Um dos argumentos recorrentes da ofensiva liberal presente sobre as instituições e as ideias tem a ver com a escola. Podemos observá-lo, por exemplo, neste post do Rodrigo Adão da Fonseca no Blasfémias (embora dissimulado, é o argumento recorrente), ou na recente polémica entre Vital Moreira e Mário Pinto nas páginas do PÚBLICO. Este argumento é dos mais perigosos devido à forma pseudo-ingénua como nos é apresentado. Para os liberais tudo tem a ver com o direito que os indivíduos têm em escolher a escola para os filhos. Como se vê, um argumento muito fácil de encaixar; afinal, qual o pai que não concorda com o facto de poder escolher o melhor para a educação do filho? Como afirma Adão da Fonseca, «os cidadãos, que têm na sua esfera de decisão a capacidade de dispor daquilo que são as suas liberdades essenciais, no Ensino dos seus filhos, no planeamento da sua vida actual e futura»
Ora, este argumento seria risível de tão grosseira a falácia, se não fossem as consequências (terrivelmente) sérias que têm sobre todos nós. Porque, indo mais longe, o projecto de ensino dos liberais quando pretende "o direito a escolher a escola" significa "a abertura da escola à iniciativa privada". Nunca se os ouve defender o ensíno público de qualidade; e aliás, o "direito a escolher a escola" significa necessariamente a diferenciação das escolas- só assim a frase toma sentido para além do vazio do conceito. Mário Pinto chega a escrever no PÚBLICO (indisponível on-line): "As escolas privadas deviam processar o Estado por concorrência desleal". Daqui, num pequeno passo, chegamos ao essencial: o Estado está a "concorrer deslealmente" com os privados, não porque impeça a contituição dessas escolas, mas porque subverte as regras do mercado, ao garantir a escola (semi) gratuita e as carreiras dos professores. O Estado, para estes liberais, investe na escola quando deveria apenas (Mário Pinto dixit) "Regular e controlar o bom funcionamento" destas. Já se está a ver o corolário do "direito a escolher a escola": o direito deles a escolher a escola para os filhos deles. O que os revolta é que os seus filhos tenham de frequentar a mesma escola que todos os outros (o que já nem sequer é verdade, mas enfim), quando os seus bolsos lhes permitem colocar os filhos num sempre sonhado ensino de élite auto-perpetuante. Esta visão do Estado nada têm de novo; têm, aliás, muito de velho e pouco de novo porque nos remete (e são eles que os citam) a Hobbes ou Adam Smith (o Estado garante a segurança e a liberdade dos cidadãos) e nunca a toda a evolução posterior da teoria do Estado efectuada pelos diversos socialismos, onde o Estado garantirá também a educação, a qualidade de vida, a cultura ou a habitação. Estes liberais são novos-velhos, e o seu projecto é o de um brutal retrocesso histórico até aos (bons?) velhos tempos do salve-se quem puder.
3 comentários:
2+2=5 indeed...
Caro André, está terrivelmente mal informado sobre os conceitos do liberalismo clássico...
Para além do mais, ao reduzir a questão ao egoísmo dos outros, não contribui particularmente para a discussão do tema.
Esta posição é partilhada por todo o blogue?
caro AA:
Não me considero nada mal informado sobre o liberalismo clássico.Mas estes liberais modernos (os "neo"liberais, ou os "ultra"liberais), não são bem da mesma estirpe que os "clássicos".
De qualquer modo, não percebi bem o alcance da sua questão. Quer aprofundar?
(A propósito, este não é um discurso sobre o egoismo. É um discurso que incorpora a linguagem da luta de classes. Só nesse sentido é que se trata das escolas "deles").
luta de classes? ó carapinha, não estás a sonhar?
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