
António Gancho é uma das pérolas escondidas da poesia portuguesa. Nasceu em Évora, frequentou as tertúlias do Café Gelo e desde finais dos anos 60 que vive em casas de saúde, neste momento no Telhal. Escreveu: "os poetas são decididamente afectados" e cumpre esse destino. Em 1973 enviou um caderno de poemas a Herberto Hélder, que os publicou na excelente antologia de poesia portuguesa "Edoi Lelia Doura". Recentemente foi redescoberto e alguns dos seus escritos editados com algum sucesso.
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NOITE
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Noite, vem noite sobre mim sobre nós
dá o repouso absoluto de tudo
traz peixes e abismos para nos abismarmos
traz o sono traz a morte
e vem noite por detrás de nós e sobre nós
e escreve com o teu negro
a morte que há em nós.
Livra-nos e perdoa-nos tudo
redime-nos os pecados
e enforca os nossos rostos em teu nome
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TU ÉS MORTAL, MEU DEUS
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Tu és mortal meu filho
isto que um dia a morte te virá buscar
e tu não mais serás que um grão de milho
para a morte debicar
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Tu és mortal meu anjo
tu és mortal meu amor
isto que um dia a morte virá de banjo
insinuar-se-te senhor
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É-se mortal meu Deus
tu és mortal meu Deus
isto que um dia a morte há-de descer
ao comprimento dos céus
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