A Água
Meus senhores eu sou a água
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.
Meus senhores aqui está a água
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da raspa
tira o cheiro a bacalhau lasca
que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão.
Meus senhores aqui está a água
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho
Meus senhores aqui está a água
que rega rosas e manjericos
que lava o bidé, que lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber ás fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche
e lava a boca depois de um broche.
Atribuído a Bocage
4 comentários:
Depois da seca lembrei-me deste poema.
Foi-me enviado por um amigo. Não tenho a certeza se pertence a Bocage.
Neste Outono chuvoso há que homenagear Tales.
Bem lembrado quando se celebram os 200 anos (1765-1805) da morte deste poeta maior, "magro, de olhos azuis, carão moreno", no seu dizer, que nasceu numa família da alta burguesia setubalense e se tornou aventureiro.
Correu Seca e Meca, do Brasil a Macau, foi soldado, marinheiro, boémio, inconformista moral e religioso. Foi preso por Pina Manique (1º big-PIDE), acusado de ser “desordenado nos costumes" e "não conhece[r] as obrigações de religião que tem a fortuna de professar". Entregue à sanguinária Inquisição, ficou recluso durante dois anos.
No seu estilo irónico/provocatório, eis o que Bocage “poetou” para uma ex-donzela:
«Eu, Bocage não seria, se ao ver-te seminua
Não levantasse tua saia, tuas rendas e teus folhos
Não montasse e cavalgasse tuas ancas
A minha espada desembainhada, entesoada.
Eu, Bocage não seria, se ao ver-te deitada no leito
Pernas abertas a preceito, não te tirasse virgindade e honra
E se no final da peleja donzela fosses, eu, Bocage,
Arrancaria não um olho! Mas os tomates e a minha porra.»
Com Camões – por causa do “olho à Camões” – é o outro poeta que todos os portugueses conhecem – por causa das “anedotas do Bocage” – embora só saibam uma ou nenhuma. Mas ele não se importa, conhecia-nos demasiado bem…
GANDA STOR!!!
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