
Foto de Francesca Pinna
Lembro com raiva o número
de telefone.
Empurro-o dentro de mim, aperto-o
de encontro às paredes do cérebro.
Quero esquecê-lo.
Tomo os algarismos na palma da mão,
sacudo-os, atiro-os ao vento.
Reconstituem-se.
Ainda me encarniço de novo. Disfarço:
atento no voo parabólico da mosca,
examino a página de anúncios do jornal,
espreito pela janela o homem gesticulando
na paragem do autocarro.
Insinuam-se.
Vão continuar o bailado sardónico,
felinos dentes de hiena risonha.
Ameaça prolongar-se o jogo e todavia
por toda a hora de qualquer dia
acabarei por acordar sem lembrá-lo.
E, já que não posso esquecê-lo,
lembrando-o com raiva, teu rosto frio,
tirarei este pequeno desforço
de esquecer o número do teu telefone.
Rui Knopfli
1 comentário:
Armando: Depois da citacao do Sartre-da era-marxista, ele que depois morreu a "pensar-se" anarquista...( E eu no cemitério de Montparnasse com a m.amante austríaca antes da alcova); pois, diria o conselheiro Acácio, a melhor coisinha que tens feito sao esses poemas seleccionados a ilustrarem fotos das cativas tuas amigas. Tens um manacial, eu que conheci Jorge de Sena, sou amigo do Terra, fui ajudado pelo Seabra do exílio e o enormíssimo metafísico poeta Fernando Echevarria. De Paris, dizem-se que o Terra está muito velhinho e o Echevarria já nao vai para os cafés engatar turistas com dólares no slip. Bom trabalho, Armando e olha o Krugman... para nao falar do fabuloso Thomas Friedman, do Bob Herbert, do Frank Rich, a pleiade do NY Times, o melhor e mais radical jornal do Mundo publicado e com venda pública. Essa tribo fantástica há 15 dias que escrevem a dizer nas entrelinhas que os EUA perdem a guerra no Irak e sugeitam-se a perder o Exército caso nao se retirem já. FAR
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