sexta-feira, 4 de novembro de 2005

Estados Unidos não abrem mão da Internet

A controlo da Internet vai estar no centro do debate da próxima cimeira Mundial sobre a Sociedade da informação, que se realiza na Tunisia entre 16 e 18 de Novembro.
É pública posição dos EUA. Não a querem partilhar para a comunidade internacional, quer ela se chame ONU, União Europeia ou outros grupos de países da América Latina ou da Ásia. Por várias razões. A Internet surgiu por lá quando foi criada para fins militares nos anos 60. E actualmente dos 13 grandes servidores que servem de base ao seu funcionamento global, 10 estão nos Estados Unidos, dois na Europa e um no Japão.
Mas, a União Europeia considera que os tempos mudaram, uma vez que a expansão na Internet é a nível planetário. Por isso, como segunda grande potência mundial, vai pedir em Tunis aos EUA um controlo conjunto da Internet. A UE considera-a um recurso global e por isso não faz sentido estar debaixo do domínio exclusivo dos norte-americanos.
No entanto, países como o Brasil, a India e a China querem um controlo multilateral, que englobe mais países em vias de desenvolvimento. Não aceitam uma partilha entre as duas potências, colocando em segundo plano os países tecnológicamente pouco desenvolvidos.
Há uma ideia generalizada que ninguém controla a Internet. Talvez porque tudo pode ser
publicado, quase sem restrições. Embora não existam leis que controlem a divulgação de conteúdos, no entanto, isso não é bem assim. Um dos visitantes recentes do 2+2=5 tinha o número 213.58.135.82, que identifica a sua origem. Quem dá esses números e estipula regras é uma ONG norte-americana, chamada ICANN - Internet Corporation for Assigned Names and Numbers. Que está sujeita às leis do Estado da Califórnia. É óbvio que, em última análise, é a administração central dos Estados Unidos que tem a última palavra. O facto de ser uma ONG, de nome ICANN, não é para ser completamente levado a sério.
Mas, vai ser dificil encostar os Estados Unidos à parede. A poucos dias da Cimeira das Nações Unidas para a Sociedade da Informação, na Tunisia, a ala conservadora da administração Bush está a pressionar a delegação norte-americana no sentido de não fazer cedências. Nem à Europa e muito menos às Nações Unidas.

5 comentários:

Anónimo disse...

É incrível como este "post" pôde passar sem quaisquer comentários das nossas cabecinhas brilhantes!?

Anónimo disse...

Também já tinha notado...
Penso que é por ser um assunto 'novo' do qual não temos sequer a noção da dimensão da coisa. Poucos de nós terão parado para pensar na questão, e ainda por cima passa-se tudo no 'éter'...
Mais uma razão para valorizar o post. Penso que daqui a uns tempos, mais maturados, andaremos a discutir o assunto e a citar este e aquele, como vem sendo hábito...

Anónimo disse...

não acho que seja bem assim.

uma das características fundamentais da internet (e que será eventualmente a razão do seu enorme sucesso) é precisamente a descentralização da internet. os EUA bem se podiam afogar que a internet continuaria a funcionar cá por estes lados (exceptuando os sites sediados em servidores americanos - dos quais suspeito que este seja um deles).

E mesmo que o António Oliveira tenha razão e que o monstro "administração Bush" esteja disposto a violar a integridade da pobre ONG e controlar assim a atribuição de IPs tal não quer dizer nada: se se chegar ao ponto de total incompatibilidade entre as pretensões americanas relativamente à internet e as da europa e/ou do resto do mundo, estes últimos só têm uma coisa a fazer: "desvinculam-se" da actual internet e criam uma nova internet deles, deixando a antiga internet entregue aos EUA.

obviamente que isto iria implicar o redesenhar de um novo protocolo de identificação das máquinas ligadas à rede, a migração dos servidores do Resto do Mundo para o novo sistema, etc, etc. Com custos relativamente elevados, mas comportáveis se esta for a única solução.
Aliás, este redesenhar do protocolo IP será inevitável, pois o sistema de IPs está quase a rebentar pelas costuras. Já quase não há números disponíveis no actual sistema de xxx.xxx.xxx.xxx.

também não irá haver problemas de violação de copyright relativamente ao software, pois toda a pilha de protocolos sobre a qual a internet se baseia (TCP-IP & associados) foi desenvolvida pela "comunidade" sendo de utilização livre.
A ligação entre as duas internets também não iria ser problema de maior.

É que contrariamente às questões de Kyoto e da Proliferação de Armas Nucleares, esta é uma questão em que a unilateralidade da América só causa problemas a ela própria (isolamento) não estando os restantes dependentes do que Bush, America & Lda decidirem.

Anónimo disse...

Se assim é, porque é que os Estados Unidos fazem tanto finca-pé para que nada mude na actual situação?

Anónimo disse...

como é óbvio, eles têm um poder, e ninguém abdica de um poder gratuitamente. a hipótese que eu aventei tem custos elevadíssimos. só seria considerada no caso dos gajos nos quererem mesmo lixar e nos retirarem os IPs ou assim.

do ponto de vista ético claro que a posição deles deveria estar distribuida pelo mundo. mas desde quando é que as decisões políticas se regem pela ética ou pela justiça?