segunda-feira, 30 de janeiro de 2006

Instabilidade

Estabilidade
O caso Cavócrates


Institucional aperto – foto de uma semana que virá -, entre o nosso primeiro e a figura presidencial, aperto de mão logotípico, valendo mais que mil palavras – já lá vai o tempo em que uma imagem valia mil palavras, isto é, hoje, uma palavra autêntica, nesta rarefacção do verbal, agora que tudo se faz com trezentos vocábulos, vale mil imagens, é puro caviar, já que as trezentas palavras usadas e abusadas mais não são que funcionalidade, água a correr nos canos da comunicação automática - mais que um telefonema de parabéns retribuído pelo anúncio de um bom tempo em assumido porvir. Vamos entender-nos dizem pela mesma boca mental, para bem do crescimento e da produtividade, essas ninfas da desgraça que nos perseguem. Não será? Mesmo quando em fim de tarde, o futebol cosendo nas imperiais a moleza de um gás de bolhas tristes e o Benfica voando na memória da águia amestrada de serviço – ela nunca olha para a baliza - se instalem e a criatura esbracejando em Sagres, exiba corada do nariz até aos artelhos, falando vermelho primário, o número de sócio, como quem foi a Meca: mesmo aí, o assunto é a nossa impotência produtiva. Já não há mar que valha, o que é que querem?
E a triste figura que aí vem, montada naquelas maxilas largas, a pôr um olhar moral estrumado em vários salários, outras tantas flores de virtude, a bestificar em denodado esforço um raciocínio, coisa diferente de ruminar confiança nos portugueses, eles são capazes, até são como os outros, os europeus, a triste figura dizia, afirme, para nosso conforto : eu confio nos portugueses, tudo dito depois de uma pausa de maturação prévia, coisa para longo alcance. Eles até são normais, penso.
O bom político faz-se pagar, o mau político é mau porque não ambiciona mais que o que tem. Logo o mau político não capitaliza na governação, é um péssimo político, pois governar é desenvolver com toda a discreção sinais clandestinos de riqueza não ostentável – como por exemplo contas na Suíça. O bom político, pelo contrário, é o que ambiciona o mesmo que os políticos reformados instaladamente em Conselhos de Administração obtiveram, ou o mesmo que os ex ministros repimpados instaladamente em Conselhos de Administração têm. Como se sabe não são salários, são qualquer coisa por vezes mais que 50 vezes um salário mínimo nacional – será possível?
É fazer contas.
O que espanta é que esta estabilidade, apregoada à exaustão como um seguro de vida obrigatório, mesmo como o ar que se respira, seja martelada no esquecimento e ocultação de outras instabilidades ( por vezes oculta-se com maior eficácia o que se expões até à saturação), as que atiram as criaturas para a inactividade, a incapacidade, a negação de si mesmos, o desemprego.
Mas o que é que estes europeus querem?

f.arom

1 comentário:

Anónimo disse...

Mais um texto bem apimentado! Com efeito, teremos pela frente, senão mais, pelo menos 4 anos de alegre convivio entre o primeiro- ministro da nação e o Sr. Presidente (cheio de vénias, considerações e etccccc). Temos o futuro e a vida garantida, pois então!Estamos na europa da estabilidade, até à vinda do Tsunami, que, francamente, espero que seja muito em breve! Não gosto de seguros de vida, vindos de tão fraca estrutura, a política!
Até sempre Farom