domingo, 26 de março de 2006

Knopfli

No meu poema
Tem gala gala a florir nas acácias
E tem formiga cadáver
Nas minhas luas
São duas uma cheia outra crescente
Quando pouso os dedos nas sementes de canho
Abrem-se em asas de maçaroca com cabelo e folha desalinhada
Tem também pôr de sol
Mas esse é mesmo no solavanco da minha rua
E só tem aquele ângulo de se ver
Por trás da cabeça do gala gala citado a
Azul gigante estriado de lilás
Quando o mundo se zanga
Fica roxo de dentes raiados de laranja ácido
Parece bispo a pôr Cristo na cruz
Saindo da sua naftalina
E a fazer render
No meio dos torrões tropicais de silêncio na esquina do meu país
Estendem-se pontas de ouro esguias
Tenho-o sempre no bolso em forma de mapa isósceles
Triangular pastilha elástica rupestre
Sei quando
Que acaba como ponta de sapato acaba
E há azagaias em figuras de cafres a espreitar nas dunas altas
Comendo as unhas e estranhando as sete saias da elite dos náufragos
E há pedras desconhecidas nada redondas
A serem laboradas pelo mar constantemente
Esse mar é outro do mesmo que vivera
E está sempre aqui à mão em transparência que alimenta
Como nós e respirar
E tudo o que nos anoitece natural sem volta de tempo possível
E volta sempre
Não se espantem se vos crescerem savanas nos pulmões
E quando em corpo de papaieira adormecerem
Deixem sonhar brisas lentas
Que amanhecerá sempre um clima de águas amigáveis
Nesses pontos das vossas colinas
É mais às senhoras que isso têm que os ventos escolhem
E a adolescência reverdecerá
Como manga verde sem sal

f.arom

3 comentários:

Anónimo disse...

Sobre este “post” só posso dizer que as contribuições de f.arom são a “crème de la crème” do 2+2=5.

Acabei de ler o e.mail da Ivone que remete para a notícia da atribuição do Prémio José Craveirinha 2005 a João Paulo Borges Coelho, que até já foi referido nesta “mesa da Camponeza”.
Dele, só li “As Duas Sombras do Rio”, que me foi oferecido pelo Parcy, e que penso ser o seu primeiro romance.
É uma estória feita de estórias que, apesar de ser ficção, é também História. O maravilhoso e o sobrenatural andam de mão dada com uma realidade que também parece inventada. Inquestionavelmente, com essa obra, a Literatura de Língua Portuguesa ficou mais rica.
Já agora: há alguém disponível para me oferecer “As Visitas do Dr. Valdez”?!?!

Anónimo disse...

Eu.

Anónimo disse...

A vida é bela
e os amigos são uma das melhores partes dela.