domingo, 23 de outubro de 2005

No país das Grunhisses - a grande confusão (2)

O ensino público (insisto...) atingiu níveis inusitados de grunhisse. Cada governo traz a sua reforma, como se ensinar se fizesse por decreto ou portaria. A escola pública tornou-se um campo de experiências desvairadas, com reformas atrás de reformas.
Tivemos de novo, ontem, num suplemento do jornal 'Público', o inefável 'ranking'.
Tremei, ó classes médias empobrecidas! Contai até ao útlimo cêntimo e chegareis à triste conclusão de que os vossos filhos hão-de sofrer nas escolas públicas! Não há qualquer esperança.
É o ensino privado que faz chegar com sucesso à almejada Universidade, privado e, de preferência, católico.
Daqui sairão as cabeças pensantes que hão-de ditar leis no futuro.
As élites sairão de quem tiver dinheiro. Quem o não tiver há-de aspirar a uma certa espécie de arrivismo social - esses são os piores: vieram do nada e odeiam quem nada tem.

Queria apenas acrescentar que - estando dentro do sistema de ensino - me repugna olhar para o estado em que o mesmo se encontra. Os meus alunos desconfiam da escola, não têm hábitos de trabalho, são gente profundamente desinformada a todos os níveis, para eles, em geral, livros, música, cinema e mesmo jornais são coisas desinteressantes. As aulas são uma tortura. Não sabem estar, nem querem estar. A escola é o sítio onde se vai porque os pais os obrigam. Na escola não há nada de interessante.
Cada vez me parece mais evidente que os nossos políticos se haviam de pôr de acordo no sentido de promover um pacto de regime relativamente às questões do nosso sistema educativo. É um assunto que diz respeito ao bom senso.
O governo do sr, engº. Sócrates, pelo contrário, resolveu arrepiar caminho noutro sentido: "Vamos pôr os profs. na ordem!". Primeiro braço de ferro: vão fazer vigilância aos exames? Ai não, que não vão! Pôs na ordem e na primeira fila os membros dos Conselhos Executivos: "Ou se portam bem e fazem de 'his master's voice' ou cortamos a verba que recebem extra-salário." Perante tal perspectiva (e mesmo dando de barato que alguns ingénuos terão pensado algo como: «Não isto, não é bem assim, estamos num Estado de Direito, Democrático, nós exercemos um cargo de gestão, mas acima de tudo somos profs. ...»), o que é certo é que essa gente enfiou a cabeça na areia e se calou e fez aplicar as ordens, quanto à gente dos mil e um sindicatos de professores, esses foram para o alto de Santa Catarina e ficaram a ver passar navios. Nunca ninguém tinha chegado tão longe em matéria de Ensino como o actual Governo. Cilindrou todos os princípios e a classe que se devia ter pronunciado ficou quietinha, perfilada de medo. Pelo sim, pelo não tomaram decisões: há os que compraram um PC portátil, «para trabalhar na escola» e outros que se inscreveram num qualquer Mestrado, «para progredir na carreira»...
Santa Grunhisse!

4 comentários:

Anónimo disse...

Concordo com o post, quando diz que deve haver um pacto de regime em relação à educação.
Basta de fanfarronices!

Os tais 1001 sindicatos de professores também me parece desmesurado para tamanha educação…

A progressão na carreira por meio de um Mestrado qualquer? E que tal um mestrado sobre “ A influência do excremento do pombo na transmissão da gripe das aves “? Valha-nos Santa Grunhice!

Esta Educação é mais uma pedra no sapato que estes governos PS/PSD criaram. Cambada de incompetentes!

Anónimo disse...

Revolucionar o Ensino até se atingirem os "modus faciende" em execução há dezenas de anos na Europa Ocidental e na América do Norte nunca será possível enquanto as Salas de Professores forem sucurssais da Feira do Relógio, pois nem chegam a ser da Feira da Ladra.

Anónimo disse...

zemari@, estou a fazer um "best of" deste blog, anônimos incluídos, e posso adiantar que no podium já está. Gostei.

Fernando Reis disse...

Calculo que haja quem compre portáteis para trabalhar na Escola. Calculo igualmente que haja quem faça mestrados para subir na carreira.
Eu não fiz nem uma coisa nem outra, mas pergunto, que mal há nisso, se os alunos e a qualidade de ensino ganharem com essas opções?
A questão não é essa, não são as opções individuais de cada um, muitas vezes tomadas para não perderem a sua sanidade mental.
A verdadeira questão é que se devem exigir condições de trabalho que correspondam ao nível de exigência que é imposto aos professores.
Não se deve obedecer a tudo o que é imposto? Claro.
Mas deve-se lutar pela qualidade do que se faz.
O que se vê muito nas escolas, e que lamento, é que se continua a fingir que as condições insuficientes para o bom desempenho da profissão não afectam esse mesmo desempenho.
O resultado público é que os professores não conseguem fazer muito melhor com o que têm e são acusados de não fazer mais com o que lhes é dado.