Se derrubarmos os muros que cercam o local (e separarmos, portanto, o seu conceito do de raça, de religião, de etnicidade, de nação e de povo), podemos fazê-lo comunicar directamente com o universal. O universal concreto é aquilo que permite à multidão passar de lugar em lugar e tornar cada lugar o seu próprio lugar. Tal é o lugar comum do nomadismo e da mestiçagem. É através da circulação que se compõe a espécie humana comum. Orfeu de múltiplas cores e de um poder infinito: é através da circulação que é constituida a comunidade humana. Fora de qualquer nuvem das Luzes ou de qualquer fantasia desperta kantiana, o desejo da multidão não é o Estado cosmopolita mas uma espécie comum. Como num Pentecostes secular, os corpos misturam-se e os nómadas falam uma língua comum.
Michael Hardt e Antonio Negri in Império, Ed. Livros do Brasil, pp. 396-397
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