Faz hoje 31 anos que foi assinado o acordo de Lusaka entre Portugal e a FRELIMO. As conversações que decorreram entre 5 e 7 de Setembro de 1974, prepararam o processo de descolonização, e fixaram a independência para 25 de Junho de 1975.Desde o dia 5 de Setembro que Lourenço Marques era palco de diversas manifestações de apoio à FRELIMO. No estádio da Machava, as negociações eram acompanhadas por milhares de pessoas em clima de festa. Era um comício contínuo. Foi organizado por sectores ligados à Frelimo, e apoiado por grupos de esquerda da capital, tais como os Democratas de Moçambique, o LEMA e a Associação Académica de Moçambique. Mas, à direita, as posições extremavam-se e tentavam travar o processo que conduziria Moçambique à independência. Muitos que não concordavam com o rumo que estava a levar a história, tentavam uma solução tipo Rodésia. A 7 de Setembro de 1974, adeptos do FICO, militares portugueses, muitos brancos e alguns negros ocuparam no Rádio Clube de Moçambique. Auto-denominavam-se Movimento Moçambique Livre, e atribuíam a sua revolta directa ao arrastar pelo chão de um bandeira portuguesa na baixa da cidade por simpatizantes da Frelimo. Mas, em causa, estava mesmo o acordo de Lusaka e a inevitabilidade da independência a 25 de Junho. Uma enorme multidão concentrou-se em frente à RCM. Foi o começo de 4 dias de conflitos. Um grupo de revoltosos assaltou a Penitenciária, e libertou todos os presos. Entre eles estavam vários agentes da PIDE/DGS. Alguns grupos chegaram mesmo a controlar os CTT e o Aeroporto. Em Lourenço Marques, a única cidade onde se registaram incidentes, o saldo foi trágico. Os confrontos e ataques entre os revoltosos e os apoiantes da Frelimo causaram um número indeterminado de mortos. Não há números certos, mas poderão ter morrido entre 300 a 1.500 pessoas.
Em Lusaka, as delegações de Portugal e da FRELIMO mantiveram o acordo. A 12 de Setembro chegou a Lourenço Marques o Alto-Comissário português, Vítor Crespo, e no dia seguinte, pisaram o solo da capital os dirigentes da Frelimo que iriam integrar o Governo de Transição. A tomada de posse ocorreu a 21 Outubro. Tinha como Primeiro-ministro Joaquim Chissano.
Estes são os factos. Se os viveu nesta altura em Moçambique, conte-nos a sua experiência na primeira pessoa. Se não, diga o que pensa sobre tudo isto.
13 comentários:
António Oliveira: li hoje o seu post, que está neste momento «linkado» para outro do mesmo teor que ontem inseri no meu blogue [Da Literatura]. Já não me lembrava do assalto à cadeia, nem do pretexto da bandeira «arrastada». Foi minha intenção chamar a atenção para o descaso da nossa historiografia relativamente a factos ocorridos nas ex-Colónias. Saudações laurentinas, Eduardo Pitta.
António
Eu estava em Lisboa, saboreando a recente e magnífica liberdade... mas como a vida me levou para Maputo em 1977 (onde passei sete anos) tenho sempre muita curiosidade sobre estes acontecimentos... muito apropriada a lembrança!
aquele abraço. Ivone
O que vale ter no blog alguém sempre bem informado e com sentido de oportunidade. Enfim, um jornalista com todas as letras.
Eu estava na Ponta do Ouro.Bebiamos uns copos no bar do Motel.Um bando (de brancos como eu) armado de metralhadoras e bandeiras portuguesas,rompeu,triunfante,bar adentro.Eles aí estavam,dispostos a tudo para que a História que acontecia em Lusaka não fosse escrita.
Lusaka consagrava o direito (INALIENÁVEL) de Moçambique à independência e,já num plano pessoal,algumas das minhas utopias.
A independência aconteceu.Com ela vieram,tambem,os amanhãs que cantavam.Rápida e meticulosamente foram sendo calados.
As utopias,permanecem no meu imaginário.
Decididamente, voto no Manuel Fernandes!
Ivone
Vamos reforçar de novo a candidatura do Manuel Fernandes à Presidência. Manuel Fernandes ao Palácio da Ponta Vermelha.
Vilarinho ao Hotel Polana Já! Com todas as serventias, é claro. Esta tomada de posição é para verem como ele é desapegado ao poder.
Uma alma simples, do povo, bem educado, que serve primeiro às ladies um copo de vinho e depois acaba a garrafa bebendo pelo gargalo. Como um verdadeiro macho!
Já não homens assim. É uma pessoa verdadeiramente presidenciavel...
Post patrocinado por Vinana, o vinho de ananáz genuíno. Sem misturas. Vinana, that's the one!
No dia 7 de Setembro, estava eu a fazer as malas para partir para a Beira.
Tinha feito duas directas a fazer cópias na reprografia da faculadde de Medicina, depois dos assucias terem saído. Os gajos da Associação eram um susto, na altura. Uma cambada de revisas.
Devem imaginar o destaque do panfleto, porque eu já não me lembro. Mas de certeza que era Independência Já! As passas rolavam a uma velocidade louca. Hoje penso que era uma forma nos pôr a trabalhar mais depressa. Tudo por cima do Lipoperdur. Por certo, quem fez isso era um infiltrado da 4ª internacional.
Entre 5 e 7 de Setembro a rotina era Machava de dia e rotativa à noite. Coisas de clandestinos, you know what I mean?
A 8 de Setembro, já na Beira, apanhei uma desilusão. Muita malta do liceu que tinha estado a fazer greve andava nas ruas em manifestações pró-FICO. Um completo bring down. Aí decidimos cortar com os Lipos e aumentar as Bums.
A história cumpriu-se como devia. O Homem Novo caiu de podre. O Lipo desapareceu do mercado. As gajas já não me querem, dizem que sou cota. Que mais me irá acontecer?
Um vosso servidor
Kubrik, um cowboy desistente.
Estão a esquecer-se do Preludin, se me dão licença. O curriculum histórico deve ser respeitado, com as bulas integrais.
Se a memória não me falha, depois de assistir, com amigos sempre vigilantes, a manifestações várias,refugiámo-nos em casa dos meus pais. Estavam o João Murinello, o Tonecas Figueira, a Patrícia e, perdoem-me, eramos mais, mas tudo aquilo foi traumático. Recalquei!
Contem!
Caro Carlos Gil,
Votei no Otelo. O lema era: Queres prelu, vota Otelo.
Estou arrependido. Mas, as anfetaminas nunca mais foram as mesmas.
Assalto à Penitenciária - Alguem se lembra de quem foram os intervenientes? E quem foram os libertados ?
A 7 de Setembro de 1974, morria o Moçambique Colonial-Fascista ( o que achei certo ), mas a 25 de Junho de 1975, infelizmente para os Moçambicanos, nasceu o Moçambique Tropical-Estalinista ( enfim ) ...
"A tomada de posse ocorreu a 21 Outubro. Tinha como Primeiro-ministro Joaquim Chissano."
Tardiamente, porque só li agora: errado. O Governo de Transição, controlado directamente pela Frelimo, tomou posse no dia 20 de Setembro de 1974. Essa considero a data efectiva da independência de Moçambique e não 25 de Junho de 1975, em que se procedeu às merasformalidades do arrear da bandeira e despacho do Alto Comissário.
ABM
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