quinta-feira, 31 de maio de 2007

Greve geral

Para mim a noite do Medo era a da véspera do dia de Natal.
Esse apagar de luzes e ficar a pensar que havia de aparecer um sujeito estranho que deixaria prendas ao fundo da chaminé, dava-me um cagaço descomunal. Vivia insónias de terror. Cobria-me dos pés à cabeça e ia escutando todos os pequenos ruídos que habitam todas as casas durante a noite.
Mais tarde aprendi outras formas do Medo. Como a de ontem.
Em tudo a achei igual ao meu Medo da minha infância: a sós, comigo próprio. Cada um se cobriu dos pés à cabeça e se ficou, perfilado, a contas com o Medo.
Quando os do Medo perceberem que não são os únicos a senti-lo talvez se resolvam algumas coisas, talvez se dêem conta que por muito que alguém se cubra algo há-de ficar destapado, vulnerável. Esse é o ponto por onde entra e se aloja o Medo.
A ausência de sono não me traz mais atento, pelo contrário: oriento a minha existência em função d'o Medo, sou seu servidor. Fiel lacaio do Medo - um atordoado e acobardado ser que se verga e se recusa a levantar e a sacudir de sobre si um jugo.
No fim deste Maio, o Medo ganhou território.
Não tem forma definida, ninguém o pode identificar.
Instalou-se.

2 comentários:

Táxi Pluvioso disse...

Não há medo que cale o gatilho de uma Glock.

Samir Machel disse...

vejam a discussao por exemplo aqui:

http://obitoque.blogspot.com/2007/05/balano-da-greve.html