Com o virar dos anos e com a revolução tecnológica em curso é cada vez mais importante estar atento à complexidade da vida moderna. Um pequeno descuido e acabamos na cervejaria da última esperança a falar do mundial de 1966 e do euro 2004. Mas, atentos ou não à evolução social e à sua interacção com os múltiplos apetrechos tecnológicos, há sempre um tema de conversa que nunca escapa: mulheres. E por muitas voltas que o mundo dê, continuam a ser o que há de mais complexo e inexplicável no planeta. Qual gadget qual carapuça. Babes, sim. Há quem use e deite fora, há quem não use e espere pela Cinderela e há quem quanto mais usa mais gosta. Talvez usar seja um termo forte de mais. Mas em qualquer dos casos, a questão principal é esta: é difícil desvendar o mistério que envolve a mulher.*
Por muitas discussões, seminários, estudos, livros que elas escrevam a exporem-se e a dizer mal umas das outras, há sempre muito que fica além da nossa compreensão. Óscar Wilde dizia que “As mulheres existem para que as amemos, e não para que as compreendamos”. Não sei se será bem assim, porque muitas vezes tudo começa logo nas agendas do verbo amar: são diferentes nos dois géneros e não sei porquê, na altura da acção, há sempre alguém com dores de cabeça ou a ter de se levantar cedo. Já Voltaire tem outra perspectiva e acusa: “Se os homens estivessem satisfeitos consigo mesmos, estariam menos insatisfeitos com as suas mulheres”. Eu penso que a satisfação tem muito a ver com a compreensão. É difícil perceber quando elas dizem uma coisa, mas afinal estão a pensar noutra. E acaba num inevitável: ”tu não me compreendes”. E quando se tenta balbuciar que “mas não foi isso que tu disseste…“ a conversa é cortada com um seco “vocês são todos iguais”.
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No entanto, quando a crise estala e se começam a procurar alternativas à esposa ou namorada, aí as coisas aquecem. Tudo é suspeito. E-mails, telefonemas sussurrados, atrasos, passam a ser indícios que poderá haver outra. A insegurança instala-se e desconfiam de todas as mulheres do círculo de amigos. E começa-se a embirrar com as mais mediáticas. Um exemplo. Mas desta vez fora da alcova em que estão a pensar. Todos sabemos que Joana Amaral Dias foi uma espécie de Viagra da campanha de Mário Soares. Mas ela é uma mulher que sabe pensar e com ideias próprias. Numa hipotética candidatura a um cargo político de eleição directa ou não, seriam as mulheres as primeiras a tentar travar a sua eleição. Por um lado admiram a sua beleza, mas desconfiam da sua inteligência e da sua praxis. Uma figura gordinha, avozinha, tipo Maria de Lurdes Pintassilgo, teria mil vezes mais hipóteses. É maternal e inofensiva. Não tem aquela atitude afirmativa gauchiste que não precisa falar para se concordar com ela. Nem um look matador. Um bloco de mulher, que qualquer um quer descobrir mais de perto.
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Longe vão os tempos em que a mulher era um acessório de promoção do marido. Virgínia Wolf dizia a esse respeito que “As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de reflectirem uma imagem do homem duas vezes maior que o natural”. Gostava de ter vivido nesses tempos, em que as mulheres falavam das criadas e de festas e os homens só bebiam cognac, falavam de política e inevitavelmente das mulheres dos outros. Agora bebe-se menos cognac e as criadas são do Leste ou da América Latina. Na altura, levava-se bem à letra aquilo que Óscar Wilde sintetizou: “A felicidade do homem casado depende das mulheres com quem não se casou”. Talvez tudo tenha a ver com um trauma familiar que parece manter-se actual ao longo dos séculos: “em princípio, não há nada que as mães desejem mais para os filhos do que vê-los casados, mas nunca aprovam as mulheres que eles escolhem” afirmava Raymond Radiguet. Mas não quero entrar nestes campos edipianos, porque nos levam a outros caminhos.
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Há quem entenda que na relação com as mulheres se podem separar as águas. “Há mulheres com quem fazemos amor, outras com quem falamos” dizia Maurice Chapelan. Era bom que não fosse assim, mas é verdade. O interessante é que mesmo com essas mulheres, a parte que deve ser levada com mais cuidado ou mesmo a evitar, tem quase sempre a ver com outras mulheres. Curioso. Já em casa, a coisa piora. Com a mulher, companheira ou amante, qualquer referência a colegas de trabalho, amigas ou conhecidas provoca automaticamente um sinal de alerta. Muitas suspeitas levam mesmo a represálias, que passam muitas vezes pela abstinência sexual forçada. O que leva de novo a procurar as tais amigas para mais conversas, aí já de profundidade duvidosa e de instintos carnais óbvios. Por vezes há um acordo tácito, dizem mal da companheira ausente e vingam-se na cama da forma mais debochada. Chega-se a levar horas, pois a raiva teima em vir ao de cima. A partir daí, pode-se entrar num ciclo vicioso. Byron dizia que “terrível é que não é possível viver com as mulheres, nem sem elas”. Por isso, e porque só a objectividade interessa à ciência, é preciso continuar a procurar a verdade científica que o género misteriosamente esconde. E nunca faltar aos treinos. Só mesmo em caso de doença.
12 comentários:
É bom ler-te...
A segunda do Wilde é um “bitaitada” que já era velha no séc. XVIII.
A primeira é mais fruto da jactância e da inexperiência no assunto.
Era demasiado narciso para se apaixonar.
É por isso que Wilde tem “e” no fim.
É a expressão da “corcunda mental” que ele tinha e que o tornava diferente.
Mas também “asneirento”.
Toda a gente sabe, pelo menos quem sabe, que
“Compreensão” é condição necessária, mas não suficiente, para haver “amor”, uma palavra tão grande que é feita de muitas “outras”.
O Wilde devia ter um fraco quociente emocional.
Gostei deste regresso, um pouco misógino, não? Mas como já tinha saudades de ler os teus textos estás perdoado.
António, o wilde tinha outras tendências, por isso não me parece uma boa referência para esta área de estudos - não experimentou o suficiente, como se sabe.
No entanto, a proposta final, a do trabalho de campo, pareceu-me mais coerente. E até acho que se pode e deve ir mesmo doente. Se assim não for, como saber se, afinal, não seria aquela que teria queda para tratamentos especiais.
É importante não faltar aos treinos. Para isso desaconselho a companhia de Wilde. Quanto ao mais, a minha solidariedade por esse lado de lá da "barricada". As coisas acabam por ser tão parecidas com as deste lado.
Os gays são os grandes aliados das mulheres nestas coisas. É interessante ver que a referência literária a Wilde no texto é o grande mote dos comentários femininos. Ele é da vossa barricada, minhas queridas... Preocupem-se é com os outros, os galifões...
Pelos vistos, a saída de sexta à noite provocou grande meditação!
Espero que ela te entenda, te acompanhe e te ame. E te 'melgue' todas as vezes que suspeitar, pois muito provavelmente terá razão!
Força companheiro!
O Lacan dizia que o Amor é dar o que nao se tem a quem o nao pede! O Freud queria tudo explicar pelo pénis,que desempenhou uma funcao central no etnocentrismo e teleo-ontogoismo da civilizacao greco-latina. O artigo tem a sua piada, mas ilude, se calhar por estratégia, a perspectiva freudo-nietzsche-lacaniana, que nos levou ao delicioso paradoxo de pretender " nao existirem relacoes sexuais ". Avanti! FAR
Não concordo com o texto. É um bocado machista, provocador e trata as mulheres como se fossem objectos.Fomos reprimidas pelos homens e pela sociedade durante muito tempo e as mazelas custam a curar. O que eu acho engraçado nestes comentários é que não passava pela cabeça de muitos homens o que nós falávamos. Tenho 65 anos e não foi assim há tanto tempo.E não era de criadas ou de bordados ou da carestia da vida. Era de sexo. Admirados? Sim,do sexo frouxo de muitos homens.Aquilo era só garganta.Mas agora as coisas são diferentes, e até as mulheres já falam como os homens. E pensam elas que são livres pensadoras. Coitadas.
Maria Alice (isto é um pseudónimo, pois não me sinto confortável em escrever o meu nome).
Meu Caro Oliveira,
Vê-se que a sexta-feira lhe correu mal. Mas não culpe as mulheres por isso. Vexa vai a todas. Modere-se! Dedique-se a uma só!
De qualquer modo restam-lhe as palavras damjoão. Que inveja!
Vejo que encontrou algum tempo na sua agenda para um comentário, Bak (permita que o trate assim).
Por onde tem andado? As bakuninas queixam-se cada vez mais de falta de apoio logistico. Será que a Maria Alice estava a falar sobre si?
mas a sexta.feira correu-te mal??????
Estiveste sempre em trabalho...
MJoão Amaral
O Bakunine é um danado para a bricadeira. Um provocador nato. Agora, com a confusão de heterónimos, acho que às vezes não sabe quem está a encarnar e a falar. Mas é época de Óscares e a Hollywood perdoa-se tudo. Só tem de nos convidar para a cerimónia.
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