Até pela data que é.
Em 75, em Novembro de 75 tinha 16 anos. Era um puto. Tinha, na turma, malta que vivia do IARN. Aqueles gajos tinham direito a lanche e eram reaccionários como tudo. Andava no Liceu do Pragal (actualmente Esc. Sec. Fernão Mendes Pinto). Foram difíceis aqueles dias. Tinha o desenho do Che Guevara feito por mim a tinta da china num bornal que tinha comprado na Feira da Ladra, era nele que levava livros e caderno de apontamentos. Estava mais que identificado.
Almada em Novembro de 75 foi dura para um gajo de 16 anos. No Forte da Trafaria prenderam homens que fizeram o 25 de Abril de 74. O ambiente na escola era de cortar à faca: os 'retornas' e os CDS's faziam esperas aos colegas que estavam identificados como sendo 'comunas' ou 'pró-comunas'.
O 25/11/75 foi, para mim, o ajuste de contas dos que fugiram para o Brasil no dia 26 de Abril de 1974. Manobraram até conseguir o que pretendiam. Eles aí estão - com novos nomes, talvez - controlam a banca, as principais indústrias, compram políticos, controlam os 'media'.
Relembro, em jeito de homenagem, José Carlos Ary dos Santos:
« Ouvi banqueiros fascistas
agiotas do lazer
latifundiários machistas
balofos verbos de encher
e outras coisas em istas
que não cabe dizer aqui
que aos capitães progressistas
o povo deu o poder!
E se esse poder um dia
o quiser roubar alguém
não fica na burguesia
volta à barriga da mãe!
Volta à barriga da terra
que em boa hora o pariu
agora ninguém mais cerra
as portas que Abril abriu!»
8 comentários:
Não tenho a opinião dos meus companheiros dese blogue.
Estou aqui porque houve o 25 de Novembro. Salvo erro, cheguei um mês depois.
Na 1ª volta votarei Soares. Se houver 2ª, Soares ou Alegre.
Tenho imenso orgulho nos meus companheiros de blogue. Devo a Mário Soares esta liberdade que tenho.
Apetece-me dizer,
estou aqui, porque nasci e ainda não morri.
Não sou poeta como o Ary.
Não sou imortal como os poetas. Sou uma observadora atenta.
Só por vezes para não me desgastear em desencantos.
O 25 de Abril, que vivi com 11 anos, deu-me a possibilidade de me expressar, desde essa data até hoje, em liberdade. Ressalvo: cada vez com menos espontaneidade, cada vez com menor qualidade.
Qual será o motivo?
Muitas das "portas que Abril abriu", foram cerradas.
Hoje, muitos dos sonhos dessa infância se desvaneceram.
Por isso gosto cada vez menos de comemorar datas. Duvido delas.
Coisas da idade... para não dizer mais...
Ah! lembrei-me!...a despropósito: Depois de 30 anos, a censura ainda existe e a falta de espírito democrático também.
Quem diria?
Memória curta?
O povo envelhecido?
Resta-me acreditar na minha avó que dizia que a esperança é a última a morrer.
Quando a perder já sei...
até lá,
vou recordando a rara preciosidade que foi o meu sorriso desses tempos,
lendo uns poemas,
amando os que são poetas.
marga
Verdade seja dita que nunca se deve enganar as crianças
Você está aqui, AR, porque houve um 25 de Abril e não, como diz, um 25 de Novembro.
Pode votar em quem quiser, ter as convicções que quiser, não pode é dizer que deve a liberdade a uma só pessoa, neste caso MS ... Foram muitos os que pereceram, os que sofreram, os que foram para a guerra, os que tiveram que emigrar ... para que você hoje tenha essa liberdade de que tanto se orgulha. E ainda bem ! É sinal que o 25 de Abril ainda está vivo.
Foram os militares que nos deram a Liberdade ! Até ao Mário Soares ...
Nunca esqueça isso.
Em Agosto de 1975, uns 3 meses antes do 25N, na Cimeira de Helsínquia que reuniu uns quarenta e tal chefes de Estado e de Governo dos países da Nato (Costa Gomes por Portugal), do Pacto de Varsóvia e do Conselho da Europa para a assinatura da Acta Final da Conferência para a Segurança e Cooperação na Europa, o enviado especial da RTP foi Cesário Borga.
Numa reunião menos protocolar, testemunhou esta conversa entre Gerald Ford, Henry Kissinger e Leonid Brezhnev:
LB – (depois de pedir ao intérprete que procurasse Costa Gomes) Sr. Presidente, o Sr. Presidente dos Estados Unidos acaba de me dizer que é inquestionável que os Açores fazem parte do Atlântico Norte. E eu estou de acordo.
Como gosto fantasiar, acrescento:
HK – (de imediato) E Portugal também!
Júlia:
O 25 de Abril, para mim, cumpriu-se no 25 de Novembro.
Tenho memória.
Armando: A tua costela social-democrata não te deixa sózinho.Tenho-te enviado uns textos do mais puro social-democrata que existe à face da terra, o Michel Rocard, espero que os imprimas e partas à (re)descoberta dos seus livros e intervenções. Helàs, ele como o Jospin, têm mais simpatia pelo Sampaio & Banda, do que pelo Soares. Mas não faz mal. Não gostei mesmo nadinha da entrevista do Anibal ao Público, pois, como dizia o Deleuze-P.Valery, o mais profundo é o que vem à superfície. Não há que hesitar: ou votar em Soares ou num candidato-esquerdista-tipo-mula-do-Canal-Caveira. FAR
Caro Fernando
Todos os regimes políticos têm as suas vantagens e desvantagens.
No que diz respeito à democraciá é graças a ela que hojem em dia você pode publicar páginas de um diário socrático que muito prazer me dá ler.
A propósito,sou sobrinha do Cirurgião Francisco Murinello e aprs-me saber que você lhe tem tanta estima.
Joana Murilleno o seu tio ainda dá consultas ?
Enviar um comentário