Jean Paul Sartre seria fulminado como professor, nos dias de hoje ?
“(...) Os estudantes de Sartre no Lycée François I nunca tinham conhecido ninguém como ele. Estavam fascinados por este homenzinho roliço, que aparecia na escola com um velho casaco de tweed –sem gravata– sentava-se em cima da secretária, com as pernas a abanar e arremessava ideias para o ar sem nunca olhar para os seus apontamentos, como se estivesse a falar com amigos.
Ele não era como os outros adultos. Levava as ideias muito a sério mas não levava minimamente a sério a sua posição de autoridade.
Nunca falhava aos estudantes e quase nunca lhes dava notas negativas. Até os deixava fumar nas aulas.
(,,,) Não tinha nada de snob e parecia não haver tema que não lhe interessasse. Era da opinião que tudo nos dizia qualquer coisa sobre a civilização contemporânea. “Vão muitas vezes ao cinema”, dizia-lhes.
Era um imitador brilhante e tão engraçado e inventivo que conseguia provocar risos até numa aula de Filosofia.
Sartre parecia não preocupar-se com as coisas com que os outros adultos se importavam. Os estudantes que chegaram a ver o seu quarto de hotel, ficaram chocados pela sua austeridade espartana. Ele disse-lhes que tinha poucos bens e que não estava interessado em aquisições materiais.
(...) Os seus alunos sabiam que ele estava a trabalhar num romance que continha as suas ideias sobre contingência e liberdade. Às vezes em algumas noites encontrava-se no café com dois ou três dos seus alunos. Fazia-lhes perguntas e eles davam por si a conversarem sobre todo o tipo de coisas. Ele era encorajador e fazia-os ver que tinham opções. Por vezes jogavam póquer, ou Sarte ensinava-lhes canções picantes.(...)”
In: Sartre e Beauvoir, Hazel Rowley, Ed Caderno
3 comentários:
Sartre não gostou muito de ser Prof no Liceu. Trabalhava imenso no Havre e escreveu " A Nauséa", depois de dois falhanços editoriais. Mal que pode, abandonou tudo, foi para Paris. E se escrevia/ lia como um possesso, ainda mais o fez. A partir do sucesso do primeiro romance, começa uma das maiores experiências literárias de todos os tempos.Romance muito belo e estranho, moderno e desequilibrado: um dos maiores do séc. XX!!!FAR
Essa descrição me fez lembrar alguns professores aos quais nunca esquecerei...
Não foi só o Sartre..., houve mais professores assim...Felizes aqueles que tiveram a sorte de os frequentar...
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