quarta-feira, 25 de janeiro de 2006

Presidenciais 2006

A INSUSTENTÁVEL DUREZA DE CAVACO SILVA


Dizia um grande estratego político que venceu o Czar de todas as Rússias, que a política é a economia concentrada. Ora, como ninguém o diz mas todos o sentem, a economia portuguesa navega em águas recessivas, há mais de cinco anos. Foi esse handicap que "afugentou" Guterres, que " balançou " Durão Barroso para Bruxelas e armadilhou a prestação medíocre dos seis meses de Santana Lopes. Por isso, a entrada em campanha eleitoral dissimulada no Outono , obrigou todos os candidatos a " pensarem " os remédios para a gravíssima crise económica e social que atravessa Portugal, caso único no concerto da União Europeia, de cuja média vivencial nos estamos dramaticamente a afastar.

As percentagens obtidas por Cavaco Silva e Manuel Alegre, dois terços do eleitorado, não podem servir de paliativo para ninguém: as receitas keynesianas do Estado protector e supletivo não têem suporte material consistente nem nas poupanças, nem nos impostos de uma indústria pauperizada e inflaccionada e muito menos no mirífico e volátil investimento estrangeiro. Como bem o expressou no Público(23/1), Augusto M. Seabra, estas eleições revelaram o " excesso de passado dos três principais candidatos ". E que, adianta, " assim sendo,como pode surpreender que o vencedor seja um político que calculadamente sempre preservou uma imagem de não-político e o grande derrotado seja um político, que o é por inteiro, que não compreendeu que visivelmente a generalidade do país entendia que este já não era o seu tempo?".

António Barreto no mesmo jornal, em jeito de balanço instantâneo, atirou com estas flechas: " Sócrates deve julgar que ganhou. Mas desenganar-se-à rapidamente. Vai ter enormes sarilhos. Por causa da colossal votação em Alegre. Mas as suas principais dificuldades serão outras. Ele acha que tem Cavaco Silva nas mãos e que este é a sua alma gémea.(...) Cavaco Silva será tudo menos um incondicional ". E o prestigiado sociólogo e analista político vai mais longe: " Venceu o candidato mais misterioso. De mais difícil qualificação. Mais previsível, na vitória, mais imprevisível no comportamento . Na verdade, o que merece ser sublinhado é que tem as mãos livres ". Constança Cunha e Sá, TVI e Sábado, a grande revelação do jornalismo dos anos 90, admite que " Cavaco Silva não é de direita, nem nunca se notabilizou por deixar espaço à direita"., in blogue O -espectro.

Vital Moreira, o célebre prof. de Direito de Coimbra, atalhou no seu blogue( Causa-Nossa), que a vitória de Cavaco Silva foi " uma vitória à tangente, a mais magra de todos os presidentes até agora; foi uma vitória assente numa forte abstenção, principalmente no campo socialista ". Ao contrário de Barreto, Vital Moreira entende que " esta vitória fraca não lhe deixa margem para o intervencionismo presidencial que ele e os seus apoiantes acalentavam.". Por outro lado, admite: " Ter um PR que não ultrapassa os limites de uma cultura economista e tecnocrática é uma enorme sensação de despromoção ". Pacheco Pereira no seu blogue(Abrupto), amandou-se ao ar por tais confissōes:" Mau perder abunda por todo o lado, sendo até um dos traços distintivos destas eleiçōes presidenciais".

De realçar, por fim,o comentário de Miguel Sousa Tavares, na TVI, de que " toda a gente estava à espera de uma vitória muito mais folgada de Cavaco Silva ", que se reflecte no de Marcelo Rebelo de Sousa- " De certa maneira, o soarismo termina "- e no sibilino desabafo de Maria João Avillez, na Sic, ela que é a grande biógrafa do fundador do PS- " Ninguém percebeu, ainda hoje, muito bem o que levou Mário Soares a candidatar-se ".Ficam no ar, no entanto, as profecias do número dois do Bloco de Esquerda, Miguel Portas, que vaticina que " esta vitória de Cavaco Silva será a construção de um bloco central institucional". A ver vamos, como diz o desmancha-prazeres.

FAR

2 comentários:

Anónimo disse...

Miguel Portas tem razão, só com uma diferença: a construção do bloco central institucional já começou há muito tempo! As dúvidas vão até mais longe: será que ambos, PS(D) e PS, chegam sequer a ter um programa cuja matriz se assemelhe a alguma coisa parecida com a social democracia? Ou será tão somente a génese de uma confraria?

Anónimo disse...

Provérbios requentados e revistos da “Quinta Coluna.blog”

Quem anda à chuva molha-se; quem vota em Cavaco lixa-se.

Ladrão que rouba a ladrão tem cem anos de perdão; parvo que vota em Cavaco, tem cem anos de aflição.

Gaivotas em terra temporal no mar; Cavaco em Belém, o povinho a penar

Peixe não puxa carroça; voto em Cavaco, asneira grossa.

A ocasião faz o ladrão, e de Cavaco um aldrabão.

Antes só que mal acompanhado, ou com Cavaco ao lado.

Cavaco a rir em Janeiro, é sinal de pouco dinheiro.

Quem vai ao mar avia-se em terra; quem vota cavaco, mais cedo se enterra.


E há ainda o provérbio crioulo-guineense:

Abo i rasa goiaba: bu ka ten kabaku
Que é como diz, você é como a goiaba, não tem cavaco (!?)