Olá,
Desculpem o atraso mas fui a Montreal e isso congelou-me a escrita. É que Montreal é parte do Quebec e depressa se aprende que falar do Canadá é uma coisa e falar do Quebec c’est une autre chose. E isso complica tudo.
Fui informado que para os quebecois o conceito de “canadiano” é algo de distante, como falar de …. americanos. O que irrita sobremaneira os canadianos anglófonos que detestam ser confundidos com americanos (principalmente nesta altura do campeonato bushista) e além disso torna para visitantes como eu tudo muito complicado de explicar. O que não é de admirar. Minorias… complicam sempre tudo, mas como também sempre acontece tornam tudo muito, mas mesmo muito, mais interessante.
Primeira lição: nunca fale de canadianos franceses ou francófonos. Non . Ils sont quebecois et les quebecois ne sont pas français. (Os franceses são vistos como uma cambada de snobes que em bom estilo francês abandonaram os seus “cousins” às mãos dos ingleses)
Segunda lição: se você pensa que fala francês prepare-se para o choque da sua vida. Escrito está tudo muito bem. É como aquele francês que todos nós aprendemos na escola. Falado… c’est une autre chose. A pronúncia é a primeira coisa que tende a deixar pessoas de fraco conhecimento de francês (comme moi) a pensar que de repente há uma série de gente a falar uma língua que às vezes se parece com chinês. O som francês “ain” como na palavra “pain” passa a ser acentuado no “I” tornando-se “paín”. O som gutural que os franceses dão aos “R’s” desaparece e os “R’s” são pronunciados à portuguesa como na palavra “mère”. O som “au” torna-se muito mais aberto quase pronunciado à portuguesa. Experimente com a palavra “autre” . Leia à portuguesa “autre mére” e veja a diferença!! Todas as palavras que começam com “D” acrescentam de imediato um Z. Assim por exemplo “difuser” passa a ser “dzifuser”. As palavras que começam com T acrescentam de imediato um “S”. Tu passa a ser Tsu. E depois para complicar tudo há o Joual, o quebecois ( ou francês?) falado pela população quebecoise, um motivo de orgulho, quase de afirmação nacionalista. Chu tanné des Anglais. (estou farto dos ingleses). Chu pu capab’. Não sou capaz ou já não aguento. (“Chu pu” foi a minha razão de confundir inicialmente certas frases com o chinês….)
Terceira lição: A língua é a alma de um povo e ninguém leva isso mais a sério que os quebecois (quebequianos? quebéqueres? Como se diz em português?). Muitos, mas mesmo muitos quebecois falam muito mal o inglês e muitos também não o falam. Se sair de Montreal e for para outros lados isso é ainda mais evidente. Há uma “Commission Pour la Protection de La Langue Française” que assegura que em Quebec todo o comércio, incluindo os nomes das lojas, têm que dar prioridade ao francês. Isto às vezes resulta em cenas cómicas com “policias da língua” armadas com fitas métricas a tentar estabelecer se as palavras em francês são efectivamente maiores do que as em inglês ou se uma loja com o nome de “Sex Shop” viola a lei. (Viola. O nome correcto é …. Sexerie). Nem pensar em usar a palavra “drive-in”. “Service au Volant” é como se diz em Quebec. Os quebecois levam isto ainda mais a sério que os franceses com a sua paranóia sobre a língua inglesa. No Quebec nem pensar em falar em “shopping” como aí na Lusitânia com o “Cascais Shopping”. Em França pode-se “faire le shopping”. Em Portugal “ir ao shopping”. No Quebec “on fait le magazinage”. Agora há guerras em tribunal por causa de palavras como “cyberspace” e outras das novas tecnologias. Traduire ou ne pas traduire c’est la question e as autoridades quebecoises têm uma resposta: Traduire. Tout. Sans exception.
Se noutras partes do Canadá o ensino do francês (a segunda língua oficial do Canadá) está em declínio, no Quebec está muito bem muito obrigado. É uma luta pela soberania cultural numa altura em que a liberalização do comércio à escala do planeta traz para o Canadá desafios em que o francês perde a favor de línguas como o espanhol e o mandarim. Como minoria que até há pouco não tinha qualquer poder económico no Canadá a língua tornou-se no cavalo de batalha, num ponto de afirmação … e mesmo exclamação!
Bem por agora é tudo. Regresso dentro de dois ou três dias para vos falar mais do Quebec, de homens como Michel Tremblay um dramaturgo que causou escândalo ao dizer que já não apoia la souveraineté e também de como no Quebec palavras de insulto são palavras dos rituais da igreja católica como cálice e hóstia.
De momento chu pu capab’ de continuer. Vive le Français…. Libre!
Um abraço
Aqui da capital do Império,
Jota Esse Erre
9 comentários:
Um retrato e pêras. Uma grande crónica.
Tudo o que é relativo ao Quebeque é quebequense: muito mais possidónio que as hipoteses aventadas (quebequianos? quebéqueres?)
BREAKING NEWS-- BREAKING NEWS!!!
Nao percam a polémica entre Maloud e FAR no e-konoklaste e na GLQ Limiano... Vale a PENA!
MALOUD SINALIZA O BLOGUE DE UM TAL PASSOULINE... FAR LEMBROU-SE DO PIERRE, antigo director da revista Lire. FOI vER E ENCONTRA A MALOUD A INCENSAR OS ANTIGOS IDEÓLOGOS DA DIREITA AMERICANA FRANCESA: Aron e REVEL... De caras, sem saber do que fala ou a pensar que os outros sao parvos!!!
Depois de me ter " chibado" ao JPP,ela mesma se dá conta,coitadinha... Como é possível? Será a sagracao da Primavera, que resolve estes fenómenos que o dr. Freud devia ter estudado... FAR
Vai e não voltes ó melga.
Serviu-me bem a tua prosa, pois o meu filho foi viajar e deixou-me cá com uma quebequense.
Optimo texto!
Abraço
Nao sejam mauzinhos,vamos lá! Razoes de queixa tenho eu! Ela, a Maloud, foi vítima do princípio de Peter e do galinho coquericot franciu! Estava a tentar a duplicidade e afagava os liberais bloguistas em vez de sonhar com as andancas do demónio.Puro!
Grande texto do Grande Reporter do NYT, Roger Cohen, sobre o Irao. Ele vê a coisa muito feia: por causa da arrogância militar russa,do nacionalismo iraniano demagógico e dos elementos de guerra civil crescentes no Iraque.E a cena italiana: quem a comenta? O`Armando, por onde anda a correspondente em Milao?!? Hoje, ao acordar, dei uma gargalhada nietzchiana enorme... FAR
Breaking News! Breaking News !
Peco desculpa por esta intromissao no texto, mais uma vez!
Como o Villepin o desenvolve, FAR e Maloud têm trocado e-mails e apurado as divergências. A Maloud tem o caso psíquico agravado e sofre uma medicamentacao muito forte, daí os lapsos e os cortes de sentido e interpretacao verificados, de há uma semana a esta parte. Nós esperamos que recupere e surja, de novo, com a forca(force) toda. A situacao do Villepin está mesmo muito má, segundo o Libé e o Le Monde Online´s : parece que mentiu e " empurra " responsabilidades para o Chirac. Bom fim de tarde! FAR
2+2=5: um "espaço" de liberdade!!!
L' accent du Quebec está bem contado.
No entanto, é difícil resistir ao folhetim FAR/Maloud. Que mais irá acontecer?
Lá para as calendas esperamos que a festa seja aqui. Folhetins têm happy end.
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