INDIVIDUALISMO
O moderno pensamento liberal baseia-se nesta simples e singela premissa: entendem que o indivíduo é soberano. Nada de mal nos parecerá esta ideia, que traz a capa do igualitarismo, no entanto por baixo dela esconde-se uma realidade divergente. Para a compreender temos nós de “mudar a agulha” da análise, e ver a coisa por outro prisma. Na verdade, dizer que “o individuo é soberano” não será mais que uma boa ideia, o problema é verificar se existem condições de facto para que o indivíduo, ou melhor, cada indivíduo, exerça livremente a sua soberania. Parece então claro que por baixo desta ideia igualitária esconde-se a mais brutal das desigualdades: uma vez que esta proto-soberania do indivíduo se fará à custa da transferência do poder estatal, resulta que a relação de poder terá de obedecer a novos critérios. João Miranda e os outros liberais não têm pejo em esclarecer de onde virá a nova fonte de legitimação da soberania. Por baixo desta aparência de individualidade nasce o individualismo, e assim todos terão na justa medida do que puderem pagar. Desta forma pode João Miranda escrever, falando de municipalismo, que «Num sistema puramente liberal, o território não é planeado. Os municípios e as regiões organizam-se de acordo com as decisões descentralizadas de cada munícipe», e que «Os habitantes do município M não podem esperar que os habitantes dos outros municípios se diponham a financiar o município M». Ou seja, a cada um consoante as suas posses. É por isto que os liberais defendem o fim dos sistemas públicos de saúde ou educação (como já tive oportunidade de comentar aqui). A sua visão individualista impede-os de entender conceitos como a redistribuição da riqueza, que, note-se, não têm origem em qualquer tentativa quixotesca de igualizar o mundo, mas antes, como Keynes entendeu muito bem, na necessidade de sobrevivência do próprio sistema. É que a acção do indivíduo, se deixada sem controlo, irá necessariamente produzir não a igualdade mas a desigualdade, e numa segunda fase a crise do sistema, uma vez que os liberais não querem entender que as relações entre indivíduos não são iguais na medida em que a relação de poder entre os mesmos é desigual.
O moderno pensamento liberal baseia-se nesta simples e singela premissa: entendem que o indivíduo é soberano. Nada de mal nos parecerá esta ideia, que traz a capa do igualitarismo, no entanto por baixo dela esconde-se uma realidade divergente. Para a compreender temos nós de “mudar a agulha” da análise, e ver a coisa por outro prisma. Na verdade, dizer que “o individuo é soberano” não será mais que uma boa ideia, o problema é verificar se existem condições de facto para que o indivíduo, ou melhor, cada indivíduo, exerça livremente a sua soberania. Parece então claro que por baixo desta ideia igualitária esconde-se a mais brutal das desigualdades: uma vez que esta proto-soberania do indivíduo se fará à custa da transferência do poder estatal, resulta que a relação de poder terá de obedecer a novos critérios. João Miranda e os outros liberais não têm pejo em esclarecer de onde virá a nova fonte de legitimação da soberania. Por baixo desta aparência de individualidade nasce o individualismo, e assim todos terão na justa medida do que puderem pagar. Desta forma pode João Miranda escrever, falando de municipalismo, que «Num sistema puramente liberal, o território não é planeado. Os municípios e as regiões organizam-se de acordo com as decisões descentralizadas de cada munícipe», e que «Os habitantes do município M não podem esperar que os habitantes dos outros municípios se diponham a financiar o município M». Ou seja, a cada um consoante as suas posses. É por isto que os liberais defendem o fim dos sistemas públicos de saúde ou educação (como já tive oportunidade de comentar aqui). A sua visão individualista impede-os de entender conceitos como a redistribuição da riqueza, que, note-se, não têm origem em qualquer tentativa quixotesca de igualizar o mundo, mas antes, como Keynes entendeu muito bem, na necessidade de sobrevivência do próprio sistema. É que a acção do indivíduo, se deixada sem controlo, irá necessariamente produzir não a igualdade mas a desigualdade, e numa segunda fase a crise do sistema, uma vez que os liberais não querem entender que as relações entre indivíduos não são iguais na medida em que a relação de poder entre os mesmos é desigual.
6 comentários:
A esta patacoada dou 4 valores, mau + , ou seja na classificação de 0 a 20, do "antigamente". Aguardo com muita serenidade a próxima. Se autor pedir para lhe rever a nota, explico-lhe a razão pela qual levou esta negativa, mas dúvido que lhe consiga subir a nota. É mau demais para ser verdade.
Não sei qual é a bitola do senhor ou da senhora do andar de cima.
Para mim ficou clara a diferença abismal e com consequências opostas entre igualitarismo e igualdade.
A bitola do senhor do andar de cima, ( gostei francamente dessa, que é 100 vezes mais elegante que chamar "anônimo" ), é normal, e sem pretensões em falar de cátedra. Para começar a expressão "patacoada" foi tirada do post, no qual o Sr. Carapinha fazia a apresentação deste cavalheiro, e quais as intenções dele nesta série de post neste blog. De facto, e até agora são patacoadas, porque mete todos os tipos de liberais no mesmo saco, o para além de revelar ignorância, é tendencioso. Para além disso apresenta os "liberais" como seres acéfalos, ou seja de perceber e de executar o b+á=bá da gestão de seja daquilo que for, fazendo uma mescla de conceitos que não cabe na cabeça de um cão tinhoso. Aliás, convido o Sr.zemari@ a ver o post número 3 desta saga de mau gosto e ignorância tendenciosa, onde até o pobre Darwin é metido ao barulho. Mais valia ele dizer, NÃO GOSTO DE LIBERAIS; SÃO UNS MERDAS QUE ACREDITAM NO DESENVOLVIMENTO DAS SOCIEDADES PELA "SUBLIMAÇÃO" DAS CARACTERÍSTICAS DO INDIVÍDUO, AS QUAIS VÃO CONTRA O MEIO CONCEITO DE DESENVOLVIMENTO DAS MESMAS SOCIEDADES. Agora não apresente os liberais como individuos acéfalos, estúpidos, desprovidos de qualquer tipo de sensibilidade e sem escrúpulos de espécie alguma. Este tipo de discurso ou narrativa, só tem paralelo nas edições de bolso do Livro Vermelho do Mao ou o Livro Verde do Kadhaffi. Simplísticamente deturpador e perigoso.
Caro senhor do andar logo acima deste:
Lamento, mas não apresento os liberais como "individuos acéfalos, estúpidos, desprovidos de qualquer tipo de sensibilidade e sem escrúpulos de espécie alguma". A sua aproximação à questão é que é bem perigosa, uma vez que está a pessoalizar debates teóricos.
É livre de achar que a prosa é tendenciosa e de mau gosto. Também eu sou livre de achar que não fez sequer um esforço para perceber o que leu.
Agora, se me pergunta se os liberais (sim, todos os liberais modernos, independentemente da corrente) não perceberam nem percebem nada do mundo, tenho de responder que sim. Aliás, em breve a "saga de mau gosto" irá continuar com um post justamente sobre este aspecto em particular.
Aviso: é a última vez que respondo a um comentário referente a esta série de posts. Isto porque já estou à espera que o discurso se extreme, e não estou para isso.
Sr.André Carapinha, agradeço o seu comentário ao "andar de cima". Pessoalizar os debates é fatal, porque estamos a debater assuntos bem concretos, com experiências bem reais já realizadas, pelo que o conhecimento teórico dos comentadores, ( pelo menos o meu ), estará sempre acompanhado pelos conhecimentos adquiridos por outras vias que não os teóricos. Penso que só assim se pode enriquecer o debate. Se você acha que os liberais ainda não aprenderam ou melhor perceberam nada do mundo, é por que você está completamente distraído ou quem não aprendeu nada foi você. Aliás este comentário ao comentário do Sr.zemari@ foi um " 3 em 1 ". Quanto ao facto de você não responder ou comentar mais nada referente a esta saga, está no seu direito, mas só espero que os habituais e fiéis "clientes" anônimos deste blog, também não começem a " não estar para isto ", quando os responsáveis pelos posts por esta ou aquela razão se vão alhear do debate criado. Talvez aqui resida parte da explicação para você achar que os liberais não aprenderam nada sobre o mundo.
P.S.- Queria deixar bem claro que o termo "pessoalizar" não abrange de forma nenhuma a si e ao autor da "saga", pessoas que nem conheço e que me merecem todo o respeito, apesar das diferenças notórias de opinião. Pessoalizar deve ser entendido como a expressão "pessoal" de uma opinião. Para terminar, penso que o autor poderia no fim apresentar alguns "case studies" que sustentem as opiniões aqui expressas, porque teorias sobre os "liberais" ou outras correntes políticas já com "barbas", penso que não vai acrescentar nada de novo, salvo se é para "refrescar" alguns conceitos já em hibernação nas nossoas "cabeças". Penso que um dos grandes problemas de Portugal, seja nesta área ou noutra qualquer é teorizar ou reinventar a roda, em temas que, em muitas partes do mundo já morreram, ou estão moribundos.
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