terça-feira, 23 de maio de 2006

TABUADA PO_ÉTICA

(para coleccionar, no fim dão-se alvíssaras)


Po-ética um

os dedos
logo pelo cio das pássaras
nos horários nobres do orvalho
dedilham essa humidade
contentes de a terem aberta em lábios
o céu dorme e as ervas regurgitam
agora em lâminas erectas a noite que as teve silenciadas
são rainhas na calma obscura das raízes
no mastigar dos dias
algures
o mais esquecido dos cantos
acende um olhar no perfume
enraizado de maçãs na memória
e parte
ondas de clarinete
verdes em mar aberto


Po-ética dois

as formigas quando azulam
largam a fila em transparência fatigada
mas apolíneas
de harpas e seu som
apenas na infra posição do que nelas é a sua pata maquinal
se percutem as cordas
tudo isto se passa no continente das formigas
cabe no meu dedo mínimo
de modo invisível
falamos obviamente de formigas liliputianas
e de um ouvido atento


Po-ética três

nesta a matemática tem um papel
como se diz de um actor que tem um papel
e é um papel nada simbólico embora perder os três
seja mais do que simbólico
e sangre
as mais das vezes
tal como as pétalas ardem
ao dia chegado

(Continua.)

f.arom


Aqui começa uma colecção de poemas sequenciados. Irão surgindo com indicação do nº de série.

2 comentários:

António Gomes disse...

Gostei do surrealismo que me provoca.

Anónimo disse...

Oh Duval!
Anarquista? Com esse nick. a que propósito?