os que lá conseguem chegar e, parece-me, que serão cada vez menos. Ficam com uma ideia vaga, têm aquela imagem imprecisa dos heterónimos. Se lhes puser a questão no sentido de definir o significado de homo e hetero/sexual vai ver que muitos titubeiam e vacilam...
Para trás, ficou muito por ensinar e aprender daquilo que é fundamental: o funcionamento da língua (vulgo Gramática) na qual Pessoa e os seus heterónimos escreveram e fundaram uma Obra.
Já deu uma espreitadela atenta aos programas da disciplina de Português do nosso ensino secundário?
Não me venha falar numa tal APP.
Estou a falar a sério.
A coisa tem que ser mantida numa base ONG (organizações não-governamentais) e não nessas aberrações que são albergue de quem quer fugir à sala de aula.
Repare que grande parte dos profs. que leccionam a disciplina de Português (e o próprio nome com que se nomeia a coisa não deixa lugar a quaisquer dúvidas...) têm formações académicas muito pouco abonatórias: no 2º ciclo do nosso ensino básico a disciplina foi (é, ainda) leccionada por profs. licenciados em História. No 3º ciclo e no secundário está entregue, maioritariamente, a licenciados em Línguas e Literaturas com variantes em Português/ Francês.
Daqui emanam aberrações como a TLEBS e os programas de uma disciplina fundamental e estrutural em termos de um verdadeiro sistema de ensino.
Este Ministério percebeu que está a chegar a uma situação sem retorno possível. Trata agora de 'tapar o sol com a peneira'. Manteve a dita TLEBS como conteúdo programático para o ensino secundário, quando a declarou abolida em relação aos restantes ciclos de ensino. No entanto, não assumiu essa determinação em termos de exame nacional.
Mais que ouvir falar acerca de Pessoa nas nossas escolas e bater palmas e exultar por isso, gostaria que os nossos alunos tivessem saído indignados do seu exame de Português por terem sido obrigados a interiorizar as coisas estranhíssimas relacionadas com a TLEBS.
Infelizmente, creio que esta Escola que hoje temos não os dotou das competências de pensar, de reflectir e de construir discurso argumentativo. Quanto a Pessoa...
Bom...
Ouviram falar... Tipo... E assim...
Topam?...
Não acrescentou nada, não os tornou melhores leitores, não modificou nada.
Generalizo, claro.
E, esclareço, a generalização abrange os próprios profs.
Dirão alguns mal-intencionados:
"Isso é conversa das 2.37...".
E aí eu respondo:
" E que outra conversa poderia eu fazer a estas desoras?..."
1 comentário:
Não é um comentário, mas sim um esclarecimento e, depois, uma pergunta.
É verdade que a disciplina de Língua Portuguesa do 2º ciclo está entregue a licenciados em História, mas não só. Há ainda a leccionarem esta disciplina alguns dinossauros licenciados em Filologia Românica e em Filologia Germânica; depois, há os das posteriores licenciaturas em Línguas e Literaturas Modernas das Faculdades de Letras e os professores formados pelas ESE nas variantes Português/Francês e Português/Inglês. Também havia padres e antigos professores primários com o também antigo 7º ano do liceu, mas estes já devem estar todos reformados.
E agora a pergunta:
Quanto a si qual seria a habilitação mais adequada para a leccionação desta disciplina, em geral, e no 3º ciclo, em particular?
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