segunda-feira, 9 de janeiro de 2006

Contos do Ano Novo .3

Estava a terminar o Secundário. Bom aluno, bonito, desportista. Não estava já para a disciplina que exigia o desporto. Já tinha sido campeão. Não estava, agora, numa competitiva. A Escola também se fazia numa boa. Na conversa com a namorada de turma ia apreendendo com facilidade o que os profs. diziam. Estava naqueles impasses da vida. Que curso escolher? Que namorada ter? Que fazer? Tinha começado a ler Heinlein, “Um Estranho Numa Terra Estranha”, e Kerouac. Os charros com os amigos faziam parte e alimentavam as indecisões. Digamos que estava a preparar-se filosoficamente para a vida. Foi detido e conduzido para interrogatório, quando fumava com os amigos e contemplava o pôr-do-sol. O delegado do Ministério Público interessou-se pelo seu caso. O meio era pequeno e o “juiz de fora” cedo percebeu que a conduta do rapaz não tinha que ver com estereótipos. Mas no interrogatório a que presidiu ficou-lhe uma dúvida. Os rapazes tinham confessado ter queimado uma pedra que, depois de misturada com tabaco, tinham fumado num cachimbo de prata. De prata? Isso é que devia ser caro! O qui pro quo resolveu-se. O magistrado deve estar numa comarca mais perto de casa, mais sabedor. O nosso rapaz terminou o Secundário, dirige hoje uma equipa de investigação, casou, tem filhos, assentou na terra. Quem sabe se na crise dos 40 volta aos impasses? E o magistrado fumará hoje em cachimbos de prata?

Josina MacAdam

1 comentário:

Anónimo disse...

Bom texto. Parabéns. Continue!