terça-feira, 24 de janeiro de 2006

O que querem os neoliberais

A Autoridade da Concorrência alemã veta uma fusão nos media por entender que uma concentração de 65 % pode prejudicar a liberdade de informação. Os neoliberais estão contra; pouco lhes importa a liberdade de informação, apenas a liberdade económica. Perante a ameaça de uma catástrofe ecológica, procura-se reduzir a emissão de gases através de um protocolo. Os neoliberais estão contra; pouco lhes importa as catástrofes ecológicas, apenas a liberdade económica. Um governo decide aumentar os impostos de forma a financiar políticas de promoção da igualdade, designadamente através de subsídios aos estudantes pobres. Os neoliberais estão contra; pouco lhes importa a promoção da igualdade ou os estudantes pobres, apenas a liberdade económica. Um movimento propõe o fim dos off-shore e a taxação em 1 % das transacções bolsistas, de forma a financiar um fundo para o desenvolvimento dos países pobres. Os neoliberais estão contra; pouco lhes importa os países pobres, apenas a liberdade económica. Os homossexuais organizam-se em protesto pela igualdade de direitos. Neste caso, os neoliberais podem estar contra, a favor ou serem indiferentes conforme a inclinação, porque pouco lhes importa os direitos dos homossexuais, apenas a liberdade económica.
Se pensam que estou a exagerar convido-os a visitarem os blogues neoliberais como o Blasfémias ou O Insurgente, como faço diariamente, e lerem pelos próprios olhos as justificações mais rebuscadas para a defesa pura e simples da sacrossanta liberdade económica contra qualquer outro direito. A pergunta que faço aos neoliberais é: até ao momento tenho-os visto defender com igual afinco a liberdade política, e felicito-os por isso; mas se, por exemplo, for eleito um governo que ataque a liberdade económica, qual será a vossa escolha? Democracia ou Capitalismo?

11 comentários:

Gabriel Silva disse...

Meu caro,
1. as limitações à concentração da propriedade dos media é aceitável e por vezes mesmo desejável, por forma a não impedir a concorrência, a qual obviamente limita a liberdade geral e a da informação em particular.
2. Os efeitos de estufa e de aquecimento global não estão devidamente provados, pelo que será conselhável alguma cautela antes de impor custos astronómicos às empresas e aos cidadãos, o que certamente poderia acarretar maiores dificuldades, perda de rendimentos, desemprego e pobreza.
3. a promoção da igualdade pode-se fazer dessa forma, mas sempre seria melhor e menos criadora de pobreza se o Estado, ao invés de aumentar os impostos abdicasse de certas despesas, pois caso contrário, poderá ajudar uns carenciados e criará outros. Acresce que poderão existir outros meios para aumentar as possibilidades de alunos pobres frequentarem o ensino: liberdade de criação de escolas, univesidades e cursos, melhor gestão das escolas públicas reduzindo os brutais desperdícos e má gestão, criação do cheque-aluno, em que a verba dos impostos a gastar com educação não seja atribuida às esolas mas aos alunos que poderão escolher livremente o estabelecimento de ensino.
3. Os off-shores, pelo menos em Portugal são criações do Estado, o qual permtie que nos mesmos vigorem condições de desigualdade fiscal e outras, em prejuízo das demais empresas e cidadãos. Como tal, não tem sentido. Tais off-shores só existem pela incapacidade de o Estado disponibilizar boas e atrativas condições financeiras e fiscais e de forma geral reduzindo taxas, tornando-se mais eficiente na gestão dos seus recursos.
4. a taxação de operações bolsisas não faz sentido, é mais um imposto que criará pobreza. Os países pobres o que desejam, o que lutam justamente é por mercados livres, isentos de subsidios e de impostos discriminatórios. É o que se passa na OMC, com o terceiro mundo a lutar contra os representantes dos parasitas dos agricultores europeus e norte-americanos, pela oportunidade de poderem concorrer em igualade de circunstancias. Isso sim, é uma luta justa e potenciadora de criação de riqueza para todos. Gostava de ver mais gente que costuma ter os «pobrezinhos» na boca a apoiar os liberais e essa luta....
5. A homesexualidade é algo que diz respeito ao individuo, não devendo o estado imiscuir-se em tais assuntos.
6. Todos os governos tem atacado a liberdade económica. Contra isso se tem combatido e denunciado. Porque a liberdade individual e a própria democracia são postas, a prazo, em causa.

7. só uma precisão: não existe isso de «neo-liberal, apenas liberais. Tal como há conservadores, sociais-democratas/socialistas, fascistas, comunistas, libertários ou anarquistas.

Ricardo Alves disse...

Excelente artigo.

Ricardo Alves disse...

«Acresce que poderão existir outros meios para aumentar as possibilidades de alunos pobres frequentarem o ensino: liberdade de criação de escolas»

Essa liberdade já existe. Mas não aumenta as possibilidades de alunos pobres frequentarem o ensino pela razão muito simples de que essas escolas «livremente» criadas são as primeiras a «livremente» barrarem a entrada aos alunos pobres.

«criação do cheque-aluno, em que a verba dos impostos a gastar com educação não seja atribuida às esolas mas aos alunos que poderão escolher livremente o estabelecimento de ensino»

Essa é uma medida do género «atirar dinheiro aos problemas». Só aumenta a despesa pública não resolvendo nada.

Joao Galamba disse...

Boa Andre'! Gosto muito da resposta do Gabriel de que o Estado nao deve meter-se na homossexualidade, pois isso e' uma questao individual. La vem eles com os seus mundos ilusorios: conjunto de individuos interagindo tipo bolas de bilhar+ estado feio e mau. A equacao hidraulica que lhes configura a sua visao de mundo e' deliciosa.

Um abraco,
Joao

JAP disse...

A dicotomia do final é falaciosa: não é possível escolher entre Democracia e Capitalismo porque não há (nem pode haver) Capitalismo sem Democracia.

André Carapinha disse...

- Antes, como sabem os meus leitores, utilizava apenas "liberal". Agora uso o termo "neoliberal" porque tenho verificado existirem outros que se reclamam do termo, e que não tem a ver com os primeiros.

- Folgo em saber que o Gabriel entende serem positivas limitações à concentração da propriedade nos media. Se for o Gabrirel do Blasfémias, fico a saber que é um moderado dentro do blogue.

- «Os efeitos de estufa e de aquecimento global não estão devidamente provados»- cá estão as justificações rebuscadas para o injustificável.

- Quanro à "promoção da igualdade", mais uma vez parabéns pela sua moderação; nunca vos ví, em que circunstância fosse, defender qualquer coisa que tenha a ver com "igualdade". Já a questão de que «o Estado, ao invés de aumentar os impostos abdicasse de certas despesas, pois caso contrário, poderá ajudar uns carenciados e criará outros» é uma falácia de baixo nível. O Gabriel certamente saberá que os rendimentos mais baixos estão isentos de IRS (um imposto socialmente muito mais justo que o IVA). Um aumento de 1 % no IRS pouca mossa fará, mesmo na classe média. O que está em questão é uma posição de princípio, típica do messianismo neoliberal: Laissez Faire! Acresce que a promoção da igualdade está, obviamente, ausente do programa neoliberal. Quem defende que cada um tenha direito ao ensino que possa pagar para os filhos, p. ex., está a defender a desigualdade e não a igualdade, como já tive oportunidade de desmontar num post anterior ("A Escola Liberal").

- «Os off-shores, pelo menos em Portugal são criações do Estado»- os off-shores são elementos essenciais do mercado global. São defendidos com unhas e dentes por quem deles beneficia- grandes fortunas. A única forma de acabar com esta figura anacrónica e imoral do sistema actual é através da pressão de movimentos de opinião a nivel global, uma vez que os principais interessados (os off-shores e quem deles tira proveito) dispõem de um nível de influência extremamente elevado. Basta dizer que em Portugal, à semelhança de qualquer outro país ocidental, todos os grandes grupos financeiros trabalham com off-shores. Quer o Gabriel integrar tal movimento? Isso sim, seria uma novidade.

- Nâo confunda taxação de operações bolsistas com proteccionismo. As operações bolsistas não geram riqueza. O que os países pobres desejam é a abertura dos mercados, com a qual estou totalmente de acordo, e não qualquer liberalização bolsista.

- Em relação aos homossexuais, faço minhas as palavras do João. Acrescento apenas que seria de todo desejável que, de facto, o estado não tivese de se imiscuir no assubto, e que os movimentos gay não tivesem razão de existir. Isso é a grande aspiração dos homossexuais.

- «Todos os governos tem atacado a liberdade económica». Esta seria para rir, não fosse o caso de ser mais um aspecto estritamente ideológico. O que não falta por esse mundo são governos que promovam o programa neoliberal, reduzindo o peso do estado e privatizando. Aliás, os neoliberais, embora se apresentem como "anti-estado", sabem bem que precisam do estado para cumprir e impor o seu programa.

- «não é possível escolher entre Democracia e Capitalismo porque não há (nem pode haver) Capitalismo sem Democracia.»_ Já ouviu falar na China?

Anónimo disse...

Confesso que começo a temer que um dia destes o joao.miranda dê uma gargalhada vinda do diafragma, altisonante: seus idiotas, acreditaram na minha prosa?

Anónimo disse...

Gabriel,

Quanto ao ponto 2:
“impor custos astronómicos às empresas e aos cidadãos, o que certamente poderia acarretar maiores dificuldades, perda de rendimentos, desemprego e pobreza.”

A retórica que utilizas já a ouvi debitada em think tanks da direita oportunista americana (vamos ver se não vão confundir esta minha afirmação com anti americanismo primário) que visa pura e simplesmente retirar-se do esforço mundial de racionalização do consumo de combustíveis fósseis, utilizando as mais valias realizadas durante esse período para, quando seja inevitável o abandono da economia dos hidrocarbonetos, poder comprar a melhor tecnologia existente. E questões de aquecimento global à parte, as previsões mais optimistas apontam para o tecto de produção de petróleo ser atingido antes do fim do século. Posso até admitir que isto seja um comportamento económico racional, mas é tudo menos um comportamento ético ou solidário.
É preciso lembrar que muito para além da discussão sobre se o aquecimento global é ou não da responsabilidade das emissões antropogénicas de CO2 equivalentes, uma racionalização do consumo de combustíveis fósseis permite:
- racionalizar os comportamentos de consumo energético, reflectindo-se em ganhos económicos (o que em Portugal significaria reduzir a dependência energética)
- reduzir as emissões de poluentes associados a processos arcaicos de transporte e de produção energética e desta forma reduzir despesas relacionadas com doenças crónicas, melhorar a qualidade de vida através da melhoria do meio em que vivemos e proteger o património genético e paisagístico.
- potenciar o desenvolvimento de tecnologias de produção energética mais limpa.

Isto é, como calculas, uma listagem muito simplificada da complexa questão da gestão de um recurso não renovável. A atmosfera e os recursos energéticos são um bem comum. Por isso, a recusa constante de alguma parte da indústria em adaptar técnicas arcaicas de produção é comparável ao das condições de trabalho que se praticavam durante a revolução industrial. E hoje em dia é impensável a utilização de mão-de-obra infantil ou condições de trabalho que levem a uma morte prematura.

Anónimo disse...

Emenda
Como devem ter percebido em:
Por isso, a recusa constante de alguma parte da indústria em adaptar técnicas...

deve-se ler:
Por isso, a recusa constante de alguma parte da indústria em eliminar técnicas...

Anónimo disse...

Quanta virulência contra os neoliberais! Pra ser sincero, caso não fosse trágico, eu até me divertiria com esses lunáticos. Essa nova direita, dita libertária - muitos utilizam o jocoso termo - chega a ser hilariante. J. Bornhousen que o diga, esse Governador biônico hoje auto-intitulado Democrata.

Anónimo disse...

Quanta virulência contra os neoliberais! Pra ser sincero, caso não fosse trágico, eu até me divertiria com esses lunáticos. Essa nova direita, dita libertária - muitos utilizam o jocoso termo - chega a ser hilariante. J. Bornhousen que o diga, esse Governador biônico hoje auto-intitulado Democrata.