sexta-feira, 26 de maio de 2006

Da capital do Império

Olá,
Desculpem lá isto mas hoje tenho que vos escrever sobre algo que sei que vai irritar muita malta aí do outro lado do charco, na Lusitânia e se houvesse franceses que lessem isto então seria uma bagunça sem fim.
Isto devido ao que se passa em Timor Leste. Sei que não se trata de um caso de “arrependência” (a doença que assola alguns após poucos anos de independência) pelo que não se assustem não vou pôr em causa aquele entusiasmo/obsessão surrealista que se viveu em Portugal com a independência dos timorenses e que me levou mesmo a pensar que o Xanana Gusmão era o Dom Sebastião regressado nas Ásias para resolver todos os traumas e sentimentos de culpa e impotência resultantes das aventuras coloniais falhadas da Lusitânia.
Mas o que se passa em Timor Leste levanta uma questão: Quando há problemas urgentes que requerem solução imediata a quem é que se telefona?
Pode-se telefonar às Nações Unidas, claro está. E esperar. Talvez por uma resolução do Conselho de Segurança manifestando “grave preocupação” ou se a situação for mesmo má “exortando” as partes a porem fim ao que quer que estejam a fazer de mau ou então se a coisa estiver mesmo a resvalar para o precipício “apelando” à “comunidade internacional” para fornecer ajuda e ameaçando impor sanções. Ou como diria esse grande diplomata irlandês da ONU que foi Conor Cruise O’Brien: “Pode-se sempre apelar à ONU com a confortável certeza que ela vos vai desiludir”. Os ruandeses ou os massacrados de Srebrenica que o digam….
Na verdade um dos grandes paradoxos trágicos da idade moderna é que a ONU é hoje indispensável na política internacional e contudo é ao mesmo tempo totalmente ineficaz em resolver emergências. Indispensável e impotente. Deveria talvez ser o novo slogan para a ONU, não? O que não é de admirar. Para terem sucesso organizações internacionais têm que harmonizar as vontades dos estados membros e para alcançarem tal objectivo têm que se guiar pelo mínimo denominador comum, paralisada assim a iniciativa e tornando-se em grande parte dos casos num obstáculo à resolução de problemas e crises.
É por isso que todos nós sabemos o que significam as palavras código “comunidade internacional”. Ao fim e ao cabo quem é que tem a capacidade de no espaço de dias colocar helicópteros, barcos e soldados para…enviar ajuda imediata de emergência às vítimas do Tsunami ou do tremor de terra em zonas longínquas do Paquistão? (resposta deixada em vazio para não ferir susceptibilidades).
Quando se quis por termo às aventuras do Slobodoan Milosevic na Bósnia e no Kosovo a quem é que a UEtupia pediu ajuda? (resposta deixada em vazio para não ferir susceptibilidades).
Quando se fala em enviar uma força para Darfur quem é se diz que TERÁ que fornecer apoio logístico e de informação? (resposta deixada em vazio para não ferir susceptibilidades).
Quando houve que enviar tropas de emergência para estabilizar a Serra Leoa quem foi “a comunidade internacional”? O vendido do Tony Blair claro está…
Quando foi preciso restabelecer a ordem em Timor na altura do referendo quem foi a “comunidade internacional? Os vendidos dos australianos, claro está..
O que nos leva à pergunta que o Ramos Horta deve ter feito a si próprio esta semana. A quem é que vou pedir ajuda para pôr termo a esta palhaçada?
A resposta é simples ainda que para muitos dolorosa de aceitar: Chama-se os “States” ou então os seus aliados regionais, ou como diria aqui um diplomata (cuja nacionalidade eu mantenho no sigilo para não vos chocar) os “sherifes” locais.
E esses “sherifes” são geralmente aqueles que: 1) tem capacidade de projectar poder; 2) Não têm vergonha em dizer que têm as costas quentes porque têm os “states” do seu lado.
Por coincidência (ou não?) ainda há uns dias atrás o John Howard esteve aqui em Washington a falar com o Bush e depois na conferência de imprensa disse que “aqueles que pensam que o mundo seria melhor sem a presença dos Estados Unidos não sabem o que estão a dizer”.
Eu sei que irrita. Ah pois não. O poder irrita sempre, principalmente quando às vezes vem acompanhado de uma certa falta de elegância ou mesmo de não “savoir faire”.
Mas como disse o MNE australiano Alexander Downer: “Resultados são mais importantes do que a fé cega nos princípios da não intervenção, soberania e multilateralismo”.
Quem fala assim não é gago. Os timorenses sabem-no. É por isso que Ramos Horta discou o número de Downer em Camberra e não o de Kofi Annan em Nova Yorque.

Da capital do Império,

Jota Esse Erre.

PS – Sim eu sei. Depois da coisa estar acalmada a ONU vem administrar a nova ordem. É para isso que serve (bem ou mal). Antes da resolução contudo é preciso “botas no terreno”. Neste caso made in Austrália
PS II – Americanos, britânicos, australianos… (deve ser une conspiration anglo saxonique, non?)

6 comentários:

maloud disse...

Parece que as botas da GNR também vão. Mas como pertencem a um paíseco da UE, e nem sequer falam inglês, devem ir só para decorar o ramalhete.

Anónimo disse...

A ONU tem feito o que é possível, os EUA é que acabaram com a forca multinacional de 11 mil elementos.Visto custearem tal forca internacional na ordem dos 30 por cento.De qualquer modo, Timor é mais um presente envenenado para a diplomacia portuguesa. Veja-se a foto-reportagem da euro-deputada Ana Gomes no blogue Causa Nossa. É que com tais legendas- " Limpar as praias ajudava a combater o desemprego...", aí, sim, se espelha a irresponsabilidade, a ligeireza e a má consciência dos " ocidentais ",perante o alastrar de uma guerra civil larvar, com origens em Abril passado,e com sombras de racismo tribal muito perturbadoras. A ONU, especialmente Kofi Annan, tem sido de uma grande correccao e manteve desde sempre uma intervencao política muito correcta. Quem é que quer ultrapassar a ONU, enfraquecê-la e quebrar-lhe os rins? Os EUA estao numa posicao actual muito dificil- do ponto de vista geopolítico e militar- no Sudeste Asiático, especialmente nas Filipinas e na Indonésia, remetendo para a Austrália e Japao a gestao dos dossiers complexos que surjem. Sabe-se que as negociacoes sobre o gás natural no Golfo de Timor têm provocado grande celeuma no diálogo entre os dois países vizinhos.Tudo isto sao dados microscópicos de uma situacao desencantada, do ponto de vista social e económico,que podem avivar ainda mais a fraqueza negocial do Estado presidido por Xanana Gusmao. Se a ONU nao intervém, o que é que pode acontecer? Caos deslizante até se formar um governo de emergência e se definam as prioridades para recomecar de novo.O Brasil,a Franca e a Argentina estao atentos e aproveitam oportunidades para se estabelecerem como parceiros económicos do jovem país, a médio prazo. O Haiti, a Somália, a Jamaica e o Sudao, entre outros, sao estados à deriva que se encontram na mesma situacao que Timor, e nao se sabe quando terminará o seu calvário. FAR

Anónimo disse...

Breaking News! Breaking News!- A Organizacao de Cooperacao de Shangai, iniciativa sino-russa e que envolve os países produtores de gás e petroleo da Asia Central, pretende aceitar a admissao do Irao, da India, da Mongólia e do Paquistao. O PR iraniano vai estar mesmo presente na cimeira de 15 de Junho, segundo o NYT de sexta-feira. O equilibrio e a "tanga" de Bush-Rice estao a perder pontos todos os dias...É que, justamente, o Irao projecta uma refinaria gigantesca para ajudar os seus prosélitos na Indonésia!!! A OEP está a ser ultrapassada pela iniciativa conjunta dos russos e dos chineses. A seguir com muita atencao!FAR

Anónimo disse...

Jota Esse Erre

Irrite-nos!

Vê-se, na sua prosa, que tem um problema mal resolvido com a "Mãe Pátria".
Por favor. não se renda aos australianos e aos americanos.
A Lusitânea tem mais encanto!

Anónimo disse...

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