quinta-feira, 23 de março de 2006

Cartas na Mesa: para onde vão o Iraque e o Irão?

A realidade é a política-e não o rídiculo de relações de bluff ou de propaganda-o que , no rigor de Gramsci , unindo Maquiavel e Marx, alerta e inflecte para," no entanto, que a missão da política permanece específica; realiza acções cujo sentido é fixado pelas leis que regem as relações de força", conforme assinala o grande pensador marxista-liberal italiano, no seu livro capital "Notas sobre Maquiavel". O impasse iraquiano despoleta dia-apòs-dia revelações sobre a incúria e o exagerado optimismo da frente invasora liderada pelos USA, cujo alto custo em vidas e a vertigem despesista da máquina de guerra não cessam de semear o pânico e a dissensão no seio da oligarquia liderada porG.W.Bush. Os globe-trotters da quiromância estratégica-os Neo-Cons-ou penitenciam-se pelos maus planos ou culpam o presidente de incompetente. Perle, Kogan, a família Kristol dos jornais, Sullivan e Brian Riedl , parece que contam os minutos para sairem de cena, dizerem adeus ao bushismo.

Ora, a complexidade do puzzle geopolítico que envolve a dialéctica insurrecional no Iraque e a tensão deslizante do "cerco" do Irão pelos USA , projectam estratégias onde " o que parece, não é" e acaba por revelar finalmente as debilidades do invasor e dos sitiados, de acordo com os comentários de Thomas Friedman (NY.Times ) ao livro da epopeia da invasão de 2003 ," Cobra II", de M. Gordone B. Trainor.O jornalista-nómada mais reputado do Mundo,dá o seu assentimento à tese nuclear do livro: Saddam Hussein fez de conta que tinha ADM´s para evitar retaliações do Irão , sobretudo.

As perspectivas de paz no Golfo Pérsico parecem diferidas para as calendas gregas. Porquê? Porque todos os intervenientes fazem bluff e propaganda,de forma desenfreada. Bush,o" presidente-guerra", pode arruinar a economia americana, se os chineses acabarem com a troca de yuan´s por bónus do Tesouro yankee, relação sado-masoquista que só dá alento às multinacionais apátridas.Não tem dinheiro,nem forças para impôr a ordem. Rumsfeld apoia-se em Cheney para inventarem historietas:levarem a NATO a qualquer preço a envolver-se na guerra-pântano, o que é outra miragem dramática.

O Irão de Ahmadinejad , que só exporta petróleo e pistaccios, prometeu construir uma refinaria na Indonésia quando as suas próprias unidades se encontram em adiantado estado de decomposição, o que quer dizer que as miragens dos petrodólares são ireais e não validam a compra de canhões...Poutine pode vender-lhe mais sucata para implementar a construção do novo missil-anti-missil russo.O que tem que ser, tem muita força.

Por outro lado, Ahmadinejad tem tentado" conter" o líder Supremo , o ayatollah Ali Khamenei, fomentando rivalidades e dissensões políticas gravosas, querendo dar força ao seu mentor espiritual, o radical Mohamed Taqi-Yazdi, de acordo com dados avançados por um politólogo da Universidade de Washington, Stanley Weiss. Que relata, a esse propósito,
que " Khamenei e a élite clerical estão de atalaia e seguem de perto as manobras. O Parlamento rejeitou por três vezes as nomeações do ministro do Petróleo; e Khamenei colocou Rafsanjani, o candidato vencido na corrida presidencial, no Conselho Económico e Social, nova autoridade de controlo do poder de Estado".

O NY Times- apesar do Le Monde estar a despertar de um afastamento no terreno dos grandes afrontamentos mundiais - tem revelado de forma exemplar que os chiitas iraquianos têm três tendências maioritárias, pelo menos. E armadas. Que o populista presidente iraniano evita confontos com os sunnitas do país vizinho, mas teme que os sunnitas paquistaneses venham a dominar e estragar as ambições regionais do poder populista incarnado por si ,obrigando-o a ceder às potências ocidentais no controlo da pesquisa nuclear de ponta. Definitivamente, os erros e tergiversações pagam-se muito caro.

FAR

4 comentários:

Anónimo disse...

Qué do António e do(a) Maloud?

maloud disse...

Anónimo das 1.42 PM, estava com saudades minhas? Que querido! Já cheguei.

Lê-se o NYTimes{eu não leio, porque deixei o inglês lá muito atrás}, o Le Monde, o Libèration, o El Pais, o La Republicca, para percebermos o que vai estando em jogo a cada momento. A actualidade é cada vez mais dinâmica e não perdoa a falta de informação de qualidade {às vezes o Público também a tem}. Mas a complexidade daquela zona do mundo é conhecida de quem leu qualquer coisa de História. Estranhamente, os estrategas da "Choque e Pavor" nunca folhearam um compêndio da dita disciplina. Talvez por serem americanos. Por outro lado, o cidadão comum mediamente informado tinha a certeza que o jogo do Saddam, com as armas de destruição maciça, só podia ser bluff, para iraniano ver. Depois do raid israelita e da "Tempestade do Deserto"e do embargo subsequente, mesmo caricatamente furado aqui e ali, não era necessário, a quem tivesse um QI médio, nenhum curso do Pentágono para perceber. Como a entourage bushiana deve ter um QI médio sabia de certeza. Quanto ao Bush já duvido, porque o QI está, de certeza, abaixo da média. A entourage decidiu e o disléxico comunicou que a invasão era inevitável, pelas putativas armas {o must deu-se na ONU, quando o Powell nos deixou "abananados" com uns TIRs-Laboratórios, que se passeavam nas areias} e, crème de la crème, a estreita amizade entre Saddam e Bin Laden. As consequências estão à vista: mortos iraquianos aos milhares, o país feito em cacos, os americanos atolados no meio duma guerra civil e todos os dias contando as baixas {já morreram mais americanos desde que o Bush fez aquele número inspirado no Top Gun e que custou uma fortuna em coreografia, do que na cavalgada para Bagdad} e o sacrossanto petróleo barato, tão necessário à nossa sobrevivência, como o ar que respiramos, sem dar sinais de vida. Claro que por cá há dois iluminados, o JMF e o JPP que não vêm nada disto e estão no seu direito. Fizeram uma espécie de regressão à infância, e vivem no reino da fantasia.
Depois desta maluqueira, o Irão, que sabe da impossibilidade de sustentação de duas maluqueiras simultâneas, goza na cara da super-potência. A China, consciente de que um espirro seu provoca uma pneumonia nos States, impõe condições. A Rússia faz o que lhe dá na real gana {Bielorrússia, Tchechénia,...}, porque conhece as fragilidades dos que lhe ficam a Ocidente. E nós, Europa, estamos com os malucos à porta e vai ser o salve-se quem puder, porque o fiel aliado do Blair e doutros comparsas menores não mexerá uma palha, para que o manicómio não avance.
Desde sempre tive a sensação que isto ia ser muito mais que petróleo. E parece que será.

Anónimo disse...

Maloud: Vamos chamar mais escreventes na disponibilidade do saudoso O-Espectro!!!Please!!! As pessoas dao o litro,querem que todos se sintam bem, partilham informacao credível e consistente- com tracabilidade e rigor-,e nada. Parece um cemitério!!! Isto nem com uma reserva-de-2001 da Qta. do Carmo se aguenta.Vi agora mesmo o excelente Rumsfeld a dizer mal da Maureen Dowd, a cronista do NYTimes: eles o super-poder estao de rastos,ao que isto chegou.Até já.FAR

maloud disse...

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