Pelas galáxias do eu
vagueando
o vidro quebra-se
em fogo de artifício interior
a noite explode e corre o corpo
o silêncio cega
entre as pedras polidas de lua acesa
deslizam Ofélias
leitos de flores ecoam pétalas translúcidas que descem para a foz
de um rio que transportamos como um rumor que não cessa
as lágrimas azuis de Ofélia são cristais de sal lentamente rosa ciclame
estes preparam-se para milénios de químico labor interstício
a paz morreu entretanto prenhe de lâminas no fio cortantes
e espera rapina nas esquinas caladas de luz
a sua vítima
mãos farpadas entreolham-se fazendo contas de metal sonante
e preparando o futuro nas Suíças de Davos
na menina do olho de Ofélia
no espelho imaginário
vê-se o lado de lá
quando se olha
crianças subindo paredes na vertical e
bicicletas acenando nos tetos lenços de clown
sorrindo
através dos raios infinitos das rodas que não cessam de girar
surreais
e sabendo-o
o velho piano de cauda e obstinatos
engoliu as teclas de amarelo tabaco e dorme
o som é uma sobra grasnada de maiores e menores desencontradas
dissonante
circular
em pião com gosma
do lado de cá
há muito que o olho perdeu a menina
e não há ofélias nem pedras de luas reflectidas
apenas o velho limoeiro solitário de cansaço
vitaminando tudo o que o toca
de alegrias nada breves e amarelas só de sol
o eu caleidoscópico desaprende-se em espiral despenhando-se dentro das suas próprias galáxias em queda livre de respirações nada ofegantes
os sapatos de cambados estacionaram de vez num adeus bem português
à porta logo ali perto da horta
quem lá vem não bate e entra flutuante
como quem conhece os passos que caminham
e recaminha os mesmos trilhos domésticos
as mesmas reesquinas recantos recovas de sofá e recôdeas
no cosmos
na gravidade rarefeita a pulso e em levitação oxigenada
somos um ponto em eu interrogado
uma imensa exclamação reticente de vírgulas fora de sítio
sem explosivos atados em cintura alguma
apenas movidos pela batida cardíaca
essas asas do desejo que não poluem
de olhos abertos e habitando uma voz à velocidade da luz
voamos em corpos de palavras
anunciando para 2017 um inverno de palácios reocupados
bastilhas tomadas por bandos de pétalas desavindas em greve geral
e silêncios comovidos do destamanho de Saharas
repletos de múltiplos oásis naturais de palmeiras despostaladas e areias e águas límpidas e sombras deitadas em sofás de ocasião
nada de plástico por perto
como aquários sobre pernas profundas e magras
rebolamos na estratosfera
de exótico rosto humano e escamas
circulando em parafuso como cornucópias
e mais do que uma estrela
real ou de hollyhood
somos poeira
parcela ínfima
um nada que dói
f.arom
3 comentários:
F.arom:Será que dá para pensar em publicar?Estou pasmado com a qualidade e a forma!!!E sei que nao é plágio,claro!FAR
Caro FAR:
Claro que não é plágio!
Podes publicar sem medo. Não te esqueças é de referir a fonte, e essas outras coisas que se usam no meio académico.
Tenho orgulho nos meus companheiros de blogue e os inéditos do f.arom ajudam a nossa qualidade e forma.
Abraço
Farom: Isto é simplesmente comovente!
Sem palavras!
Concordo como Rocheteau: o Farom é um grande contributo para o vosso blogue, distingue-se pela diferença de escritos e escrita.
Pana
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