sábado, 20 de maio de 2006


Esboço de Luís Ralha

O designer e a responsabilidade

Nós estamos, aqui e agora, confrontados com uma realidade complexa. E essa percepção crescente justifica a inclusão em ‘Reflexões sobre o Design’ de uma conversa sobre a responsabilidade social do designer, tema que ainda recentemente seria considerado inoportuno, deselegante, polémico, contra a corrente.
Submergidos de objectos por todo o lado, encurralados por um gosto global e necessidades criadas por um marketing omnipresente, com alternativas sem fim, que diluem as referências e a história, o efémero como estratégia para a multiplicação de mercado, reduzindo o tempo de vida e o valor de uso dos produtos – produtivizando a ‘ideia’ – quem somos, para onde vamos, para quê e para quem desenhamos?
As sucessivas modas, o gasto irresponsável de matérias-primas não renováveis – somos das poucas gerações com acesso ao petróleo – a poluição do ambiente, incluindo a visual, vão criando perplexidades que nos paralisam.
O desperdício gerado por esta produção liberalizante afunila o consumo para grupos socioculturais ganhadores e os outros, os perdedores, que constituem a grande maioria planetária, vão-se limitando a uma existência cada vez mais redutora, envolvidos todos nós por uma informação excessiva que não dá folga – conhecemos a marca das botas do Figo e as imagens anorécticas das passarelas. O pormenor e o acessório são fundamentalizados, apetece pôr a zero, reencontrar raízes.
O fascínio das novas tecnologias e materiais, o espasmo estético da renovação formal acelerada para a mesma função, o novo pelo novo, o diferente como moderno parecem ser a ordem natural das coisas. Será?
Não devemos pedir mais ética e menos estética?

Luís Ralha

intervenção no ciclo de conferências ‘Você está Aqui’, promovido pela associação de estudantes da Escola de Belas-Artes de Lisboa.

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