segunda-feira, 5 de dezembro de 2005

USA: NY.Times declara guerra total a Bush

Há mais de três semanas que os editorialistas do NY Times tinham erigido os erros e percalços da estratégia de G.W. Bush na Guerra do Iraque como alvo principal das suas crónicas mundialmente famosas. De uma forma independente e inabalável, Frank Rich, Paul Krugman e Roger Cohen, e o incontornável especialista da geopolítica árabe Thomas L. Friedman, narraram os vícios e as ilegalidades que conduziram a dupla Bush II- Cheney à beira do colapso político e militar na condução da invasão e ocupação do segundo país mais rico em petróleo do mundo. " O record em faltas políticas é verdadeiramente notável. Parece que amiúde Bush e Cheney se parecem com o contrário do rei Midas : em tudo que tocam- da reconstrução do Iraque ao sofrimento de Nova Orleans,do fim da prescrição de prevenção da droga ao falhanço na captura de Bin Laden- tudo sai mal e em perdição", assinalava Krugman no início de Novembro. A Atlantic Review e o The New Yorker secundam a cruzada ético-política do maior diário do Mundo.

O estado de desorientação da opinião pública norte-americana, que as sondagens não desmentem, agravou a queda abissal de popularidade da presidência. Bush começou mesmo a dar a entender que Cheney lhe estava a fazer muito mal, por causa do escândalo provocado pela demissão do chefe de gabinete do vice ligado a uma guerra surda de intrigas contra a CIA, em que por comparação a famigerada telenovela Dallas parece rudimentar na textura e exploração dramática. Como pano de fundo, sobreposto e em espiral tecnicolor, a construção elaborada das justificações técnicas para a invasão do Iraque, o " Palmegate ", que levará ainda algum tempo a ser desmistificado na íntegra. Frank Rich escreveu sem tergiversar:" Mais cedo ou mais tarde- talvez em breve- estas desinformações embaraçosas serão expostas na praça pública. Porque o poder desencadeia esforços para ignorar ou suprimir os relatórios que contradizem a cruzada da guerra ".

Ninguém já acredita no sucesso americano na guerra do Iraque. Há graves deficiências logísticas,especialmente no que se refere ao reduzido stock de munições . E as grandes dificuldades na rotação do contingente yankee, foram denunciadas a nível interno e nacional pelo marine jubilado da guerra do Vietnam, John Murtha. Que sublinhou que os EUA podem perder não só a guerra mas ficar também sem exército. "Os nossos militares e as suas famílias estão exaustos com a guerra.Muitos dizem que o exército já está desfeito. Muitas das nossas tropas já entraram no seu terceiro periodo de envolvimento. As nossas tropas não tem material para continuar o combate ", reporta Bob Herbert das confidências de Murtha.

Thomas Friedman, o repórter-peregrino do Médio Oriente, vai mais longe e com toda a sua indiscutível autoridade moral e política resume: " Quando olho para Bush agora, penso, que parece um indíviduo que deseja uma 28.a claúsula na Constituição- apelidada de posso ir embora agora?´Parece-se com alguém que preferia fazer as malas e regressar ao seu rancho no Texas. Parece que está vazio de qualquer ideia relevante que mobilize a nação para o futuro ". Descreve que, se nada for feito," as futuras gerações irão responsabilizá-lo pelos erros deixados como pesada herança e pela mudança imposta pela passagem do Século Americano ao Século Chinês".


FAR

12 comentários:

Anónimo disse...

Afinal há extraterrestres.

Joao Galamba disse...

Armando,

esse friedman e' um perigoso esquerdista, apoiante da causa palestiniana e tem horror a Liberdade. Eu diria mesmo -na logica da nossa ilustre direita liberal- esse homem e' um socialista ou mesmo um trotskysta.
Onde e' que ja se viu, a quererem criticar o novo Lider dos Povos Livres.

Velho Cangalho disse...

Sempre fui contra a intervençao militar no Iraque. Desprezo Bush e a sua administração neofascista. contudo, acho perigoso retirar as tropas americanas do Iraque de qualquer maneira, ou estabelecer um calendário para a sua saída. Já que eles para lá foram, agora terminem o trabalho.

Anónimo disse...

Cavaco Silva/ Bush e Poutine: o Mundo só atingirá uns primórdios de felicidade quando a História os deitar por terra.O blog está muito mais animado, o que é preciso é acabar com os Press-Releases de circunstância.O Louçã vota Soares na segunda volta, ora vejam,e de olhos fechados...FAR

Anónimo disse...

1. Desde o início da guerra do Iraque que o NYT se demarcou. E não o fez sozinho. Não foi por causa disso que W. Bush deixou de o invadir, e mais tarde, deixou de ganhar as eleições.

2. Se as coisas correm mal a W. Bush não é devido aos editorialistas do NYT nem de qq jornal. Bush e os neo-cons continuam a fazer o que bem entendem. Por isso é que as coisas lhes estão a correr mal. E pq?

3. Pq o seu autismo está a criar movimentos sociais por toda a América, desde as famílias dos militares mortos no Iraque, até às vitimas das catástrofes. No sul dos Estados Unidos, por exemplo. E são essas pessoas que, por exemplo, assentam arraiais à frente do rancho de Bush com fotografias dos filhos mortos que estão a chamar a atenção da América.

4. Dizes que "o estado de desorientação da opinião pública norte-americana, que as sondagens não desmentem, agravou a queda abissal de popularidade da presidência" Eu acho o contrário. Finalmente a opinião pública está a ter algum estado de orientação, porque desorientados estavam eles qd deram a vitória a Bush e o apoiaram nas suas guerras.

5. Não são os jornais que fazem as guerras. Nem são os jornais que as terminam. Nixon caiu pq fez o que fez em Watergate e não devido à guerra do Vietnam. E não foram as opiniões dos editorialistas que o deitaram abaixo. Na altura,também havia muitos contra ele. Foi a divulgação dos factos relacionados com o caso Watergate que o obrigou a demitir-se. O mesmo está a acontecer actualmente. São as más políticas, nos mais diversos quadrantes, que estão a levar W. Bush para o abismo.

6. Esses editorialistas do NYT sempre estiveram contra Bush. Então, qual é a diferença entre ontem e hoje? Está naquilo a que uns chamam eleitorado, alguns mercado e outros apenas povo.

André Carapinha disse...

O NYT é evidentemente um jornal de Esquerda dirigido às élites urbanas. A sua posição não é novidade, o que não invalida a justeza e a oportunidade do artigo.

A América está partida ao meio, infelizmente os "rednecks" vão ganhando terreno aos "liberais" (o que, na América, não quer dizer direitista alinhado com a administração Bush, mas precisamente o contrário). O problema de Bush é que são esses "rednecks" que constituem a sua base de apoio principal; ora, estes são ferozmente nacionalistas, e desconfiados de opções expansionistas que prejudiquem a economia americana ou que custem vidas aos soldados. Para avançar com a sua "agenda escondida" (uma mistura da visão messiânica dos "neo-cons" verdadeiros e das mega-negociatas dos "neo-cons" de ocasião, como ele), Bush teve que montar uma operação propagandística que sustentava que a própria América estava sob ameaça directa de Saddam Hussein. É essa ilusão que cai por terra.

Parece agora óbvio que quem tinha razão eram aqueles "maluquinhos" de então, nos quais orgulhosamente me incluo, que sustentaram ser impossível a América ganhar a guerra, e que corria o risco real de cair num novo atoleiro (i.e. Vietname).

Anónimo disse...

Amigos: Sem debate,não podemos existir. Correcto? Estilo de base e prioritário:partilhar informação e avançar para a acção. É esse o detonador invisível dos textos de Castoriadis, que nos dão chaves para transformar... e não andar à volta.Bakounin dizia de Marx: "Lemos atentamente tudo o que Marx publica; porque nele encontramos sempre coisas excelentes para aprender ".O NY Times é uma belíssima escola quotidiana de análise e perspectiva global.A qualidade dos textos, a sua profundidade e alcance abalam todos os despotismos e cretinismos nacionais ou de ortodoxia mais dilacerante.De um pequeno-grande livro de Jean Baudrillard sobre a América-USA, este ponto: " O que se nos depara é, em realidade, que todas as nossas análises em termos de alienação, de conformismo, de uniformidade e de deshumanização, caem por si próprias: do ponto de vista da América-USA,elas é que se tornam medíocres e rasteiras". FAR

Anónimo disse...

A questão não é Bush, que é uma marioneta manipulada por Cheney, um rapaz que começou por ser guarda-fios.

E Cheney é um dos capatazes de uma "corporation" multinacional com um programa/ideologia ultra-conservador, gulosa de poder e cada vez mais dominadora.

É um Sindicato Global de detentores de poder que admiram a Obscuridão, de adeptos de um mundo "dark ages", que os homens de bem têm pela frente

Anónimo disse...

FAR.
Vamos pôr isto noutros termos.
A questão da independência dos editorialistas e de outros jornalistas de topo.

Esses, que consideras de esquerda, devem ganhar mais do que o conjunto das pessoas que estão referenciadas como postadores oficiais deste blogue. E podem vir alguns amigos.

Já não vivem em apartamentos como viviam qd tinham 25 anos. Vivem em bairros de luxo em zonas onde também vivem alguns políticos. Democratas, claro. E encontram-se todos em festas. Lembras-te da Murphy Brown? É assim, só que não tem piada nenhuma. E joga-se. Poder. Mais. Esses fulanos fazem parte do poder. Ou pensas, FAR, que são os novos Marx ou Engels, com direito a uma vida rica, porque são os ossos do ofício? Não acredites que há almoços grátis.

A questão da independência da média é algo cada vez mais actual. Uns e outros, ou seja, políticos e jornalistas, sabem que moldar opiniões dá-lhes muito jeito. Uns ganham credibilidade e outros eleitorado. E ambos ganham mais poder. Que é um ponto-chave em tudo isto.

E já que achas que o Bush é o demónio. Clinton era um liberal (versão americana) que não teve problemas em mandar bombardear zonas da ex-Jugoslávia só para as atenções não se centrarem nele e na Mónica. Morreram pessoas por causa de um blowjob. É de esquerda?

O poder é algo que é usado poucas vezes por gente honesta. Não te iludas. Agora se me vens falar em bíblias de esquerda e colocas como referência o NYT, o Libe, ou qq outro, tenta saber mais quem é, ou quem são, os teus ídolos editorialistas. Uma coisa é certa: já não há heróis. Não chega ser bom escriba para se ser uma referência como ideólogo de esquerda ou um mobilizador de massas. Até porque estas até gostam mais da parte alimentícia.

PS. Poupa-me com as citações. Experimenta as excitações.
Um abraço.

Anónimo disse...

Caramba!Isto está mesmo bom! Começo a acreditar naquela prédica do Louçã ao jornal Público, em que dizia,que " Cavaco Silva é um candidato extremamente frágil" ! Tudo isto por associação/ transfert, no sentido reichiano mais frenético.O Thomas Friedman e o Paul Krugman- com obra vasta publicada - não são ideólogos de coisa nenhuma, a não serem de combatentes pela liberdade e ética política intransigente, com elevação e bom gosto. Da extrema-esquerda norte-americana, conheço aquela galáxia em torno do Noam Chomski, traduzida em França pelas Editions Agone de Marselha. Há um controlo muito grande no domínio editorial dos dois lados do Atlântico. Claro, que em Paris na Parallèles( Livraria)se pode encontrar muita coisa. Ou via Internete, talvez!
Isso é que deve ser a nossa missão.Como o Almocreve das Petas o faz tão bem( parece que são de Coimbra?)e os potenciais-candidatos-a-celestiais-burocratas( Causa Nossa, por exemplo), o fazem mal, do meu ponto de vista. Contém comigo para a dança! FAR

Anónimo disse...

Achas que o Ignacio Ramonet passou a ser mais sério por publicar quase um livro por ano? Se consideras que a aferição da isenção ou não dos editorialistas tem a ver com o número de publicações, estamos falados. Continuamos a olhar para a rama e não para a árvore.

Não te estou a dar nomes de editorialistas mais ou menos sérios. Essa contabilidade fica para cada um. Apenas quis levantar um problema novo que tem a ver com a promiscuidade entre o mundo da politica e dos media. Que é real.

Os politicos estão-se nas tintas para as "guerras totais" dos jornais. Porque sabem que o rigor e a isenção está na base de qq noticia dada. Qt à opinião a coisa já é diferente. Mas a estória vende-se de muitas maneiras. Todos sabem disso e também a forma de o fazer.

Não te lembras dos jornalistas norte-americanos no Iraque, todos eles "muito isentos e muito profissionais", que faziam a cobertura a partir dos tanques que avançavam para Bagdad a proclamar que estavam orgulhosos por acompanharem as "suas" tropas que lutavam para tornar o Iraque democrático? Não foi á muito tempo. Muitos deles eram séniores, com muitos anos de tarimba. A mea culpa que fizeram depois tornou-os apenas mais humanos mas não mais sérios e isentos.

Anónimo disse...

Comparar o Ramonet, que fez uma equipe com Chomski et tutti quanti, e Paul Krugman ou T.Friedman é um bocado como comparar o VPValente ao Luís Delgado ou mesmo ao Vicente JS. As diferenças são abissais: estilo,perfomance,inteligência e audiência, claro. Krugman, que é mais novo do que nós, é o guru da U.de Princepton de Economia e os seus livros e artigos( estes bisemanais) são traduzidos e seguidos à escala mundial. Como dizia o Castoriadis, às vezes aprendesse mais com um historiador ou filósofo conservador- casos do Popper ou Schumpter- do que com os coriféus enquadrados em sucursais de ideologias em agonia. Vejamos o caso brilhante de VP Valente, hoje. Produziu nestes dias dois ou três textos mortíferos contra o projecto Cavaco Silva, a dois tempos.O último, "Quem quiser que escolha ", é absolutamente fantástico e superior. Krugman faz isso em relação à complicada realidade(s) políticas norte-americanas, bem secundado pela maioria da equipe de ouro do NYTimes e dos jornais e revistas da corrente de centro-esquerda USA, Los Angeles Times,New Yorker e Atlantic Review." A única realidade que existe concentra-se na escrita de livros e jornais", disse Jorge Luís Borges. FAR