sexta-feira, 18 de novembro de 2005

Nomadismo e miscigenação (2)

Os heróis reais da libertação do Terceiro Mundo terão sido, na realidade, os emigrantes e os fluxos de populações que destruiram as velhas e as novas fronteiras. Com efeito, o herói pós-colonial é quem transgride constantemente as fronteiras territoriais e raciais, quem destrói os particularismos e aponta a direcção de uma civilização comum. O comando imperial, pelo contrário, isola as populações na pobreza e só lhes permite que ajam envergando as camisas de forças das nações subordinadas pós-coloniais. O êxodo do localismo, a transgressão das alfândegas e das fronteiras e a deserção da soberania foram as forças efectivamente operantes na libertação do Terceiro Mundo. Aqui, mais que em qualquer outro lado, podemos reconhecer claramente a diferença estabelecida por Marx entre a emancipação e a libertação. A emancipação é a entrada de novas nações e novos povos na sociedade imperial de controlo, com as suas novas hierarquias e segmentações; a libertação, em contrapartida, significa a destruição das fronteiras e mobilidades estabelecidas de migração forçada, a reapropriação do espaço e o poder por parte da multidão de determinar a circulação global e a mistura dos indivíduos e das populações.

Michael Hardt
e Antonio Negri in Império, Ed. Livros do Brasil, pag. 397

1 comentário:

André Carapinha disse...

O melhor argumento contra os esquerdistas que não percebem a revolução que são estas miscigenações, e que ainda andam agarrados aos velhos conceitos como "Portugal" quando olham para o Mundo, para o nosso mundo, para o Novo Mundo.