segunda-feira, 12 de dezembro de 2005

As grandes manobras do ouro negro

O petróleo caro para sempre induz alterações políticas maiores no conjunto dos grandes países produtores- Irão, Iraque e Ásia Central, sobretudo-por efeito do investimento tecnológico necesssário nas infra-estruturas de extracção e transporte, primo, e pelo afluxo financeiro ganho na comercialização posterior via exportação. Trata-se, efectivamente, do maior meccano político e social das próximas décadas, com consequências geopolíticas incalculáveis para a manutenção dos mais variados tipos de regimes no poder actualmente. O NY Times abriu recentemente um debate e o grande politólogo francês, Alexandre Adler, publicou páginas decisivas sobre as grandes manobras do ouro negro, que acarretará pelo menos o enfraquecimento da aliança " populista e altaneira " da Arábia Saudita e da Venezuela; e, por alternativa, a consolidação do eixo turco-iraniano vital por laços confessionais evidentes.

O desenvolvimento " simbiótico e combinado " do mundo chiita- englobando o Irão, o conjunto caucasiano, a Ásia Central ( Azeiberjão e Cáspio) e o Iraque, a antiga rota da seda, despoleterá uma complementaridade total entre o " vasto mercado turco ligado à Europa e os trunfos energéticos do Irão", que colocarão Bruxelas como cliente privilegiado e porão a Rússia em continência para não subir preços e conter as ambições territoriais no Extremo-Oriente russo dos chineses ávidos de petróleo.

Portanto, a força negocial da Turquia é imensa e parece incontornável a sua entrada na UE a prazo, alterando todas as relações de força geopolíticas mundiais. No entanto, avisa Adler," a vitória arrepiante de Ahmadi-Nedjad na corrida presidencial iraniana rejeita, por algum tempo,o enquadramento indispensável entre a postura internacional e o equilibrio nacional do Irão ".O que pode agravar os equilibrios precários em todo o Médio Oriente e colocar o preço do barril de petróleo em 120 dólares fatais, e que confirmariam a aposta de Zgbiniew Brzezinski sobre o " arco da crise " médio-oriental como pesadelo maior e incontornável para o futuro do modelo democrático ocidental. Poutine anda à procura de sucessores e nacionalizou opacamente todas as empresas de energia. E Hu Jintao só deseja manter a economia aberta e a benéfica mundialização por acordo tácito com os neo-conservadores de Washington, à bout de souffle.

O colóquio do NY Times apontava esta súmula: " Vamos viver num mundo cada vez mais turbulento, em que depararemos, não só com golpes em termos de preços e volume energético, como, por outro lado, sofrendo das interacções entre o caos metereológico e os recursos energéticos- quer seja gelo numa linha de alta tensão de Ohio ou uma série de tornados no Golfo do México, por causa da tensão política no Médio Oriente ou pela preferência de Hugo Chavez pelo chinês em detrimento do inglês ". E, como nota curiosa, foi ventilada a hipótese do Iraque ter mais reservas de petróleo do que a Arábia Saudita.

FAR

2 comentários:

Anónimo disse...

Havia correcções a fazer: concordância do plural na linha 7- acarreterão-; na linha 2 acrescentar" diversos estados da "Ásia Central; na linha 13 Azerbeijão e Kazaqhistan ou páíses da borda do Cáspio. De qualquer modo, a ressaltar que o barril de ouro negro nunca mais desce dos 50/60 dólares, pelo menos;por fim, o facto de que a Rússia, a China e os próprios EUA entraram numa fase de poder cataónico-burocrático e oligárquico que pode legitimar toda e qualquer aventura anti-democrática dentro e fora das suas fronteiras e influência. Essas são as pistas angariadas no livro mais recente de A.Adler," Rendez-vous avec l´Islam ", Edit. Grasset, Nov. 2005. Ficam,portanto, ressalvadas as imperfeições. FAR

Anónimo disse...

Isto é um comentário verdadeiro: comentário do comentário. Insanity moral ao contrário. O texto é muito difícil e prende-se com apostas políticas maiores. Adler derivou das margens( e não bordas... ) do PCF para a redacção do Le Monde; e a seguir dirigiu durante uma década o Courrier Internationale. Os seus artigos- em parte publicados em livros- são peças brilhantes e extravagantes sobre o Estado do Mundo. De qualquer modo, o que assinala agora neste livro original, trata-se da mudança geopolítica maior anunciada pelos coriféus da Foreign Review, dos think tanks de Washington- liberais e conservadores- e dos sectores mais avançadaos da sociologia política mundial: O Pacífico- China, India, Japão- passou a ter a iniciativa política mundial, em acelarado e imparável. FAR