Acerca dos acontecimentos em França as opiniões podem mudar, o que é natural e saudável. As pessoas podem achar que a resposta deve ser esta ou aquela; podem compreender as razões dos jovens ou achar que os actos eliminam a possibilidade de compreensão; podem não aceitar quaisquer justificações, ou achar que os actos são justificados pela situação em que eles vivem; podem entender que devam todos ir presos, ou que serão necessárias, antes, medidas de reinserção; mas o que as pessoas NÂO PODEM é falsificar, mentir, insultar a inteligência ou mistificar a realidade como fazem estes da direita ultraliberal de vistas tapadas. NÂO PODEM dizer que os jovens vivem bem- são filhos de imigrantes que trabalham nas limpezas, na recolha do lixo ou nas obras, e cuja taxa de desemprego é de 50 %; NÂO PODEM dizer que são islamitas radicais quando se tratam de jovens que nem à mesquita vão, e que ocupam o tempo a beber e fumar charros, actividades muito pouco consentâneas com a militância; NÂO PODEM dizer que têm as mesmas oportunidades que os outros e que só não trabalham porque não querem, quando ninguém dá emprego decente a um jovem vindo de bairro tal com a côr da pele mais escurecida; E NÃO PODEM dizer que isto prova a falência deste ou daquele modelo social (o europeu, no caso), querendo com isso provar a validade da sua teoria laissez faire; os acontecimentos de Los Angeles, então, provariam a falência do modelo americano? É esta simplificação ad nauseum que constitui um insulto à nossa inteligência e define quem a pratica. São, na melhor das hipóteses, meninos betinhos que nada sabem da vida para além dos seus carrinhos desportivos e das suas idas às Docas e aos centros comercias; e na pior das hipóteses gente que está declaradamente de má fé, utilizando esta argumentação suja para tentar defender pontos de vista indefensáveis.
7 comentários:
Chirac/Villepin decretaram o estádio de urgência- uma das formas de estado-de-sítio -para as cidades e comunas alvo da " guerrilha dos indignados ", que se
aproxima das duas semanas de alastramento fulgurante de Norte a Sul do país de Voltaire.O PS apoiou e votou na Assembleia Nacional em conjunto com o partido da direita neo-gaulista, o
UMP, o pedido de declaração do estado-de-urgência formulado pelo PM. Entretanto, nas cidades de província de maiores tradições de luta, os motins continuavam; bem como já se notam sinais de identificação e solidariedade em Amesterdão, Berlim, Bremen e Hamburgo, justamente, as quatro urbes onde Debord/Vaneigem/Castoriadis e Cohn-Bendit deixaram, à jamais (L.Ferré),páginas de subversão inesquecíveis. FAR
Poder, podem. Têm é de ser desmontados, contraditados, com dados concretos, com factos, com comparações.
Tudo o que afirmei está documentado, p. ex., em variadissimas reportagens de jornais portugueses e estrangeiros dadas à estampa nos últimos dias. O que eles afirmam é que não está documentado em lado nenhum, exceptuando nas suas cabeças e nas de srs. como Sarkozy e LePen.
Sempre podemos prometer-lhes que os candeeiros para os pendurar não hão-de chegar.
"...São, na melhor das hipóteses, meninos betinhos que nada sabem da vida para além dos seus carrinhos desportivos e das suas idas às Docas e aos centros comercias..."
Hum, sinto aqui uma pontinha de inveja.
Cheira-me que este gajo anda de transportes públicos, frequenta tascas e faz as compras na Praça de Espanha.
"O que eles afirmam é que não está documentado em lado nenhum, exceptuando nas suas cabeças e nas de srs. como Sarkozy e LePen."
Que autoridade tem você para falar de desonestidade intelectual quando tenta meter no mesmo saco Sarkozy e Le Pen? Se não é desonesto intelectualmente, é no mínimo ignorante, para não dizer imbeil.
Atenção a esse discurso desculpabilizador, “políticamente correcto”, que acaba por ir parar ao outro extremo ULTRA-qualquer coisa.
Penso que deve haver imigração controlada de forma a permitir uma integração plena, de igualdade nas oportunidades. Se não é o caos (e o caos já existe também para muitos outros...) Foi só uma amostra de uma globalização selvagem?
Não sou apologista do estigmatizar as pessoas que fazem trabalhos considerados menores, pois todos são importantes. E essa ideia do “trabalho decente” leva a esse estigma.
Claro que os governos sucessivos franceses ( e não só eles ) fizeram/fazem asneira ao “ encaixar “ as pessoas em HLMs de 14 andares, em guetos verticais, na urbe dos estigmas.
É preciso começar tudo de novo com outra perspectiva!
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