quinta-feira, 17 de novembro de 2005

França: depois da tormenta, as análises

Foi interessante o debate feito no programa “Arret sur Image” , do canal France 5, que dissecou a forma como os media estrangeiros fizeram a cobertura dos últimos acontecimentos em França. Durante as duas semanas em que muitos jovens incendiaram praticamente a vida politica e o quotidiano francês, a visão jornalística passada nos diversos países foi curiosa. Daniel Schneidermann, o pivot do programa que semanalmente analisa o uso e abuso das imagens na informação diária das televisões, considerou que a comunicação social internacional exagerou. E disse mesmo que entrou no campo da ficção ao comparar a situação francesa com a Intifada ou existência de um estado-de-sítio criado pelos muçulmanos. "A insurreição muçulmana em França, é o destaque principal do debate desta noite. Se não acredita no karma, depois desta estória, não sei o que lhe poderei dizer mais...”, dizia Bill O'Reilly, o apresentador da norte-americana Fox News, na abertura do seu programa. O'Reilly, conhecido pelas suas posições pró-W.Bush, foi buscar a oposição francesa à invasão do Iraque para criticar Dominique de Villepin, sem se importar minimamente em pronunciar bem o seu nome.
Já o correspondente da BBC, John Simpson, que participou no programa, considerou que lhe foi difícil cobrir os protestos e os incêndios. "o difícil foi encontrá-los, não aconteceu como estava á espera. No entanto, encontrei algo diferente do que muita gente pensava: não foi uma guerra”, disse.
Daniel Schneidermann considerou ser inevitável em televisão não haver distorção da realidade, devido á natureza do media. As câmaras focam o que mais interessa, que neste caso foram os carros incendiados. Dão-lhes um destaque muitas vezes desproporcionado. E dá como exemplo as imagens que passaram na televisão russa, que davam a impressão que a França estava toda em chamas. “E é claro que a França não estava a arder”, disse o jornalista e apresentador. No entanto, considerou que algumas das críticas dos media internacionais tinham razão de ser e a França tem de as levar a sério. Destaca, nomeadamente, o falhanço da forma como a França tratou a integração dos imigrantes, e também o não funcionamento do seu modelo republicano. Para Daniel Schneidermann “deve ser levada a sério a observação que os jornalistas ingleses fizeram segundo a qual, a nossa liberdade, igualdade e fraternidade é uma treta há mais de 50 anos”.

4 comentários:

Filipe Castro disse...

O'Reilly nao é um jornalista, é um pregador na boa tradicao americana, como os outros zelotas da FOX. Com uma agenda politica determinada com varios dias de antecedencia nos think tanks da Olin Foundation e outras organizacoes neo-nazis, os jornalistas da FOX recebem um memorando todas as manhas com as expressoes a utilizar e as noticias a empolar nos "FOX Alerts!" que se repetem de 20 em 20 minutos. Os factos nunca atrapalham esta escumalha, e quando a FOX quer lancar um boato comeca as "noticias" com "Some say that..."

Anónimo disse...

De facto os media conseguem dar uma dimensão às coisas, que acaba por nunca se saber a verdadeira dimensão do acontecimento. Normalmente tornam relevante apenas uma parte da história, o que não deixa de ser uma distorção da própria realidade. Realidade essa que eles têm a obrigação de transmitir da forma mais objectiva possível.

Anónimo disse...

As nossas televisões deram a mesma perspectiva que as outras. Apostaram na árvore e esqueceram a floresta. Será correcto, segundo o ângulo deles?

Anónimo disse...

Nunca se consegue abarcar toda a realidade. Tem de se ir ao âmago das coisas. Qualquer que seja a análise, ela é sempre parcial. Os media são uma extensão daquilo que nós somos.