terça-feira, 14 de março de 2006

Haia: Quem morreu, Milosevic ou o TPI?

O processo contra Slobodan Milosevic foi encerrado. Termina assim um caso jurídico que em tudo se parece com um casamento católico: foi a morte que os separou. Durou quatro anos. As relações entre o Tribunal Penal Internacional e Milosevic, passaram por altos e baixos. Este queixava-se, barafustava, mas o Tribunal gostava de o ver assim. Por isso empatava, empatava. Para os juízes o Milo tinha piada, assim como a cidade. Haia é uma cidade simpática, ganha-se bem, e aturar o jugoslavo todos os dias, até que nem era mau de todo. Com noites longas pela frente, numa cidade com vida nocturna razoável e boas strippers, folgas ao fim-de-semana e férias alargadas, os juizes não se podiam queixar. Com um bom emprego, não há pressa. E fizeram tudo para que o Tribunal se portasse de forma digna. Deixaram correr o marfim, até porque não queriam cometer falhas. Agora Milosevic morreu. Os juízes lavam daí as mãos. O Tribunal até é contra a pena de morte. O preso é que morreu, não foram eles que o mataram. Azar dele. Tomasse mais vitaminas e fizesse ginástica. Mas a vida continua. Depois de Milosevic ir desta para melhor, os juízes já esperam ardentemente por Karadzic e Mladic, os dois "most wanted men" da Jugoslávia. Porque um homem tem que trabalhar. Mas, tudo leva a crer que eles já não vão aparecer. Embora as instalações e as refeições sejam boas, aquilo é uma chatice. Nada acontece. Não há acção. Souberam que Milosevic ainda tentou animar a coisa, tomando umas pastilhas, mas faltou-lhe algo. Ferrero Rocher? Ainda pediu ao TPI, mas ele não alinhou. “Isto não é uma palhaçada”, disse. E não foi em cantigas. É um tribunal sério. Ou pensam o quê? Perante a morosidade e pouca eficácia, muitos ficaram mais próximos da posição dos Estados Unidos, que se recusaram a ratificar o Tratado que criou o TPI. O que é mau. Para eles, os soldados e chefes militares estão acima de qualquer tribunal internacional. São intocáveis e nas tropas da superpotência ninguém toca. E consideram que com eles não se brinca: quando se trata de matar, não há problema. No terreno ou na prisão, é indiferente. Agora pactuarem com burocratas e serem acusados de tal é que não. Isso é um insulto. Coisas, que nem a uma mãe se diz.

5 comentários:

Anónimo disse...

Penso que a ONU tem de repensar o funcionamento do Tribunal. Quatro anos sem conclusões, ora bolas.
Afinal o que é que o tribunal apurou durante o julgamento? Milosevic era afinal um dos carniceiros dos Balcãs?
Isso gostaríamos de saber.

Luis M.

Anónimo disse...

Uff, que alívio, devem ter exclamado os juízes do tal TPI.
Tudo isto não passa de uma palhaçada dos "juízes" do mundo.
Ora bolas...

Estaria alguém à espera da Justiça?

Live and let die...

maloud disse...

Aconselho a leitura do livro Da Jugoslávia À Jugoslávia do Carlos Santos Pereira. Lá percebi como mataram a Jugoslávia que eu conheci, não em viagem organizada {nunca fui e tenho horror}, mas em viagem de impulso, porque o tempo estava péssimo no sul de França e em Itália.
Muita gente tinha que estar sentada naquele banco dos réus de Haia.

maloud disse...

Luis M.
O Tribunal já tinha apurado que ele era o "carniceiro dos Balcãs". Agora aguarda os outros dois carniceiros, já apurados. A senhora Carla del Ponti não investiga. Só usa o que outros investigaram. A antecessora dela, uma canadiana cujo nome não recordo, achava que também devia investigar. Foi corrida.

Anónimo disse...

O servidor do Blogsot.com está muito lento ou acontece apenas com o meu computador?
Alguém está com o mesmo problema?

Luis M.