Ensaio, manifesto ou panfleto, o novo livro de Laurent Joffrin, director da redacção do Le Nouvel Observateur, o mais prestigiado newsmagazine do centro -esquerda francês surge na conturbada vida política tricolor e com opções decisivas à beira de serem tomadas: a reformulação estrutural da política socio-económica e a escolha do sucessor de Jacques Chirac, onde se projectam/ interseccionam as disputas fratricidas de Villepin/ Sarkosi e a nebulosa dos diversos candidatos socialistas em desordem. Pode ser uma resposta mais construtiva ao desafio iconoclasta da ruptura lançado pelos sarkosistas e seus peões-de-brega, às tentações liberais e pró-americanas de direita em ruminação no microcosmo pariseense?.
" Antes de ser uma categoria política, a esquerda caviar é um espaço. Ou melhor: vários espaços, varias tribos, vários pequenos mundos que se cruzam e baralham. Cada um deles suscita as suas críticas, os seus ressentimentos, por vezes as suas raivas. Há a esquerda caviar dos intelectuais, dos patrões, dos editores, dos políticos e dos jornalistas ".
Laurent Joffrin faz parte do escol da geração dos anos 80, de que fazem parte Denis Olivennes, o novo patrão da FNAC, Patrick Weil, os herdeiros Nora e a grande maioria dos novos craques do mundo editorial pariseense. Joffrin entrou no " Libération " em 1981 e assumiu toda a nova estratégia de rigor e de rentabilidade concebida por Serge July, o antigo mao-sartreano de elevada qualidade que perseguia a ideia de fazer concorrência ao Le Monde. Com a saída de F-O. Giesbert, é convidado para o Nouvel Obs em 1988.
De uma forma muito elegante e profunda, Joffrin narra as raízes da " esquerda caviar" mundiais : as receitas dos clans Roosevelt e as do de Kennedy , e a da sua génese francesa, a partir de Jaurès, normalien e filósofo, de Lèo Blum , intelectual e advogado, até ao "misterioso" Mitterrand, que foi católico e conservador na juventude e se eleva 30 anos depois a impôr a aliança com o PCF, um dos Pc´s mais estalinistas da Europa. " Sobre o plano doutrinal e militante, em matéria de consciência social ou de visão económica, está( Mitterrand) muito abaixo de Jaurès, de Blum ou de Mendès-France. Mas ultrapassa-os de longe em estratégia política ", refere.
" Para a esquerda caviar, a existência precede a essência. As ideias iniciais, os preconceitos de classe, as convicções herdadas não determinam a vida da élite progressista. É a vida que forja as suas ideias ", frisa, para deambular sobre o perfil moral de gigantes como Vítor Hugo e Emilio Zola, hoje tão actuais na sua narrativa . E sublinhando que a " esquerda caviar " pelos efeitos da mundialização abandonou a " hegemonia moral e ideológica aos seus colegas adversários do liberalismo mais rigido ", Joffrin preconiza que a esquerda democrática volte a contar com os idealistas da " esquerda caviar , de forma a evitar o perigo do populismo"e as aventuras de uma conflitualidade total e intangível.
FAR
4 comentários:
"Caviar" é antiga, voltemos as clássicos: Sibarita. Em Lisboa "Versalhes" onde os Intelectuais desta pátria que não os ama, souberam que um gajo filosófico e ministro já o não era porque acompanhou o chá com um bolo mil-folhas!
A receita: ser fino e ter lata.
Vocês critiquem e avancem,por favor- Existe a esquerda " caviar ", a "champanhe", a de "alcatifa",a "americana", a "nacionalista", a "téctrica" e à volta os esquerdistas a tentarem minar ou furar. O Carlos Indico, que andou pelo O- Espectro,aponta bem o caso do MMC, relatado pelo EPC e antes do rebento surgir, se bem o creio. Agora, o Laurent Joffrin vem da esquerda cripto-comunista- Régis Debray e J-P Chevenement- e deixou-se fascinar pelos rocardianos e camusianos na fantástica redaccao do Nouvel Obs. Retratou-se e investigou as origens da " esquerda caviar ", que em ranca tem piada e fulgor, sem peneiras nem prebendas, mas um enorme charme e requinte no estudo e análise dos problemas que inquietam o curso do Mundo. Por exemplo, a " esquerda caviar portuguesa pode englobar o Mega Ferreira, o Brederode dos Santos, o Portela Filho, o Lobo Antunes e os círculos que lhe andam afectos de intelectuais e políticos.O MMC é muito anti-pragmático, autoritário e topa-a-tudo para poder navegar nessas águas. FAR
Erratum- Na linha 12:(...) ranca é Franca. Usem o contraditório, digam de v. justica e usem a arma da crítica, sff. FAR
A avaliar no que deu a esquerda pé rapado cá do rectângulo, pois... nada tenho contra a caviar... ao menos, a segunda já não muda - abraço, uma que ia a passar.
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