José Manuel Fernandes, o nosso neo-con de estimação, insurgia-se, em editorial públicado no PÚBLICO sábado passado, contra a destruição das sinagogas em Gaza pelos palestinianos em fúria. Um dos argumentos preferidos de JMF, à boa maneira neo-con, tem sido justamente o de que Israel representará a "civilização" contra terroristas como o Hamas ou a Jihad. Assim, entre outras objecções, JMF comparava a destruição das sinagogas com a suposta situação das mesquitas em Israel onde supostamente os muçulmanos israelitas poderiam rezar sempre que lhes apetecesse, assim invectivando os palestinianos de bárbaros e perguntando onde estão agora os defensores dos direitos humanos que apoiam a causa da Palestina. Para azar de JMF, hoje, no seu próprio jornal, uma reportagem de Alexandra Lucas Coelho dá a resposta sobre a suposta tolerância dos israelitas: ficamos a saber que «das cerca de 140 mesquitas de aldeias abandonadas (a mesma situação das sinagogas dos colonatos abandonados), cerca de cem foram completamente destruídas. As restantes estão em avançado estado de colapso ou negligência, ou são usadas pelos residentes para outros fins, como armazéns ou restaurantes». Alexandra Lucas Coelho oferece-nos mais uma excelente reportagem, onde ficamos a saber que a opinião de JMF é mais radical que a opinião da generalidade da imprensa israelita (incluindo a de direita). O Ha'aretz (esquerda) escreve em editorial: «A maior parte dos membros do Governo tinha medo de ser vista como tendo ido contra os rabis. Preferiram culpar os palestinianos». No Ma'ariv (direita), Dan Margalit escreve: «Num embaraçoso gesto populista (o ministro da Defesa Shaul Mofaz) rejeitou a visão do aparelho de segurança, que tinha explicado a todo o mundo que era um dever demolir as sinagogas». Também o rabi Avi Acherman, da organização Rabis pelos Direitos Humanos, diz à enviada do PÚBLICO: «Segundo a tradição judaica, não há santidade depois de os rolos da Tora terem sido levados (...) Houve aqui manipulação política: algumas destas sinagogas foram feitas depois de serem anunciados os planos de retirada». Para rematar, o ex-presidente da Câmara de Jerusalém, Meron Benvenisti, escreve no Ha'aretz a lição que JMF ainda não percebeu: «A história da luta nos lugares santos não é uma guerra entre os judeus filhos da luz e os palestinianos filhos das trevas, mas a história de uma guerra em que ambos os lados cometeram actos bárbaros aos lugares santos um do outro». Com a diferença que uns têm um estado e outros não, acrescentamos nós.
3 comentários:
Mas se não há judeus na Faixa de Gaza para é que são precisas as sinagogas?
Como não podem ser aproveitadas para nada, porque Alá não deixa -- e Yavé, pelo que se lê, também não -- talvez só mantê-las para servirem de prisões de israelitas capturados na próxima guerra.
Já sei que a questão remete para o simbólico, nhã, nhã, nhã... .
Isso é folclores, dizem as lideranças mundiais e nacionais:
"Temos de ser pragmáticos"
Caro Surfista, que eu saiba, só a esquerda israelita, e raras excepções de direita, defendem a independência da Palestina. O que há a concluir daqui? Não sei, conclua v.
(nas raras excepções de direita devemos incluir as raras excepções do Labour. Esquerda em Israel só o Me'eretz)
Acho que vai haver uma manif de brasileiras no Rio para provar que não é em Israel que se encontra «o maior número de mulheres muito bonitas e muito interessantes por metro quadrado, do mundo.»
Mas fontes igualmente bem informadas dizem que "a créme de la créme" são as árabes-israelitas e o supra-sumo as israelo-árabes.
A questão é só uma e mais nada: o "status quo" favorece prodigiosamente Interesses (com maiúscula) poderosíssimos em "n elevado a n" de países.
Tentemos imaginar o Mundo sem a guerra israelo-árabe...
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