quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Rimbaud (2)

desenho de Patti Smith

LE MAL

Tandis que les crachats rouges de la mitraille
Sifflent tout le jour par l'infini du ciel bleu ;
Qu'écarlates ou verts, près du Roi qui les raille,
Croulent les bataillons en masse dans le feu ;

Tandis qu'une folie épouvantable, broie
Et fait de cent milliers d'hommes un tas fumant ;
- Pauvres morts dans l'été, dans l'herbe, dans ta joie,
Nature, ô toi qui fis ces hommes saintement !... -

- Il est un Dieu qui rit aux nappes damassées
Des autels, à l'encens, aux grands calices d'or,
Qui dans le bercement des hosanna s'endort,

Et se réveille quand des mères, ramassées
Dans l'angoisse et pleurant sous leur vieux bonnet noir,
Lui donnent un gros sou lié dans leur mouchoir !

19 comentários:

Anónimo disse...

Adoro o Rimbaud!
Pedro

Anónimo disse...

Sendo do traficante das armas que cuspiam "escarros vermelhos da metralha /crachats rouges de la mitraille" até nem está mal e não desmerece a sua Poesia.

Ele e Dali fazem um lindo par de renegados que mandaram às malvas,no primeiro repto que enfentaram, o binómio Estética/Ética da praxis surrealista, a quem tando deram.

André Carapinha disse...

zemari@, lamento mas vamos ter neste momento o nosso primeiro desacordo blogueiro.
O Rimbaud era um aventureiro, um homem do seu tempo, mas um homem do mundo. Como saberás, deixou a escrita aos dezanove anos (!). Depois disso viveu na nossa África como comerciante, traficante e negreiro. O que nunca deixou de ser foi o espírito livre que as suas poesias deixam transparecer. Todo o seu percurso é, aliás, absolutamente coerente com a sua obra. Trata-se de um verdadeiro homem trágico, como poucos (lembro-me de Nietschze, Sá Carneiro, Célan, Camus...), e um aventureiro que viveu a vida "sugando o tutano do mundo", como dizia o Whitmnn.
Deixo aqui um trecho de Jean Cocteau (a citação é de Rimbaud):

«Sempre afirmei que não é verdadeiramente poeta quem não erra. Aqui a regra ultrapassa os limites. Mas é preciso ver na amputação uma prova do combate com o anjo e do amor feroz das Musas, semelhante ao da louva-a-deus que devora o macho.

"Eles detestam a beleza quando ela é feia. Eles adoram a fealdade quando ela é bela. Nisto está todo o drama!"

É da fabulosa herança de alguns artistas, mortos na miséria, que todos nós vivemos. Quis o destino que um jovem poeta desconhecido contradissesse os filhos-da-mamã que somos e descobrisse o segredo de um novo mártir.»

André Carapinha disse...

*Whitmnn = Whitman

Anónimo disse...

Do Célan nunca li nada, não me posso pronunciar.
Agora meter no mesmo saco Rimbaud, "Nietschze, Sá-Carneiro e Camus"... nem a brincar.
O Nietschze só se foi pelo seu gosto pelo "ménage à trois", o que me parece fora de questão.
A maior peripécia de Sá-Carneiro foi a viagem de comboio Lisboa-Paris. A sua sensibilidade tolhia-o.
Camus foi um fazedor altamente interveniente na sociedade francesa e europeia da sua época.

Rimbaud era má rês.
O que, repito, "não desmerece a sua Poesia".
Uma coisa é a vida, outra é a obra.
Por isso sou fã de Pound e Céline.

Esta destrinça foi uma das muitas que o centralismo soviético/maoísta nunca percebeu.




Aventureirismo não é falta de escrúpulos. Surfar na vida não é ser trafulha. Provocar, desmontar ou desafiar a norma

Anónimo disse...

... não é trapacear.

André Carapinha disse...

Zemari@, só duas notas:
1- Espiritos trágicos (definição minha): homens que se sentiam desconfortáveis com o seu tempo, e que fizeram da sua vida e obra a expressão do seu desconforto. Daí, Célan, Nietschze, Sá Carneiro, Camus...Rimbaud.
2- Não concordo em absoluto que Rimbaud fosse má rés. No entanto, admitindo que o fosse, "Uma coisa é a vida, outra é a obra", como disseste. Porquê, então, a embirração? A obra é suprema, é um daqueles poetas que estão um degrau acima dos grandes, como Pessoa ou Yeats.

André Carapinha disse...

(ando-me a enganar muito...)
«Daí Célan, Nietschze, Sá Carneiro, Camus...Rimbaud.»

(ainda pensavam q estava a falar do Dalí...)

Anónimo disse...

Chiça, que aqui os comentários a este post são de primeiríssima água, reservado ás estrelas..Azar meu, eu embirro com poetas...O meu sentido de estética e de viver a vida, não compadece com este estilo literário e respectivos fazedores de poesia. Vão me perdoar esta heresia, mas os poetas parecem sempre pessoas com assuntos da vida "mal resolvidos". Só os poetas é que são capazes de causar as diferentes opiniões aqui demonstradas, e a mais aberrantes perplexidades, que vão do "ménage à trois" ao "centralismo soviético/maoísta" ! Mas confesso que gostei do excelente nível de pirotécnia cultural demonstrado, mas como os inglese dizem, "this is not my cup of tea".

André Carapinha disse...

Caro Anónimo, cada um embira com quem quer. Você embirra com poetas; eu pessoalmente embirro com construtores civís, aceleras de auto-estrada, familias tugas no Colombo, pais que espancam os filhos, e demais ignorantes em geral.

Anónimo disse...

Caro André, pelos vistos embirramos com as mesmas coisas, assuntos e pessoas, excepto nos poetas. Eu embirro, você não. Espero que não me tenha incluído nos "demais ignorantes em geral"! "Blogar", é das raras oportunidades que temos na vida, em que nós fazemos e dizemos aquilo que queremos e gostamos. Sem esforço e com prazer. Quando se "embirra" com qualquer coisa, esse prazer e energia para debater desaparece, mas não quer dizer que não se conheça algo sobre a matéria em debate. Não sou grunho, nem pimba..., em todo o âmbito e sentido que o vosso novo colaborador, Rebelo, se referia no post que o André tanto gostou.

Anónimo disse...

P.S.- André, incluíndo como é óbvio, a arrogância intelectual, como uma forma de grunhice.

André Carapinha disse...

Caro Anónimo, não o incluo nos "demais ignorantes". No entanto, confesso-lhe a minha embirração com aqueles que, como você, embirram com os poetas. Cheira-me logo a preconceito-complexo-de-inferioridade contra os "intelectuais" ou os artistas, e a esse discurso rasteiro e oportunista do "trabalho" contra os "ociosos" dos poetas, como se escrever não desse trabalho, e como se a poesia e a cultura em geral não fossem importantes para a nossa vida. Um discurso assim para o cavaquista, se me percebe.
Compreenda-me: este assunto faz-me mesmo subir a mostarda ao nariz.

Anónimo disse...

André, você está a ver coisas que eu não escrevi, e que nem de longe, nem de perto me queria referir a elas. Admito que lhe suba a mostarda ao nariz com este ou qualquer outro assunto, mas a série estonteante de conclusões que tira, são completamente despropositadas. Ainda por cima falou do Cavaco Silva, personagem que eu neste blog já tive a oportunidade de comentar com 100% de negatividade, passe a expressão. Ociosidade, discurso rasteiro, preconceito-complexo de inferioridade contra os intelectuais...Chiça André, você para além de ter embirrado, está de mau humor, porque o facto de eu considerar os poetas, pessoas com assuntos da vida mal resolvidos, ou melhor ainda, com demasiados assuntos da vida mal resolvidos, porque todos nós, penso eu, padecemos do mesmo "mal", assuntos esses que como é óbvio podem ser de índole profissional, emocional, sentimental, existencial, filosófico, político, etc, não quer dizer que sejam ociosos, ou que o seu nível intelectual não seja por vezes elevadíssimo. O que eu quero dizer é que o estilo literário que escolheram para exprimirem o que lhes "vai na alma", é por vezes uma forma de defesa ou mesmo uma forma de desculpabilização de certos actos ou perspectivas da vida que têm, dado o carácter normalmente benévolo e condescente com que a sociedade olha para os poetas. Um prosador seja de qual for a natureza do seu trabalho, filosofia, política, romance, história, etc, corre sempre sérios riscos de ver o seu trabalho comentado com adjectivos muito mais fortes e contundentes do que a um poeta. André, o meu comentário foi de uma boa educação extrema, aliás "tirei o chapéu" ao excelente nível de conhecimentos nesta matéria demonstrados por si e pelo zemari@, e no fim levo uma "roda" de cavaquista, ( só lhe faltou chamar-me "bushista"), entre outros mimos, que se eu não tivesse a acompanhar com muita atenção o seu "trajecto" neste blog, e caísse aqui de "para-quedas" entre ontem e hoje, diria com a maior das injustiças e a roçar a infâmia, que o André era o herdeiro espíritual e moral do tristemente famoso "Bando dos Quatro" que fizeram a Revolução Cultural na China. Como é óbvio vou-me excusar de dissertar sobre esse período horripilante e tristemente célebre da História Moderna da China.
1º-P.S- André, a sociedade olha com tal condescendência e benevolência para os poetas, que em relação ao nosso poeta nacional e ainda no activo, Manuel Alegre, ainda nínguem com responsabilidade e visibilidade suficientes, teve a coragem de lhe dizer olhos nos olhos, ou de "caras", que ele a escrever poesia é sofrível, mas como PR ou governante vai com certeza deixar muito a desejar. Vai-me perdoar, mas este é o meu ponto de vista, mas aceito outros, sempre tendo como farol da minha vida, a superioridade da democracia e da civilização.
2º-P.S.- André, eu já tive um knick, até ao belo dia que no 2+2=5 foi publicado um post do EPC, um intelectual com um grande sentido oportunista, mercantilista e "tachista", (conheço muito bem o EPC, e o seu trajecto político e profissional), dedicado aos anônimos, e eu solidarizei-me com os anônimos deste "mundo", e virei anônimo, e não me sinto nada mal nesta pele. Acho que os anônimos mereciam melhor que o EPC. Talvez um dia volte com um knick diferente..., mais "cool" e suave...

André Carapinha disse...

Caro Anónimo: o seu comentário fala por si. Não gosta, não percebe, não sente a poesia, está no seu direito. Mas já não me parecem legítimas as apreciações que faz sobre "os poetas" (e não sobre "a poesia", note-se). Insisto: há aí um ressentimento evidente. Ainda estou para perceber onde está a "desculpabilização" dos "males da vida"- isto só mostra que o caro Anónimo não entende patavina sobre o papel da poesia na nossa vida, aliás, compara-a abusivamente com a história ou a filosofia, quando são expressões de objecto e natureza distintos, quando não antagónicos.
Só uma nota: está tremendamente enganado quanto à suposta "condescendencia" de que os poetas beneficiariam no nosso país; é aliás absolutamente ao contrário. Não reparou ainda como o próprio Alegre é constantemente desvalorizado por ser poeta? Como os discursos são assim para o "é um sonhador, um poeta (vive no mundo da lua)" em oposição à figura construida do "político técnico (vive no mundo real)", que é alimentada exactamente por opiniões como a sua, maioritárias ao limite na nossa sociedade? Portugal é e sempre foi um país de excelentes poetas, mas sempre foram tratados abaixo de cão; sabe quantos bons poetas desde sempre conseguiram ganhar dinheiro com o que escreviam? Eu digo-lhe: um- Herberto Hélder.

Anónimo disse...

Não posso deixar de meter a minha colherada:
Sr. Anónimo, você é daqueles que acha, que ler muito faz mal aos olhos, não é?

Anónimo disse...

Como é por demais evidente, a poesia não é não é o meu "prato forte". Prefiro outros. Daqui no vem nenhum mal ao mundo. Não gosto, não porque quando aprendi a ler, decidi que não queria ler, e muito menos de não gostar de poesia. Li, e não me identifico como a forma e o estilo da mensagem que os poetas querem passar. Há excepções. Raras, mas há. Sou uma pessoa que gosta de correlacionar, o que se escreve, com quem escreve, no caso da literatura, e com tudo que se relaciona com a minha vida. É um bom exercício. Daqui também não vem mal nenhum ao mundo. Verifiquei que a maioria dos poetas são personalidades complexas e contorversas. Pelo teor da troca de comentários entre o zemari@ e o André, não é preciso ter andado em Princeton or Harvard para perceber. Para ler, prefiro os prosadores, como por exemplo, vocês. Que me tenha apercebido não são poetas. A minha vida privada e profissional infelizmente não se compadece com leituras de digestão e interpretação difícil. Admiro quem seja capaz, e pelos vistos vocês são. zemari@, sou um leitor insaciável. Adoro ler e escrever. Se não gostasse, blogar para mim seria uma tortura. Quantos aos poetas locais serem tratados abaixo de cão, não conseguirem ser poetas profissionais, etc, pergunte a quem gosta de poesia, mas não compra e não os incentiva a escrever. Na minha área profissional, e em situações similares, dizia-lhe qual a razão, mas aqui admito que iria ferir susceptibilidades. Mas posso dar-lhe um pequeno lamiré, quem trabalha muito e bem, com muita qualidade, normalmente consegue vender e vencer, como o Herberto Helder. Ser profissional seja qual for a profissão, requer muito trabalho e qualidade. O mercado cada vez é mais exigente e competitivo. Quanto ao Manuel Alegre, a abordagem que teve lembra-me a da garrafa de whisky, para uns está meio cheia, para outros meio vazia. Pois, não se esqueça quem ninguém é imune a criticas, e a que manipulação dessas mesmas criticas ou comentários ao Manuel Alegre também funciona ao contrário. Todos os poetas deste país não se importavam com certeza de ter a "sorte" na vida que Manuel Alegre teve, assim como a influência perniciosa de ser poeta para alcançar o estatuto económico e social que detem. Uma candidatura a Belém custa umas centenas de milhares de contos, que nunca vêm dos bolsos dos candidatos, mas sim de apoiantes, e dos famosos mecenas, que financiam as campanhas politicas em Portugal, que aparentemente não querem nada, mas depois querem gerir s influências que financiaram. Estou certo que o André não acredita no Pai Natal. Acredito que para o Manuel Alegre seja uma operação de "capital de risco", mas mesmo perdendo, ele continua a ser um activo muito importante e valioso num portofólio de qualquer empresa ou empresário que o financie. Está a ver, que os poetas não vivem assim tão mal. Ainda têm crédito. Os tais poetas muito bons que você fala, estão como outras pessoas de outras áreas, à procura do primeiro emprego, de um bocado do lugar ao sol! Não há mercado em Portugal para mais poetas? Virem-se para outro lado , e procurem vida, ou então façam como Manuel Alegre, tenham dois empregos, um como politico e o outro como poeta nas horas vagas. Ou também podem autoflagelarem-se e dizerem que este pais é uma merda, uma corja de incultos, etc. É pena, mas a vida ganhasse com aquilo com que se compra os melões!

Armando Rocheteau disse...

Porra!

Também tenho problemas mal resolvidos.Se os sublimasse a poetar era poeta.

Infelizmente, oh musas que não me inspiram, só posso respoder assim.
,

Anónimo disse...

Todas as sociedades/culturas têm os seus poetas, nem que sejam apenas letristas de cânticos.
Mas acho bem possível que haja sociedades com pouca ou nenhuma poesia (nós, actualmente, por ex.)

A poesia "difícil", só para espíritos de alto coturno, "não" existe. Existem sim, mais ou menos hábitos de leitura.

Três poemas de outros tantos poetas que aprecio sobremaneira:

Faz mal o filho que mente
a seus pais, quando rapaz,
e é já tarde quando sente
o mal que a si próprio faz.
(António Aleixo)


Carta de minha Mãe.
Quando já nenhum Proust sabe mais
enredos,
A sua letra vem
a tremer-lhe nos dedos
-- «Filho»
E o que a seguir se lê
É de uma tal pureza e de um tal
brilho,
Que até da minha escuridão se vê.
(Miguel Torga)


Eu vi a luz em um país perdido.
A minha alma é lânguida e inerme.
O! Quem pudesse deslizar sem ruído!
No chão sumir-se, como faz um
verme...
(Camilo Pessanha)

Três exemplos de alta poesia "fácil".

Para concluir: é claro que estou muito mais à vontade a falar de Prosa do que Poesia, arte que não frequento tantas vezes como gostaria.