sexta-feira, 24 de março de 2006

Arriba la Paz! ¡Mas alto que Carrero Blanco!

É uma boa notícia e uma má notícia. A boa é que a ETA decretou um cessar-fogo a partir de hoje. A má é que já o fez várias vezes. Ou será ao contrário? Não sei. Muitos nacionalistas do país basco não estão lá muito animados, mas este anúncio de deposição das armas está a ser bem recebido em Espanha. Embora com as devidas reservas e cautelas. Os dirigentes da Euskadi Ta Askatasuna (ETA) garantam que desta vez o cessar-fogo é permanente e para ser levado a sério. Será? Mas já dizia António Machado: “La verdad es lo que es, y sigue siendo verdad aunque se piense al revés”. Há muito que as várias esquerdas pedem paz. Longe vão os tempos em que se faziam apostas sobre a altura a que tinha chegado Carrero Blanco, partindo do princípio que o céu era o limite. Hoje, o abate cirúrgico deixou de fazer sentido num mundo globalizado. O que está a dar, é morrerem aos milhares. Uns por não quererem aprender lições de democracia dos norte-americanos ou de islamismo da Al-Quaeda. E enquanto vão caindo de um lado e do outro, continuam a morrer milhões de fome, sede e doenças, no resto do mundo.
Mas com este anúncio da ETA, regressam os condimentos perfeitos para uma boa história de intriga internacional, que poderia ser assinada por John Le Carré. E vejam lá se não é assim. De acordo com a imprensa espanhola de hoje, houve encontros preparatórios em Genebra e Oslo, em que, além da ETA e dos socialistas bascos, participaram alguns históricos do Sinn Fein e do IRA. Intriga. Suspense. E talvez amor. Gay ou straight? É escolher. Tem tudo para dar um filme, com sangue, suor e lençóis brancos manchados. Bom. Era só isto que queria dizer e vou-me pirar. Tenho umas bombas para entregar no prazo de uma semana. A concorrência é cada vez maior, os clientes rareiam e são cada vez mais exigentes. Coisas do capitalismo selvagem.

10 comentários:

Anónimo disse...

Qualquer começo é um bom ponto de partida, tendo em consideração que a esperança é a última a morrer.
A paz significa o fim da matança de inocentes, qualquer que seja a sua filiação partidária.

A paz continua a ser um principio, um objectivo e um fim. Espero que desta vez seja a sério.

jan

Anónimo disse...

Os bascos foram muito maltratados durante a guerra civil. Franco fez-lhes a vida negra por apoiarem os republicanos. Com a democracia, tudo mudou. A organizaçãp deixou de fazer sentido, excepto para os velhos dirigentes e os jovens arrivistas. Mas não acredito que agora mude de vez. Já deram provas de que não são sérios a negociar.

Anónimo disse...

Eu estou estupefacto: com relatos de 24 Horas,V.Excia despacha 40 anos de guerra civil/guerrilha urbana no País Basco.É obra.E que dizer do conceito de" abate cirúrgico"? Apelemos a S. Guiness...FAR

Anónimo disse...

Cada blogue tem o emplastro que merece.

Anónimo disse...

este blog merecia livrar-se do emplastro FAR.

Anónimo disse...

Anónimo das 6.09 PM: Isto nao é uma guerra de trincheiras, de golpes sujos e de más intencoes.Por que é que V.Excia nao se mostra, nao revela o nome.Até dá para pensar:ou anda a fazer trabalho " sujo" por conta de outrém; ou representa o primarismo,o sectarismo e a mais despudorada das aldra(saca)bices... Humildemente,participo neste blogue por amizade e vontade de saber.Recusei,liminarmente,um estatuto qualquer. Enviei centenas de artigos de fundo da melhor Imprensa mundial. Revelei e aprofundei ideias( a do Guattári sobre a funcao da Poesia, é um achado na blogosfera nacional).E,agora,cobarde e traicoeiramente,atacado à má-fila por um anónimo servil e idiota...Discuta os temas em apreco e,sobretudo, nao se deixe mais enganar por publicistas apressados, ambiciosos e sem escrúpulos de espécie nenhuma...FAR

Anónimo disse...

FAR não desarme. Sou sua fã. De um grande especialista em política francesa espera-se que combata. Avanti!

maloud disse...

Alguém me informa quais são os temas em apreço. Confesso que não percebi nada. Era a Eta, o Carrero Blanco, o 11 de Set, o Iraque?

Anónimo disse...

O N.Y.Times publicou hoje um artigo de Opiniao, assinado por Paddy Woodworth,autor de um livro sobre a ETA,os GAL e a Democracia Espanhola.O que nos diz,fundamentalmente? Tudo se coloca no condicional,por causa da longa lista de retrocessos nos anteriores processos de cessar-fogo.As hesitacoes e falsas-promessas de adesao política ao recomeco de um novo processo de paz
por parte do Partido Popular, podem inviabilizar o reatamento consistente das conversacoes.É preciso distinguir o Partido Nacionalista Basco,o H. Batasuna e a ETA,esta última a funcionar como o IRA, braco-armado em plena desconexao por causa das dezenas de quadros presos nos últimos anos por Aznar.E o P.Popular diz que só participa nas conversacoes de paz final,se o partido H.Batasuna estiver presente. De qualquer modo, frisa o especialista yankee,o processo de auto-determinacao do País Basco é um objectivo, que pode ser idealizado,mas que está excluído por longos anos de qualquer horizonte político...FAR

maloud disse...

Então o tema em apreço era só a ETA!
A ETA tem levado machadada atrás de machadada, desde que a França deixou de fechar os olhos ao que se passava no seu território. Se por um lado enfraqueceu, por outro descontrolou-se. Muitas das acções são perpretadas por "hooligans" bascos, sem nenhuma formação teórica e com vocação violenta. Nenhuma organização resiste a este processo de desagregação. Mas a agravar o problema há o PNB, cujas reivindicações políticas não diferem muito das da ETA, com a enorme vantagem de não aterrorizar a sociedade basca. O terrorismo da ETA também se exerce sobre os bascos coagidos a pagar uma espécie de "imposto de guerra". Portanto, parece-me que a ETA está disposta a negociar. O PP, se não quiser perder o combóio, tem que se atrelar a ele, porque as recentes sondagens mostram que a maioria dos espanhois desejam as negociações. O Rajoy, que na cena internacional não existe, vocifera um pouco, para consumo interno, mas rapidamente acalmará. Julgo que o maior problema será controlar os hooligans, deixados em roda livre. Quanto ao aprofundamento da autonomia, obviamente, que o que a Catalunha obtém, os bascos obterão. Se analisarmos as cedências à Catalunha, a Espanha caminha para uma Federação. A independência ficará para as calendas, porque significaria o fim da Espanha. E ninguém quer o fim da Espanha. Nem os castelhanos, nem a UE. Presumo que os States também não.