domingo, 25 de dezembro de 2005

A melhor prenda de Natal

Uns vão bem e outros mal

Senhoras e meus senhores, façam roda por favor
Senhoras e meus senhores, façam roda por favor, cada um com o seu par
Aqui não há desamores, se é tudo trabalhador o baile vai começar
Senhoras e meus senhores, batam certos os pézinhos, como bate este tambor
Não queremos cá opressores, se estivermos bem juntinhos, vai-se embora o mandador
Vai-se embora o mandador

Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

De velhas casas vazias, palácios abandonados, os pobres fizeram lares
Mas agora todos os dias, os polícias bem armados desocupam os andares
Para que servem essas casas, a não ser para o senhorio viver da especulação
Quem governa faz tábua rasa, mas lamenta com fastio a crise da habitação
E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal

Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

Tanta gente sem trabalho, não tem pão nem tem sardinha e nem tem onde morar
Do frio faz agasalho, que a gente está tão magrinha da fome que anda a rapar
O governo dá solução, manda os pobres emigrar, e os emigrantes que regressaram
Mas com tanto desemprego, os ricos podem voltar porque nunca trabalharam
E assim se faz Portugal, uns vão bem e outros mal

Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

E como pode outro alguém, tendo interesses tão diferentes, governar trabalhadores
Se aquele que vive bem, vivendo dos seus serventes, tem diferentes valores
Não nos venham com cantigas, não cantamos para esquecer, nós cantamos para lembrar
Que só muda esta vida, quando tiver o poder o que vive a trabalhar
Segura bem o teu par, que o baile vai terminar

Faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres, faz lá como tu quiseres
Folha seca cai ao chão, folha seca cai ao chão
Eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres, eu não quero o que tu queres,
Que eu sou doutra condição, que eu sou doutra condição

Fausto, Madrugada dos Trapeiros, 1978

(poema oviamente desactualizado e sem qualquer relação com o mundo actual. Só compreensível por suadosistas, frustrados, gente pouco realizada, idealistas ultrapassados, falhados mesmo. Mas dedicado a estes amigos)

O post abaixo é a prova que a Esquerda não tem Futuro:

5 comentários:

André Carapinha disse...

É só clicar no título da música para ouvir o Fausto a malhar na burguesia.

Madalena disse...

Feliz Natal!(A gente com a idade fica assim, meio triste por não ser capaz de resolver os problemas dos homens! A mim acontece-me e só espero que passe com mais idade!!!)

Anónimo disse...

obrigada por mais esta prenda tão especial!
beijos

Anónimo disse...

A Esquerda pode não ter nem pequeno nem grande futuro mas será que a direita e os partidos ao centro o têm?

Anónimo disse...

Andei a matutar no Post-Scriptum dias a fio. Estive na montanha. Andei a reler Nietzsche e Alexandre Adler, o tal geopolitólogo judeu, que aposta na dinâmica positiva do chiismo iraniano-turco como solução para os problemas do Médio Oriente e da Eurásia. Donde se perspectiva que as soluções de Cavaco Silva não têm futuro,como é evidente. De Portugal, uma amiga maçónica atribui a escolha problemática de Soares a uma rasteita do inefável Marcelo Rebelo de Sousa. André Carapinha,por favor, não desanime e concorra para o combate da liberdade total. Please. FAR