sexta-feira, 5 de maio de 2006

Não sejas Pravda!

Rezam as crónicas oficiais que o jornal Pravda (A Verdade) começou a ser publicado a 5 de Maio de 1917, tendo como seu fundador Lenine. No entanto, e como só a verdade é revolucionária, é mentira. Foi Leon Trostky, com mais dois companheiros, quem começou com o jornal, em 1908. A sua publicação era na altura feita em Viena de Áustria, para evitar a censura. O jornal era depois enviado para a Rússia. Tinha assumidamente um pendor social-democrata, muito virado para os problemas da classe operária. E foi devido a essa temática que rapidamente se tornou num jornal muito popular em toda a Rússia. Em 1910 foi transformado no órgão do Partido Social-Democrata Russo, mas em Abril de 1912 publicava o seu último número. Os bolcheviques trouxeram-no de novo para as bancas ainda em 1912, desta vez já em São Petersburgo. Encerrou de novo com o início da primeira guerra mundial. Reabre com a revolução russa de Fevereiro de 1917, já com uma forte carga ideológica bolchevique. Com a radicalização da luta politica passou a tomar posições muito próximas de Lenine e do Partido Comunista. Entre a queda da monarquia e o fim do chamado “período burguês”, o Pravda chegou a vender 100.000 exemplares por dia, um número que ainda hoje mete inveja. Cinco meses depois da Revolução de Outubro deixa São Petersburgo e muda-se para Moscovo. A partir daí passou a ser a publicação oficial do Partido Comunista da União Soviética, “fundado por Lenine”. Aguentou o seu monolitismo até 1991, altura em que Boris Ieltsin confiscou tudo o que era do Partido Comunista, incluindo o Pravda. O resto é história.

9 comentários:

Anónimo disse...

ólindo tenho saudades tuas...

Anónimo disse...

«Só a verdade é revolucionária»... hmmm, deixa cá ver... ou muito me engano ou esta frase é falsa. Se não, como explicar que duas, para não falar de mais, das maiores revoluções do século xx, como a soviética e a nacional-socialista, tenham sido realizadas, mantidas e consumadas em nome dos maiores embustes que é possível imaginar? A função redentora do proletariado... a superioridade da raça ariana... chega! Mas pensando melhor, talvez a frase não seja verdadeira nem falsa. Talvez não tenha simplesmente sentido. Ou tenha tanto como a frase: «só os gatos são ímpares». Como se sabe, o atributo «ímpar» não é predicável do sujeito gato.

Anónimo disse...

Tu és o máximo, Jó!!!
Beijinhos

Anónimo disse...

Só os números pares são felpudos também dá, mjoão. Beijinhos

Anónimo disse...

Sobre a natureza altamente problemática da relação entre a verdade e a política, recomenda-se aos interessados o ensaio espantoso da Hannah Arendt, precisamente chamado «Verdade e Política». Está traduzido para português e editado pela Relógio d'Água. Para abrir o apetite aos estudiosos, deixo aqui a abertura.

«O objecto destas reflexões é um lugar comum. Nunca ninguém teve dúvidas que a verdade e a política estão em bastante más relações, e ninguém, tanto quanto saiba, contou alguma vez a boa fé no número das virtudes políticas. As mentiras sempre foram consideradas como instrumentos necessários e legítimos, não apenas na profissão de político ou demagogo, mas também na de homem de estado. Porque será assim? E o que é que isso significa no que se refere à natureza e à dignidade do domínio político, por um lado, e à natureza e dignidade da verdade e da boa fé, por outro? Será da própria essência da verdade ser impotente e da própria essência do poder enganar? E que espécie de realidade possui a verdade se não tem poder no domínio público, o qual, mais do que qualquer outra esfera da vida humana, garante a realidade da existência aos homens que nascem e morrem - quer dizer, seres que sabem que surgiram do não-ser e que voltarão para aí depois de um breve momento? Finalmente, a verdade impotente não será tão desprezível como o poder despreocupado com a verdade?»

Garanto aos mais desconfiados (de mim?), para o caso de não estarem informados, que a Hannah Arendt não é uma desprezível neo-liberal, conservadora e outras coisas horrendas e arrepiantes só de nomear. É uma grande filósofa. Das maiores.

Anónimo disse...

Temos comentador: Mister Jó! O texto da H. Arendt é mesmo capital, nestes tempos de post-modernidade e vale-tudo...Já o li dezenas de vezes, é mesmo brilhante e desmente aqueles encantadores de serpentes que apostam na simplicidade da complexidade, que nao existe. Schüss, .FAR

André Carapinha disse...

O sentido da frase "só a verdade é revolucionária" implica duas coisas:

1- Que se entenda, ou valorize, a necessidade de uma "revolução";

2- Que, ao admiti-lo, se entenda que esta tem de ser "verdadeira", ou seja, que não será mais um embuste que perpetue as mesmas desigualdades sob uma nova máscara.

O que demonstra que o nosso Jó pode não concordar com o ponto 1, e está no seu direito, mas não percebeu nada do ponto 2, senão não argumentaria com os maiores embustes mascarados de revoluções no século XX (lembrar que a frase é de Trotsky e não de Lenin ou Stalin).

André Carapinha disse...

E só acrescento que o (brilhante) excerto de H. Arendt só reforça o que escreví acima.

Anónimo disse...

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