As primeiras nomeações do novo PR, Cavaco Silva, embora não surpreendam os mais atentos, não podem deixar de causar preocupação. Para o Conselho de Estado, rompendo com a lógica de equilíbrio seguida por Sampaio (que tinha como convidado, por exemplo, Carlos Carvalhas, de forma a manter o PCP representado neste orgão), Cavaco mostra a sua verdadeira face de homem do partido (e pensar que ganhou as eleições com aura de "suprapartidário"...): três históricos do PSD, Marcelo Rebelo de Sousa, Manuela Ferreira Leite e Dias Loureiro, um do CDS, Anacoreta Correia, e o seu mandatário nacional de campanha, João Lobo Antunes, provocando uma clara maioria de direita num orgão que se quer representativo das diversas sensibilidades da sociedade portuguesa. Mas piores, porque as consequencias serão mais graves, são os indícios da orientação cavaquista recolhidos pelas nomeações dos diversos assessores: para a economia foi escolhido João Borges de Assunção, um ultraliberal do grupo da Católica, defensor do emagrecimento ao máximo do estado, que recentemente acusou o governo de ter "um preocupante pensamento antieconomicista". Para a ética e ciências da vida, uma das áreas mais importantes da acção governamental, Cavaco nomeou Maria do Céu Neves, uma professora universitária da linha da direita católica próxima da Opus Dei. E é com ela que se aconselhará quanto a matérias como o aborto, a eutanásia ou a clonagem. Para os assuntos sociais, David Justino, o inenarrável ex-ministro da educação do governo PSD/CDS. Finalmente, para a assessoria-chave dos assuntos políticos, teremos António de Araújo, um dos nomes da nova direita conservadora ligada à revista Atlântico, que já se mostrou contra a pílula do dia seguinte, o "direito à pornografia" e a favor da criminalização específica de actos homossexuais com adolescentes; e nada mais nada menos que João Carlos Espada, o ex-maoísta-actual-neoconservador, visceralmente pró-americano, que já escreveu no Expresso a favor da guerra do Iraque, contra os casamentos gay, cuja cruzada pessoal é o que chama "a crise de valores da civilização ocidental". Pela amostra, isto promete. Aqueles que votaram Cavaco com a ilusão que seria um presidente suprapartidário, gerador de consensos e alinhado ao centro, que percam as ilusões: Cavaco será igual a si próprio. Nunca foi, ao contrário do que quis fazer crer a nojenta campanha em que tantos opinadores e jornalistas alinharam, um homem do centro, mas sim da direita, até mesmo, em determinados aspectos como as questões "morais", da ala mais à direita no PSD (e estas, curiosamente ou talvez não, serão questões em que a função presidencial terá mais importância). Nada contra, mas que se assumisse em vez de fazer toda uma não-campanha, em que surgiu como uma figura salvadora desprovida de ideologia e apenas preocupada com "o país". Aqueles que, não sendo de direita, se deixaram enganar por este conto do vigário, que se habituem. Terão cinco anos para pensar no que fizeram.
5 comentários:
Eu sei lá, se é plágio. O "habituem-se" será? Quanto ao resto não sei se quem escreveu isto, era a mosca que, ontem ao jantar, nós vimos na sala. Era? Então plagiou o pater familias, ou, numa expressão mais consentânea com o momento, o cabeça de casal. Esqueceu-se foi de ouvir os mais perspicazes. A saber, moi-même e a prole. Nós borrifamo-nos para o staff e o CE. O CE é decorativo. O PR, quando tem de tomar uma decisão polémica, convida-os para um chá, ouve-os como bom anfitrião e quando as visitas saem, faz o que lhe dá na real gana. O staff é reaccionário? Pois é! Não foi o Cavaco que foi eleito? Alguém esperava outra coisa? Os que votaram nele foram enganados? Enganados por quem? Os que votaram nele, não lêem o JMF, nem o JPP. São demasiado densos. Nem imagens têm. Votaram por feeling e porque não têm memória. O staff não nos assusta, nem à prole, nem a mim. O PR desde que a proposta de lei não seja inconstitucional, só pode vetar uma vez. À segunda carimba sem ler. Por outro lado, nós achamos que o Sócrates é muito mais frio e cerebral, que o Cavaco e principalmente domina com superior mestria a arte do populismo rendilhado. Será difícil ao Cavaco fazer cair o Sócrates em armadilhas. Por outro lado o nosso PR está habituado a uma certa reverência deferente. Imaginem, numa das 5ªfeiras, o Sócrates a ter uma das suas célebres cóleras. O Cavaco tem uma apoplexia.
Quanto a nós só se isto correr pessimamente ao Sócrates, senão o Cavaco não pode fazer ondas, se quer ser reeleito. E ele quer, não quer?
Não sei se deva fazer a declaração de interesses. Eu sei que em Portugal não é habitual, mas eu não sou bem uma portuguesa. Nasci na fronteira. Por isso, ajudei a maioria absoluta do Sócrates, com a cumplicidade de dois da prole. A mais velha é fracturante. O pater familias nunca diz em quem vota. Todos festejámos ruidosamente com Dom Pérignon. O momento merecia e os vizinhos também. São todos, mas todos laranja.
A mais ousada, ditirâmbica e polivalente das adeptas do defunto blogue"O-espectro", escolheu por bem fazer-nos companhia: Maloud. Sem moralidade de grupo,os`" empedernidos "diria Sartre,cultivando a acutilância que lhe reconheceram, pode representar o valor acrescentado de ser uma licenciada reduzida ao lar mas, e isso funciona como indicador social interessante e temível, que revele o fotomaton da sociedade de classes que nos asfixia.Por outro lado, o staff de Cavaco Silva tràs " água no bico",e vai ao arrepio de todas as promessas e votos do candidato, no sentido da moderacao e colaboracao institucional. Em política,o que parece, é? Ou nao é?Em Itália, o grande patronato apoia Prodi e renega Berlusconi, de forma frontal.Bush diz que o ciclo presidencial- Bush,Clinton, Bush e de novo Clinton (Hilary)- pode ser provável. Portugal nao se pode dar
ao luxo de se meter em"andancas do diabo ",que bloqueiam ainda mais a saída da crise estrutural em que nos encontramos.Borges Assuncao pode ficar famoso por ser o único
neo-liberal a defender a des-regulacao sem fronteiras de uma minúscula economia em coma. Vamos lá a ver como Sócrates se comporta,e se pode contar com os amigos. FAR
A quem estiver sóbrio à 1h35 aconselha-se o filme que a RTP1 transmite: “O Leopardo”.
Apesar de ser de 1963 é a “não perder”, pois as obras-primas não têm idade.
Neste filme de Luchino Visconti, Alain Delon (como acontece em “Rocco e os Seus Irmãos”) deixa de ser um pé-de-tábua e é (quase) um actor.
É daqui que vem a célebre frase: “Calm yourself, Don Chiccio!”
A música é de Nino Rota.
Eis sinopse da RTP1:
O LEOPARDO
Filmes - Drama
«THE LEOPARD / IL GATOPARDO»
1860, Garibaldi inicia o processo de unificação de Itália...
Um filme com Burt Lancaster, Claudia Cardinale e Alain Delon
Baseando-se no premiado romance de Lampedusa, Visconti, conta a história de Dom Fabrizio Salina (Burt Lancaster no grande papel de sua carreira), um príncipe refinado da Sicília que testemunha a decadência da nobreza e a ascensão da burguesia, durante a Unificação da Itália, em 1860.
Se na televisão for uma merda, “sorylá”.
Saravá André!
Plágio?
Importas-se de esclarecer, Fernando?
uma equipa quer-se homogenea.
Ou quando cagas espalhas...???
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