quarta-feira, 28 de dezembro de 2005

O melhor da entrevista de Cavaco Silva ao Jornal de Notícias:

(Publicado por Ricardo Alves no Esquerda Republicana)

A mentirinha inocente sobre a decisão de se candidatar: «Foi um mergulho súbito para o que, confesso, não estava lá muito bem preparado. (...) Foi um mergulho sem preparação.»

A promessa de ser implacável com Sócrates: «A primeira tarefa que gostaria de realizar era uma conversa longa com o primeiro-ministro.»

A ameaça de modificar o regime na sua vertente simbólica: «A primeira cerimónia a que o próximo presidente vai presidir será a comemoração do 25 de Abril. O que diria para lembrar essa data?-Ainda não pensei nisso. No passado, assisti a discussões e até a desejos de se modificar a cerimónia do 25 de Abril».

O desejo de mandar em todos os sectores da política económica, até aos mais ínfimos detalhes: «Vai usar até à exaustão o poder da palavra?-Ai isso vou. Vou falar. Uma palavra-chave para mim é cooperação. Há aí candidatos que estão nervosos por eu dizer que vou cooperar com o Governo, mas até digo mais, alargarei esses estímulos e contactos à sociedade. Por exemplo, preocupam-me muito os nossos têxteis e calçado. Tenho dito, e continuarei a dizer que é uma ilusão pensar em substituir, de um momento para o outro, os têxteis por indústrias tecnologicamente avançadas. Este sector tem de ser apoiado na direcção da qualidade, na marca».

A vontade de desenhar o organigrama do Governo: «Podia existir um responsável do Governo que fizesse a lista de todas as empresas estrangeiras em Portugal e, de vez em quando, fosse falar com cada uma delas para tentar indagar sobre problemas com que se deparam e para antecipar algum desejo dessas empresas se irem embora, para assim o Governo tentar ajudá-las a inverter essas motivações. Tem de ser um acompanhamento com algum pormenor que deveria ser feito por um secretário de Estado especialmente dedicado a essa tarefa.Vai propor isso ao Governo?-Já o estou a propor aqui.»

A interpretação maximalista dos poderes presidenciais, exigindo poderes legislativos para o Presidente: «Admite sugerir legislação ao primeiro-ministro?-Nas conversações com o primeiro-ministro, se entender que existe um domínio que carece de uma lei ou que tem legislação em excesso posso trocar impressões com ele. (...) O presidente pode sugerir intervenção legislativa nalgumas áreas.»

6 comentários:

Anónimo disse...

Tudo leva a crer que Aníbal Cavaco Silva padece de sintomas emergentes de peste emocional, altamente perigosos." O indivíduo atingido pela peste emocional distingue-se do normal pelo facto de que as suas exigências e máximas, não se referem a ele próprio; mas, em primeiro lugar e sobretudo, ao que o cerca. Enquanto o indivíduo normal se contenta em aconselhar e ajudar, de viver a sua vida deixando aos outros a opção livre, o empestado impõe aos outros o seu estilo de vida- pela força ", W. Reich , Analise Caracterial.trad. francesa, págs.434/435. Nada está perdido e Soares pode relançar um projecto de renovação político. O " novato " Berlusconi está por um fio, tendo contribuído com a sua demagogia/ vampirismo e ultra-liberalismo para a reconstrução da esquerda italiana, em tempo record.Aliàs, faltam artistas na campanha, estilo Roberto Begnini( A vida é bela...), Sabina Guzzanti e Adriano Celentano.Avanti! FAR

Anónimo disse...

As estórias mal contadas por Aníbal Cavaco Silva. Nem de propósito, hoje, na edição do " Libération",está imprimida a odisseia de uma fábrica de linho francesa, modelo mundial. Há 13 anos, sentindo a concorrência- primo italiana no sector- a direcção resolveu deslocalizar. Há 13 anos, procurando nos países de Leste um local de implantação . Os custos de produção eram incomportáveis em França.E os ateliers n Rússia ou China muito grandes, além da Lei flutuante e mafiosa. A mudança realiza-se em 1998, restando só 80qudros em França de apoio comercial.O salário médio na Polónia rasa os 210 Euros, enquanto na China ronda os 130.Não há sindicatos e a " flexibilidade " polaca apoia-se nos impostos fracos e nas leis liberticidas do trabalho, com pré-aviso de despedimento fixado em apenas 15 dias. O fim das quotas das importações chinesas criou , de imediato, a supressão de 200 empregados e uma redução explosiva de 30 por cento no volume de negócios.Bom estratego, o empresário francês visita os ateliers dos seus concorrentes pelo Mundo fora:os chineses em cinco anos aumentaram 800 por cento a sua produção e compram máquinas último grito, além de contratarem técnicos italianos. Cavaco Silva quer salvar os sapatos e o têxtil. Chega tarde e a más horas. Aliàs, Jacques Delors avisou-o: fundos estruturais mal investidos criam efeitos perversos e regressivos na economia. Isso foi há 20 anos.FAR

Anónimo disse...

O Ilusionista e o seu contrário- Por Friedrich Nietzsche

" O que espanta na ciência é o contrário que nos fascina na arte do ilusionista. Um quer nos levar a ver uma causalidade muito simples, lá, onde se joga em realidade uma causalidade muito complicada. A ciência obriga-nos pelo contrário a abandonar a crença em causalidades simples, precisamente, lá, onde tudo parece tão fácil a ser entendido,e em que somos enganados pela aparência. As coisas" as mais simples" são muito complicadas- não cessamos de ficar espantados com isso ".
Copyright by FAR, " Aurore ", edition Colli & Montinari, Gallimard.

Anónimo disse...

Estranho, este FAR que fala consigo próprio a toda a hora. Que é que ele quer?

Anónimo disse...

Os cavaquistas atacam anonimamente defendendo, como diria Michael Bakounine,a " imolação sistemática e perpétua dos interesses materiais de todos aos interesses exclusivos de um só punhado ". Mostre a cara de escravo, mister! FAR

Anónimo disse...

Não se limpam as armas enquanto há guerra- Enviei o texto sobre a fábrica francesa de Linho, líder mundial antes da chegada dos chineses, para o blogue SuperMário, com a indicacao do blogue do Armando&Carapinha and others.A luta continua! FAR