sábado, 10 de dezembro de 2005

Presidenciais: o fim do lume brando

Foi um debate mais animado do que os outros. Francisco Louçã esteve claramente ao ataque e obrigou Cavaco Silva a ter de se justificar várias vezes. Pela primeira vez vi alguma dinâmica num debate vinda do lado dos candidatos. Mais propriamente de um. Foi notório que para isso acontecer, Louçã teve de quebrar o espartilho imposto pelos três canais televisivos. Penso estar provado que o estilo norte-americano, que os três directores de informação consideram o supra-sumo da batata frita, falhou. E joga a favor de Cavaco, uma vez que a sua estratégia é falar o menos possível e evitar polémicas. Um debate a dois não são, nem podem ser, duas entrevistas paralelas, como tem sido até agora. Os candidatos devem questionar-se entre si. Afinal, são apenas dois, bolas. Se fossem cinco ainda se compreendia que fosse mais difícil de gerir. O emprego, ou a falta dele, foi um dos temas fortes. Cavaco admitiu que houve uma maior flexibilização nos despedimentos durante os seus governos. Essas medidas posibilitaram, no entanto, a criação de mais empregos. Mas não conseguiu explicar a Louça porque é que o actual director da sua campanha defende a liberalização total dos despedimentos. Para o líder do Bloco de Esquerda, foram as políticas erradas dos governos de Cavaco Silva que aumentaram o fosso entre ricos e pobres. E lembrou que a média do défice dos seus dez anos de governo foi de 5,7%. Just for the record. Cavaco considerou as críticas injustas. Quanto à subida da idade da reforma, Louçã manifestou-se contra. Já Cavaco deixou a possibilidade em aberto, caso a esperança de vida aumente para os 80-85 anos. Esta linha de pensamento vai ao encontro das suas declarações feitas ao Público em Março de 2002, quanto à redução dos funcionários públicos: ”como nos vamos livrar deles? Reformá-los não resolve, porque deixam de descontar para a Caixa Geral de Aposentações e diminui as receitas de IRS. Só resta esperar que acabem por morrer".

2 comentários:

Anónimo disse...

Quem não viu o debate em directo ou a repetição na SIC Noticias, vá ao site da TVI. Está on-line.
António Oliveira

Anónimo disse...

Bom comentário. O problema maior é de que Louça entrou pela porta grande do sistema. E enfraqueceu uma hipótese mesmo remota de alternativa global ao sistema oligárquico-elitista acarinhado desde 1986 por Cavaco, conforme A. O. há semanas o tinha plenamente demonstrado. Não gostei nada da cara contrita e do sorriso amarelo do Anibal, a descobrir uma perversidade muito grande, malgré lui. O que agrava ainda mais as coisas. FAR