quarta-feira, 14 de dezembro de 2005

Sumo do cajueiro de Carlos Cardoso

É um nome apelativo: Mártires da Machava. É um destino que não se constrói: Metical. Há um nome que faz cruzamento entre a Mártires da Machava e o Metical. É uma tragédia em três actos: cajueiros e indústrias de caju, falcatruas nos bancos e um homem que foi assassinado na Mártires da Machava por ser mártir das suas próprias convicções. Avenida Mártires da Machava, 22 de Novembro, cajueiros, e uma legenda que diz assim: “Jornalistas, não nos acobardemos”. O que é que significa não nos acobardarmos? Porque, no fundo, não é o Carlos Cardoso sozinho. Há o Raul Zunguza, morto por ter dito que a Operação Produção era uma estupidez. E o governador residente, nessa altura, em Niassa, era o poeta, Sérgio Vieira. E o Abel Faife? E o Joca Santos? E o Zeca? Quando a televisão ainda era experimental (TVE).
A ÚNICA COISA que respeito na memória do Carlos Cardoso é o cajueiro, que alguém se lembrou de plantar na Avenida Mártires da Machava, onde, num princípio de noite de 22 de Novembro, ele foi assassinado.
O MECÂNICO DIZ QUE NÃO FUI EU. A da Cossa diz que também não fui eu. O Escurinho diz assim: escuro eu? Eu sou castanho.
O QUE É IMPORTANTE é que o Cardoso lutou pela soberania do caju, do Metical, da vida, dos bigodes, da barba e do consumo racional da soruma. Para uma pessoa que pensa, com pensamento de um gerente de uma padaria, isso é grave. Ou seja: defender a liberdade é crime.
NAQUELE LUGAR alguém plantou um cajueiro. Coisa generosa. O cajueiro do Cardoso, do nosso sangue, da nossa pobreza (pobreza do bolso porque cérebro temos bué), o cajueiro está florido e se ele quiser, daqui a dois meses, vamos beber sumo de caju na Mártires da Machava...
A OUVIR TIMBILA...
A VER A ISABEL CASIMIRO, amiga, amiga, a Nina Berg, viúva mas não desconsolada, a Milena Cardoso, de capucho na cabeça...
E O EDUARDO CONSTANTINO, secretário-geral do Sindicato Nacional de Jornalistas, em posse de discurso. Desde quando é que um sindicalista usa fato de linho, põe as mãos em cima do casaco e faz discurso com um cartaz ao fundo que diz: jornalistas, não nos acobardemos. Veja-se. Quem está atrás do dito cujo? O modesto e íntegro editor do jornal SAVANA, Fernando Gonçalves. Putz...
E O CARDOSO? Barbudo, defensor oficioso do uso da THC, não como marijuana para ser consumida, mas como matéria-prima para fazer calças, jeans para os povos pobres, deste planeta todo.
Ou seja: de ti, brother.
Vê lá a cara do Cardoso: Soruma? Eu nunca fumei....
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Fernando Manuel
In "SAVANA, semanário independente", Maputo 09.12.2005

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