terça-feira, 16 de maio de 2006

Investimentos e jogos de cintura

Em alturas de crise, quando se fala em investimento, tudo o que vem à rede é peixe. Pelo menos no início. Foi o caso da refinaria de Sines. O atómico Patrick Monteiro de Barros prometia um investimento vultuoso, que deu em nada. Se a promessa de criar em Sines a maior refinaria da Europa é um isco irresistível para qualquer governo, também se deve louvar a recusa de comprar gato por lebre. Mas, no Diário de Notícias, o advogado laranja Proença de Carvalho protestou contra o que chama contrapoder burocrático: “criaram-se na Administração, em especial na área do ambiente, visões fundamentalistas e delirantes sem correspondência efectiva com os valores a preservar, que estão a criar obstáculos ao desenvolvimento de iniciativas globalmente meritórias”. Veja-se a lata! E lança um elogio a Miguel Cadilhe, que “deixou um excelente diagnóstico dos porquês da dificuldade em atrair investidores. Uma das causas mais influentes é a teia burocrática que asfixia qualquer ideia”. Este diagnóstico foi a única coisa visível que Miguel Cadilhe fez, mas não penso que ele assinasse por baixo esta iniciativa nos moldes em que estava. Na relação custo/beneficio, a região e o país perdiam. Manuela Ferreira Leite, no Expresso, escreveu que não gostou da atitude do governo. “Começa a ficar claro, o que há muito se suspeitava, que existe um abismo entre o anúncio e a realidade. É a distância entre o entusiasmo e o desânimo, entre o projecto e o vazio, entre a ficção e a realidade. Estou, por isto, com uma dolorosa dúvida. Não sei se o ministro se enganou, como disse, ou se nos enganou, como parece”. Os analistas têm outra perspectiva. Para Nicolau Santos, “não é fácil um Governo ter em mãos um potencial grande investimento de €6.000 milhões, anunciá-lo com pompa e circunstância - e depois deixá-lo cair. (…) O ministro da Economia esteve, pois, muito bem ao «matar» elegantemente o projecto”. Já Miguel Sousa Tavares, também no Expresso, destaca o facto de “correram a rufar tambores e a posar ao lado do grande empresário. Afinal, descobre-se agora que a refinaria iria libertar 2,5 vezes mais CO2 do que o anunciado, iria envolver 1200 milhões de euros de comparticipação pública, a compra dos direitos de poluição por parte do Estado e mais uma orgia de incentivos fiscais”. Foi este gato por lebre que Sócrates não comprou e bem. A oposição reagiu carregando no piloto automático das frases do costume. Para o PSD foram manobras de diversão do governo e o CDS-PP pediu explicações no Parlamento. Sabendo-se que Pedro Sampaio Nunes, agora vice-presidente do CDS, é colaborador de Patrick Monteiro de Barros, tanto no projecto da refinaria de Sines como na construção de uma central nuclear em Portugal, pergunta-se: o grupo parlamentar funciona já com patrocínios?

4 comentários:

Anónimo disse...

Leio esta prosa e penso com os meus botões: isto é que é independência de espírito! Independentemente do que o governo fizer, o Governo está bem. Está sempre bem. Per definitionem. Mesmo quando faz a mais elementar borrada, que é alardear um mega-investimento que, depois da excitação do anúncio com pompa e circunstância, vem a concluir que é ruinoso. Esteve bem na conclusão. Mas quando amanhã anunciar outro... o que devemos pensar?

Unknown disse...

Neste caso tudo acabou bem, o que não significa que seja sempre assim. Por exemplo, outro caminho teve a história dos 2.605 sobreiros da Herdade da Vargem Fresca, em Benavente, em que a vilanagem quase se ia fartando.

Uma coisa que poucos sabem é que a autorização do seu abate foi dada em 1995, no tempo de Cavaco Silva, e foi embargada pelo ministro de Guterres, Gomes da Silva, o tal das vacas loucas.

Ninguém do PSD berrava contra o abate nem contra o crime ecológico. Era o peso do nome Espirito Santo, nos bolsos de alguns espertos.... Este investimento foi um caso em que um Governo de maioria PSD/CDS-PP fez como a avestruz. Há mais, mas fica este como exemplo.

E quando há bom senso, como foi o caso da refinaria, há que louvar. E não é por ser PS.
Penso eu de que!

Kane disse...

Atomkraft, nein danke!

O governo de Sócrates é perito na cambalhota: depois do anúncio da festança, a rábula do gato e da lebre.
( Já foi assim com o aumento do IVA, continuou assim com a eliminação das regalias dos políticos, será assim com a revisão dos salários e pensões do Banco de Portugal , é assim com a extinção dos governos civis e com outros pesos mortos que por aí pululam, etc.)

Aproveitando a onda, realce-se o projecto previsto para Peniche para aproveitamento energético das ondas do mar, aparentemente viável sob todos os aspectos, desde que seja bom para os promotores e para o país.
Mas atenção: pensem primeiro e decidam depois!

Kaos disse...

Mais anuncio menos anuncio o que me parece importante é o facto de não se ter contruido a refinaria. A moda agora ´´e fazer o estado pagar, e bem, para ter empresas em Portugal. Depois é claro os lucros são privados e não há dinheiro para a segurança sociel, aumentos dos ordenados da FO, etc..