Fingir-se de morto é uma estratégia de sobrevivência. No reino animal há várias espécies que a ela recorrem. Há meses que eles se seguiam. Ela muito livre, ele muito tímido. Tinham a mesma idade. Ela tinha vivido mais do que ele. Ele estava obcecado por ela, mas não sabia nem como, nem quando, concretizar a paixão. Aqui para nós, o rapaz era inexperiente e inseguro, mas tinha vontade dela. A rapariga era segura e experiente, também tinha vontade dele. O primeiro passo foi dela. Organizou um jantar em casa. Tudo bem comido, bem fumado, bem bebido. O grande tímido, só olharezinhos, voz quente e sorriso envergonhado. A casa foi-se esvaziando, tinha sido uma grande festa. Ele foi-se deixando ficar. The party is over. Só ficou ele, aparentemente vencido pelos excessos da mesa e dos fumos. Um corpo abandonado, inerte, no meio de uma sala vazia. Morto. Ele estava morto. Ela de milagres sabia. Apareceu nua a seu lado perguntando-lhe se não preferia deitar-se na cama. Ele aí saiu do coma profundo. Ressuscitou. Venceu a timidez. Aprendeu, com a vida, outras estratégias de sobrevivência. Assim é o mundo animal! Hoje lembra-se com enorme saudade daquela mulher e sente ternura pelo tímido que foi.
Josina MacAdam
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